Paulo 02/09/2022
Segunda leitura do box com três livros sobre o estoicismo da Edipro.
Quanto à edição:
Não foi explicado o que exatamente são os livros em que os aforismos estão divididos, quero dizer, Marco Aurélio escreveu as meditações em cadernos (ou o que fossem) distintos? Ou ele próprio separou os textos em livros mesmo que os escrevendo nos mesmos materiais?
A primeira nota de rodapé diz que não há enumeração dos primeiros parágrafos na versão do texto no qual a edição se baseia, mas não especificou se isso é em relação ao primeiro livro ou a todos. Claro que isso faz pouca diferença na leitura, mas pergunto como pessoa detalhista.
Achei graça das notas de rodapé 36 e 38, essa última diz sobre o filho de M. Aurélio: "(...) de certo um péssimo filho."
Quanto ao conteúdo:
No livro II é onde achei, à princípio, que está mais explícita a filosofia estóica de Epiteto, quase sendo ele citado.
No aforismo 11 do Livro II, Marco Aurélio demonstra que a resignação estóica se deve também ao "fato" de que os deuses cuidam de nós e que impedem males maiores e reais, e que os infortúnios (palavra minha) acontecem indistintamente a todos, e que não são coisas boas nem ruins. Achei isso conveniente como qualquer crença. A diferença hoje está no monoteísmo e que coisas ruins são coisas ruins, mas, ainda assim, por qualquer motivo, desígnios de deus. Ironicamente, nessa passagem, Marco Aurélio parece quase perpassar pelo Paradoxo de Epicuro.
Na perspectiva de Marco Aurélio dessa corrente, há, para o leitor, uma menor aparência tanto de egoísmo como de uma total resignação passiva em relação a tudo, pois são muitas as passagens em que ele apregoa a instrução dos ditos ignorantes, bem como compaixão para com eles, e um onipresente senso comunitário, em que todas (?) as ações devem ter um propósito benéfico a toda a comunidade. Há certo trecho em que se entende que apenas devemos nos preocupar com ações etc. alheias quando elas afetam a comunidade. No aforismo 7 do Livro III ele não se refere ao ser humano (na obra e na época ainda há uma perspectiva misógina mesmo quando não se diz "homem") apenas como racional, como faz durante toda a obra, mas acrescenta a palavra "social", "(...) ser vivo racional e social."
É irônico quando ele fala que algo não é melhor nem pior por ser louvado e dos nomes que serão esquecidos, apesar de que essa segunda observação está relacionada à primeira, mas irônico porque não seriam obras como essa importantes e boas para os seres humanos e as sociedades?
No aforismo 17 do livro IV, quando ele opina sobre viver a vida, que você não vai "viver 10 mil anos", que é curta, cuja "fatalidade está no seu encalço ", juntando isso a toda sua perspectiva, é como uma espécie de carpe diem estóico, uma espécie de carpe diem moderado, racional, sem extremos, sem se entregar às emoções positivas ou negativas, incluindo os prazeres.
Por fim, e pessoalmente, acho o estoicismo, no geral, uma transformadora perspectiva de vida e, portanto, grande inspiração para se viver melhor.