Nina Souza 26/03/2024
Uma autobiografia maravilhosa
Os seres humanos julgam facilmente o sucesso de uma pessoa baseado no recorte da fama que observam: dinheiro, o luxo e o poder. Dificilmente param para pensar em todo o esforço, em todos os obstáculos, todas as dores e os sofrimentos. Às vezes o talento e a disposição não são o suficiente – na maior parte do tempo, não é. Quando acontece, dizem ser apenas sorte, quando, na realidade, o trabalho é extremamente árduo e cheio de perdas.
Antes de se tornar famosa, Patti Smith cresceu numa família modesta e teve que dar o seu melhor para sobreviver até conhecer o aspirante a fotógrafo Robert Mapplethorpe – que foi o amor da sua vida. Nesse livro, o leitor consegue perceber que a conexão de alma é muito além do que temos a tendência limitante de classificar. É simplesmente puro, surreal e lindo o amor genuíno que Patti e Robert sentiam um pelo outro.
Robert e Patti dividiram a cama, a comida e o sonho de serem artistas na contracultura americana nos anos de 1970, mostrando os altos e baixos do mundo da arte numa autobiografia afetiva, cativante e marcada por autodescobertas na formação de dois dos grandes artistas do século XX que priorizaram a liberdade e a ousadia em sua arte – ver a concepção de liberdade sob outra ótica em outra época é muito interessante.
É um livro muito poderoso para observar como funcionava a indústria da época, com as memórias, as fotografias, os relatos, bilhetes e toda a exposição da cantora na publicação da obra. Assim como sua arte, é uma proposta ousada – além de uma promessa cumprida: um livro sobre identidade, sensibilidade e cumplicidade numa escrita ousada e cativante em que impulsos destrutivos se eternizaram em trabalhos criativos, mostrando toda a originalidade que carregavam dentro de si.
site: instagram.com/cartografialiteraria