Cruzeiros do sul

Cruzeiros do sul Urda Alice Klueger




Resenhas - Cruzeiros do sul


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Luiz C. Amorim 12/03/2010

CRUZEIROS DO SUL
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://luizcarlosamorim.blogspot.com

Releio “Cruzeiros do Sul”, romance histórico da nossa romancista maior, Urda Alice Klueger, a moça loura de Blumenau, dos dedos cheios de poesia. Trata-se da segunda edição, de cara nova, toda revista, publicada pela Editora Hemisfério Sul, de Blumenau. A primeira saiu pela Lunardeli, de Florianópolis. Com maestria e segurança, Urda retoma a ficção histórica, sua especialidade, e nos dá a saga dos nossos antepassados, a saga da formação do povo catarinense, desde a chegada dos portugueses, que aqui encontraram os índios, donos da terra, até os dias atuais. “Cruzeiros do Sul” é a história das gentes que trilharam os caminhos do tempo, construindo o nosso Estado e o nosso futuro. É a história da nossa gente, começada com Madjá-Aiu, índia xokleng e um branco europeu, que por acaso veio parar no litoral de Santa Catarina. É também a história de Miguel e Manoel, dois portugueses que começaram outra linhagem de catarinenses. Essas duas famílias, através de muitas gerações, vêm até os nossos dias para cruzarem suas histórias, numa trajetória na qual a autora retrata com fidelidade as alegrias e lutas dessa gente que deu origem ao que hoje é a nossa Santa e bela Catarina. Urda recria a história com pesquisa, fidelidade e muita sensibilidade, fazendo tudo acontecer sob as luzes cúmplices e ao mesmo tempo indiferentes do Cruzeiro do Sul. Sei que o título deste romance de fôlego de Urda era, a princípio, “Sob o Cruzeiro do Sul”, que lhe cabia muito melhor do que “Cruzeiros do Sul”, opção do editor da primeira edição. Independentemente disso, este romance, talvez maior do que “Verde Vale”, marca registrada e referência de Urda, em grandiosidade de conteúdo, é exemplo de competência e maestria no ofício de escrever. Urda dá uma sacudida na gente quando, a certa altura do seu grande painel, nos deparamos com a dura realidade dos descendentes da índia e dos europeus, que cruzam seus destinos. E isso é muito importante, para que nos conscientizemos - e essa é a função da literatura - de que essas personagens não são apenas personagens, são pessoas contemporâneas nossas, que existem a nossa volta e fazem parte do nosso dia-a-dia. Urda nos mostra que a vida está acontecendo ao nosso redor, sem que nos demos conta, sem que tomemos conhecimento dela e, conseqüentemente, sem que tomemos atitudes para melhorá-la. E há que se olhar e ver, pensar e repensar a nossa realidade, que é a mesma das criaturas de Urda. Não estamos todos sob o Cruzeiro do Sul?
Urda já era conhecida em toda Santa Catarina e fora dela, pelo conjunto de sua obra, mas sobretudo por “Verde Vale”, seu primeiro romance. Seguramente, a partir deste grande romance, Urda tem seu nome vinculado a “Cruzeiros do Sul” que transformou-se, de imediato, num clássico da Literatura Catarinense. “Cruzeiros do Sul” me lembra “Cem Anos de Solidão” pela saga das várias gerações e me levou a ler novamente Garcia Márquez. E em lendo novamente “Cem Anos de Solidão” saltou-me aos olhos o contraponto entre o fantástico misturado com o real de Garcia e a recriação da realidade, da vida, com fidelidade e lirismo de Urda, empatando os dois na excelência da narrativa. E o fôlego da escritora loura de Blumenau não pára por aí. Uma de suas últimas publicações, o livro "O povo das Conchas", sobre os sambaquianos, que viveram em Santa Catarina há mais ou menos uns seis mil anos, é só uma prévia do romance que Urda está escrevendo sobre este povo e que certamente constituir-se-á em outro clássico dela.

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