spoiler visualizarAndressa 16/08/2020
O viajante da eternidade
O Eternauta conta a história de Juan Salvo, um homem que vem do futuro apocalíptico de uma invasão alienígena e acaba por narrar os eventos ocorridos depois da invasão para um escritor.
Com roteiro de Oesterheld - vítima da ditadura argentina - e ilustrada por Solano López, é uma história trágica mas também de resistência.
Levanta também questões muito interessantes sobre isolamento e sociabilidade, o cotidiano permeado de pequenas relações, amizades e encontros que diminuem a solidão absoluta sentida no isolamento forçado e no cenário opressivo contra o qual lutam, empreendendo uma resistência decidida porém diminuta comparada à força organizada e gigantesca do opressor.
O pensamento científico e analítico é destacado como vital para a sobrevivência, o que também força a reflexão sobre a importância do conhecimento e a necessidade de ir ao fundo da investigação, não se contentando com alvos fáceis e ilusórios, uma lição que precisamos aprender como sociedade.
Um dos fatores mais interessantes da história é que eles nunca chegam a encontrar os mandantes da invasão: só tem contato com outras raças colonizadas, e uma das minhas passagens favoritas é quando um dos personagens se recusa a deixar um dos invasores morrer em um túnel, reconhecendo que ele não era o inimigo real, mas sim, apenas outro explorado.
É um livro que nos trás o melhor da ficção científica em uma narrativa que, embora arrastada e repetitiva em alguns momentos, ainda assim prende a atenção até o fim e provoca questões incômodas, mas também um paradoxal alento: enquanto houver espírito, existe luta.