Sara 08/06/2024
Um Anel para todos governar e aprisioná-los na escuridão!
Analisar um clássico é sempre uma grande responsabilidade, mas falar sobre a experiência de ler "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel", de J. R. R. Tolkien, parece ser ainda mais complexo, principalmente depois de ter ficado mais de um ano sem tocar na obra.
Após tanto pensar, quero tentar falar sobre o livro a partir de uma palavra: o medo, sentimento comum a todos nós. Se tem algo que eu percebi durante essa leitura, é que, além do medo maior, da prevalência do mal sobre o bem, a maioria dos personagens, ou todos, apesar da coragem e da irmandade, enfrenta a jornada para salvar a Terra Média sabendo que trata-se de uma tarefa aterradora. Mais até do que eles pensavam. É interessante destacar como as festas e os fogos de artifício do Condado são substituídos pelos Espectros e as florestas sombrias. A iminência de um futuro tenebroso é quase certa. E até mesmo os elfos, seres da floresta e da natureza, sentem o peso desse mal crescente.
A questão é que ou você enfrenta o medo ou provavelmente ele vai te dominar, ainda mais quando o Anel supremo está em suas mãos, aquele que dá o poder de a todos governar e, claro, a todos destruir. A cada uso do anel, mais um passo é dado em direção ao mundo das sombras. As consequências são irreversíveis. Frodo, um hobbit, um homem pequeno, nosso herói improvável, sabe disso.
É interessante acompanhar um personagem que é querido por todos, mas que guarda muitos segredos para si. Afinal, só ele tem noção do que significa carregar o fardo de ser o protetor do anel. E que anel! Frodo é acompanhado por seu fiel amigo Sam, talvez o mais sensível dos personagens. É ele quem diz que Frodo sabe qual decisão tomar, mas tem medo. E não é só ele. Aragorn, líder enigmático, caminhante, aventureiro nato, um guerreiro descendente de Reis e conhecedor do mundo antigo, também sente o peso de ter que enfrentar um mal inimaginável. Diversas vezes ele não sabe qual decisão tomar ou qual conselho dar, mas ele age, levanta a moral do grupo e tenta seguir em frente. Merry e Pippin, primos de Frodo, funcionam como alívio cômico, mas não abrem mão de dizer o que realmente sentem. E na maioria das vezes é o desejo de voltar para casa.
É na segurança do lar que parece sabermos quem somos, onde nenhum mal parece ser capaz de dominar, mas é fora dela, da zona de conformo, que começamos a ter consciência de quem queremos ser, pelo o que queremos lutar e do porquê o retorno para casa nem sempre é a melhor opção. É nesse ponto que o primeiro livro de "O Senhor dos Anéis" parece dialogar com o sentido da vida, seus momentos de júbilo, como a estadia na encantada terra élfica Lothlórien, onde o tempo para; em contraste com o penoso caminho para as terras sombrias de Mordor, onde o Anel precisa ser destruído. Nada é suficientemente duradouro. Até mesmo Legolas, elfo arqueiro, inteligente e habilidoso, sabe que só a coragem não é suficiente, nem somente o poderio dos elfos. É necessário se permitir e se aproximar de outros, até mesmo de seus inimigos mortais, os anões. Gimli é um deles. Aparentemente carrancudo, mas de bom coração. Forte e corajoso.
Difícil é descrever Gandalf, mago capaz de reunir literalmente todos e de se sacrificar por cada um. Um personagem tão poderoso, mas que também é humano, com falhas e receios, amigo, sarcástico e que não hesita em dar uns puxões de orelha. Boromir, apesar de sua força, parece ser a pedra no sapato do grupo, aquele que se acha superior, que dá para trás em todas as ideias, que questiona todas decisões, mas aquele que também difícilmente é ouvido pela equipe. É Boromir que jamais desiste de seu povo em Gondor, que insiste em levar toda a comitiva para salvar sua população. Cada um dos nomeados aqui faz parte da famosa Sociedade do Anel.
Não vou dizer que é fácil ler "O Senhor dos Anéis", mas é muito prazeroso quando você se permite entrar no mundo de Tolkien, mais do que se preocupar com as minuciosas descrições, capítulos longos, linguagem por vezes rebuscada, entre outros detalhes que podem dificultar inicialmente. Acredito que seja uma leitura de insistência, que gradativamente se torna única e arrebatadora. É muito bela e escrita com primor, um presente para todos que amam jornadas fantásticas e personagens épicos, além de, claro, um temas universais.
Acredito que agora estou mais preparada para embarcar no segundo livro. Espero que sim!