Lane 09/10/2012The Prince Of MidnightEste livro tem uma premissa que apresenta um caráter próprio que inverte um pouco a maioria das regras dos romances normais. A narrativa é quase toda sob o prisma do olhar do mocinho.
Geralmente os mocinhos são aqueles homens de tirarem o fôlego e que resistem até o último segundo para declararem o seu amor para a mocinha, porém neste livro isso não ocorre. O enredo também é diferente, com a inserção de alguns elementos diferenciados.
Este é o segundo livro que leio da Laura Kinsale e confesso: se eu escrevesse, eu gostaria de escrever como ela [inveja branca total!].
A história tem um ritmo rápido, algumas vezes um pouco arrastado em alguns trechos, porém bem interessante.
Laura Kinsale tem a habilidade de comunicar o leitor com a história, sua escrita é abastada em detalhes ricos que envolvem o coração e produzem um efeito emocional bastante forte. Gradualmente vamos construindo as imagens em nossas mentes sem nenhum esforço.
Seus personagens são caracterizados de maneira bem peculiar, eles são profundos e imperfeitos, de certo modo quase reais. A autora é capaz de extrair da experiência de suas cicatrizes e quebrar nosso coração simplesmente por delinear suas trajetórias de vidas. Teve uma cena neste livro que eu quase chorei!
Entretanto tenho que reconhecer que depois que li “Flores na Tempestade”, eu conheço o potencial da autora e sei do que ela é capaz de fazer, e esta história apesar de ser coerente e convincente, apresentou situações a meu ver um pouco insubstanciais que não chegaram a comprometer o meu interesse na trama.
Lady Leight Strachen é uma moça que saiu de sua cidade natal, vestida de homem em busca de justiça por causa da destruição brutal e do assassinato de toda a sua família. Ela atravessa metade do seu país e metade da França para encontrar um lendário homem que ela acredita ser a única pessoa que possa ajudá-la em concretizar seus objetivos.
Este homem é “Le Signeur Du Minuit = O Senhor da Meia Noite”.
Sófocles Trafalgar (misericórdia, coitado!) Maitland – ainda bem que ele usa as iniciais do nome ST – é um assaltante aposentado mascarado que vive recluso, num castelo protegido por desfiladeiros e montanhas, em um lugar onde quase ninguém consegue encontrar e nem quer morar. Ele convive apenas com seu lobo – Nemo – e se dedica exclusivamente a pintura de telas e esculturas.
ST decidiu viver desta maneira após sofrer um acidente envolvendo uma explosão que o deixou parcialmente surdo. Em meio a sua surdez parcial que consequentemente o fez perder também seu equilíbrio acrescentando ainda a este infeliz infortúnio, que de tempos em tempos é brindado com fortes dores de cabeça e náuseas e a constatação de não conseguir mais montar.
ST é um homem procurado por toda a Inglaterra sob acusação de roubo o que fortalece ainda mais sua convicção de permanecer oculto, mas Leight quer que ele a ensine a lutar com a espada e a montar, contudo seus planos desabam quando ela vê que ele não consegue nem andar em linha reta.
Leight é uma pessoa amarga pela dor, seu coração é uma pedra de gelo e ela só pensa em vingança. ST é um homem solitário, porém muito romântico, ele é um sedutor nato além de muito charmoso e acaba se sensibilizando por ela e, com efeito, se apaixonando.
Só que Leight é uma menina – não é específico no livro, mas creio que a idade dela é entre 17 e 18 anos e ST tem 33 anos – abalada pela tragédia da perda dos seus o que compromete sua visão sobre o amor.
Precocemente ST declara seu amor pra ela e após sua declaração percebe o quanto que ela tem medo da dor de tanto que esta mergulhada dentro dela.
Leight desacreditada de qualquer sentimento benevolente e receosa de sofrer, lida com os sentimentos de ST da maneira mais rude possível. Ela zomba e o humilha desprezando sua confissão, fazendo-o parecer inútil e o colocando sempre pra baixo.
A primeira vez que eles ficam juntos – Leight não é virgem – ele se sente “sujo” depois, isto é bem diferente do que eu estou acostumada a ler nesta categoria de romances, e Leight não vira uma mocinha “bobinha cheia de sonhos”, ela permanece fiel aos seus objetivos sem desviar em nada.
Contrariando a todas as probabilidades, ST se une a ela porque sabe que ela está ferida e que precisa se vingar. Ele fica determinado a protege - lá e a provar pra ela seu engano de que ele não é nenhum inútil.
A história tem uma boa dose de carga dramática, porque ST por ser homem, e o tempo em que se passa a história isso era ter que provar o tempo todo que não dependia de ninguém, assume riscos cada vez maiores apenas para provar seu amor a Leiht. Ele sente o tempo inteiro pena de si mesmo por causa da sua “deformidade”, e eu ficava irritada com a Leight porque ela só se baseava no que ela achava e não no que ele dizia ou fazia pra ela para provar seu amor.
Confesso que isso me fez tomar antipatia por ela por nunca ser honesta com ele e isso foi umas das situações insubstanciais pra mim. Eu achei que a incapacidade dos protagonistas de se comunicarem desperdiçou um tempo demasiadamente longo na angústia um do outro ocasionando a perda de um pouco de qualidade da história.
Mas a história aborda outros temas que enriqueceram bastante a leitura que eu até classifiquei como sendo “intensa”.
A interação que ST tem com os animais é brilhante, ele é um adestrador por natureza. Na trama, além dele ter um lobo domesticado [oi?], ele adestra dois cavalos – Mistral e Siroco – maltratados, e um, ele até ensina Leight a domar o mais castigado deles. A cena com ela domando o cavalo é de uma sutileza e sensibilidade marcante, simplesmente linda!
Reflexiva é a minha definição da outra temática abordada no livro, o que me fez analisar o quanto o pensamento de alguém pode ser distorcido por todo um grupo levando as pessoas a cometerem ações estúpidas cada vez maiores.
Jamie Chilton é o homem que Leight quer matar, ele é o reverendo da sua cidade natal e o responsável por ter matado sua família.
Chilton conseguiu convencer todas as pessoas da cidade através de trapaças e muito carisma que ele tinha contato direto com Deus. Seus seguidores são a maioria constituída por mulheres e uma pouquíssima parcela de homens. Esta é outra situação que insubstancial na trama, achei improvável que a única pessoa a procurar justiça depois de todas as arbitrariedades cometidas pelo Chilton fosse só a Leight.
Não obstante, eu gostei do final do vilão, entretanto não ficou explicado/concluído o que aconteceu depois com a cidade.
Algumas características na história, no seu enredo e aspectos dos personagens, eu considerei como sendo clássicas da autora – a maioria dos autores possui um perfil básico que desenvolvem suas histórias- contudo, não posso me basear porque este é o segundo livro que leio da autora.
Os seus personagens se transformam em suas tramas e algumas cenas deste livro fizeram-me apreciar bastante a leitura, como uma em que Leight dá uns tapas em Pomba da Paz, uma seguidora do Chilton.
O The Prince Of Midnight tem um enredo diferente, personagens profundos, faltou algumas coisas que eu queria ter visto na trama (como uma luta de espadas, #adoro) e algumas situações insubstanciais, entretanto o romance é bem melhor que muitos que já li por aí. Laura Kinsale simplesmente tem a capacidade de me fazer suspirar quanto termino a leitura de seus livros.
Recomendo com certeza!
Avaliei com 4 estrelas.