. “Cruzeiros do Sul” é a história das gentes que trilharam os caminhos do tempo, construindo o nosso Estado e o nosso futuro. É a história da nossa gente, começada com Madjá-Aiu, índia xokleng e um branco europeu, que por acaso veio parar no litoral de Santa Catarina. É também a história de Miguel e Manoel, dois portugueses que começaram outra linhagem de catarinenses.
Urda dá uma sacudida na gente quando, a certa altura do seu grande painel, nos deparamos com a dura realidade dos descendentes da índia e dos europeus, que cruzam seus destinos. E isso é muito importante, para que nos conscientizemos - e essa é a função da literatura - de que essas personagens não são apenas personagens, são pessoas contemporâneas nossas, que existem a nossa volta e fazem parte do nosso dia-a-dia. Urda nos mostra que a vida está acontecendo ao nosso redor, sem que nos demos conta, sem que tomemos conhecimento dela e, conseqüentemente, sem que tomemos atitudes para melhorá-la. E há que se olhar e ver, pensar e repensar a nossa realidade, que é a mesma das criaturas de Urda. Não estamos todos sob o Cruzeiro do Sul? Essas duas famílias, através de muitas gerações, vêm até os nossos dias para cruzarem suas histórias, numa trajetória na qual a autora retrata com fidelidade as alegrias e lutas dessa gente que deu origem ao que hoje é a nossa Santa e bela Catarina. Urda recria a história com pesquisa, fidelidade e muita sensibilidade, fazendo tudo acontecer sob as luzes cúmplices e ao mesmo tempo indiferentes do Cruzeiro do Sul.