spoiler visualizarLeticia 20/10/2021
Uma experiência de leitura um tanto tênue
A leitura valeu a pena muito mais pela escrita da autora do que pela história em si. Apesar de alguns pontos positivos como a protagonista carismática e alguns núcleos interessantes, o enredo não ofereceu personagens protagonistas que me fizessem genuinamente torcer por eles e amá-los de forma inesquecível. Então busquei aproveitar a leitura naquilo que melhor se destacou: na riqueza dos diálogos e nas descrições das cenas. Terminei a experiência admirando o trabalho de uma autora que sem dúvida merece reconhecimento e seu lugar na literatura.
Mas vamos lá para minhas impressões:
Abigail Wendover é uma mulher esperta e inteligente que com 28 anos administra a educação de sua sobrinha Fanny junto com sua irmã hipocondríaca Selina. Considerada uma senhora passada da idade de se casar na conservadora Bath, no interior da Inglaterra, a bela dama considera esse assunto superado e não se ressente por não ter um marido, embora não lhe falte pretendentes.
Quando finalmente um homem atraente em todos os sentidos da palavra cruza o seu caminho, essa certeza de permanecer solteira começa a mudar. Tal capricho do destino lhe ocorre quando sua sobrinha Fanny conhece um sedutor mulherengo chamado Stacy Calverleigh que enreda a doce menina de 16 anos em uma trama de mentiras e dissimulação para dar-lhe o golpe do baú. Ao tentar livrar a sobrinha desse novelo perigoso, Abigail recorre ao tio do rapaz, Miles Carveleigh, que é considerado uma ovelha negra na família por conta de um escandaloso passado envolvendo a irmã mais velha de Abigail, a mãe de Fanny.
A narrativa de Georgette Heyer então vai conduzindo o leitor aos salões de Bath e ao hotel onde o Sir Miles encontra-se hospedado na cidade com cenas hilárias e sarcásticas que retratam a sociedade de forma caricaturesca, o que lembra a escrita de Jane Austen.
Mas apesar dos méritos de sua sucessora literária do século XX, faltou a esse enredo de Heyer um pouco mais do carisma que os melhores romances de Austen carregam. O protagonista masculino, apesar de certa postura autêntica, exibindo características de anti-herói bem interessantes, não agradou-me muito. Havia coisas que dizia para Abigail que a mim não soavam como galanteios inteligentes, mas sim grosseiros. E não entendo como ela ficou assim atraída por figura tão desqualificada. Se a intenção da autora era mostrar por meio de Miles o quanto aquela sociedade era retrógrada e hipócrita exerceu o efeito adverso em mim. No entanto, com o desenrolar da história o personagem foi demonstrando seus méritos e qualidades - como quando ajudou Abigail a desmascarar seu sobrinho mulherengo ao preparar uma armadilha genial e inescapável. Gostei do desfecho do antagonista, Stacy Calverleigh, e da forma como sua dissimulação e falsidade foi satisfatoriamente punida, embora tenha deixado o coração de Fanny partido no final.
Em suma, para mim foi uma história divertida, um bom passatempo com um final feliz e reconfortante. Talvez para Heyer os protagonistas combinassem juntos devido a personalidade vivaz que se destacava da mesmice dos habitantes de Bath, porém particularmente na minha visão ambos funcionavam melhor separados, tendo cada um o próprio enredo. O desfecho foi bem espirituoso, mas não deixará fortes lembranças como foi com Orgulho e Preconceito ou Persuasão.