Cindy 08/01/2018
Legal...Mas já li melhores...
Charley Davidson é uma detetive particular de 27 anos - que possui o dom de ver os mortos e ajudá-los na passagem para o Além - e vai ter que usar suas habilidades para solucionar o assassinato de três advogados e tirar um inocente da cadeia.
Aí vem a primeira coisa bizarra na história: ela é A Grim Reaper (Ceifeira) e os mortos fazem a passagem para o Além através dela, ou seja, ela é um portal para o Além. Francamente, uma pessoa ser um portal é uma das ideias mais ridículas já apresentada em livros. É tão bizarra que me deu vontade de desistir da leitura assim que me deparei com uma coisa tão nonsense. Quer dizer que ela tem tipo um buraco negro ou um túnel de luz dentro do corpo que leva almas ao Além?! Ah, me poupe! E se ela é A Grim Reaper, ela não deveria estar auxiliando na passagem de todos os espíritos dos mortos para o Além? Mas no livro ela diz que só ajuda os que ficaram vagando na Terra, depois da morte, por algum motivo. E mesmo nesse caso, deveria haver milhões de espíritos vagando por aí com assuntos pendentes e não somente aqueles 4 ou 5 que a procuram pedindo ajuda. Então, acho que a autora deveria tê-la classificado como médium e não como Grim Reaper - até porque o(a) Grim Reaper deveria ser uma criatura poderosa e imaterial.
Adoro livros com uma pegada de humor e sarcasmo, mas não de forma exagerada, como nos casos em que o personagem principal está prestes a morrer, mas, ainda assim, não perde a oportunidade de fazer uma piadinha idiota. A Charley tem umas tiradas bem engraçadas na maioria das situações, mas me incomoda um pouco a atitude dela de "Gente, olha como eu sou fodona!". Muitas vezes ela soa como uma adolescente aparecida que quer se mostrar para os amiguinhos e chamar a atenção dos adultos a todo custo. Já que ela é toda wannabe, devia ao menos ter aprendido artes marciais e defesa pessoal, pois passa o livro inteiro levando porrada de todo mundo.
Me incomodam bastante livros que introduzem espíritos na trama e os tratam como "fantasmas" ou "demônios". Invariavelmente, essas criaturas sempre me remetem ao Jason ou Freddy Krueger (que nunca me assustaram em nada e só me faziam rir). Ao menos nesse livro os "fantasmas" são mais ou menos normais e gente boa, em sua maioria - a gente se apega facilmente e torce por eles. Até a peste da garotinha loura demoníaca tem seu lado bom. Gostaria que todos tivessem aparecido mais na trama, já que as partes que envolviam a presença deles eram as mais interessantes e divertidas. Também houve momentos tristes e emocionantes, quando se abordava a questão dos familiares que ficavam pra trás, tudo que os "fantasmas" perderam aqui na Terra e tal. E tem também o Sr. Wong - o espírito que vive há anos parado com o rosto voltado para a parede, num canto do apartamento da Charley - apesar de não ter falas, é um personagem que me conquistou e me fez lembrar daqueles filmes de terror japoneses assustadores.
Entre os seres viventes temos o tio Bob, que é policial e emprega a Charlotte desde os 5 anos como consultora para ajudar a resolver crimes. Não gostei do pai da Charley, que é ex-policial, por causa da omissão dele em relação às atitudes da madrasta dela, que sempre a humilhou e maltratou sem que ele interferisse em defesa da filha. Queria muito que o Garret - o detetive bonitão e arrogante - se envolvesse com a Charley, mas, pelo visto não vai rolar.
E sobrou o crush da Charley: Reyes Farrow. O homem TDB master, deus grego, que deixa todas as mulheres paralisadas, sem fala e babando com sua beleza (aff!). [Sinceramente, a autora poderia ter sido bem menos exagerada na descrição dos atributos físicos do cara.] No início do livro ele parece ser um tipo de criatura imaterial extremamente poderosa, já que não é como os demais espíritos da trama e estes o temem. A Charley passa o livro todo em busca de solucionar o mistério do Reyes (onde ele está, o que ele é) e, quando este é finalmente resolvido... É bem decepcionante. Sei lá, eu esperava muito mais, achei uma solução totalmente cliché e mal elaborada, que parece que foi inventada às pressas somente pra preencher as páginas que faltavam para o final do livro.
Apesar dessas questões que citei, o livro é interessante, tem muitas passagens divertidas, alguns personagens ótimos (especialmente os espíritos) e uma narrativa bem fluida. A trama conseguiu me prender e não parei de ler até chegar ao fim. Mas o final realmente é bem fraquinho. Por essas e outras o classificaria como três estrelas. No gênero urban fantasy, posso citar outros livros bem melhores, como as séries: Elemental Assassin da Jennifer Estep, Hidden Legacy da Ilona Andrews, Mercy Thompson da Patricia Briggs, etc.