spoiler visualizarrochelle 22/11/2018
COMPREENDENDO A PRAÇA COMO ESPAÇO SOCIAL
As praças, os parques e os jardins urbanos exercem posição de destaque no urbanismo de muitas cidades norte-americanas e europeias, sendo importante ferramenta de análise das relações sociais, econômicas e aspectos urbanos da cidade. Buscando uma referência teoria bem estabelecida, Sun Alex, discorrer acerca dos espaços públicos, destacados anteriormente, utilizando seus principais autores, como fico condutor da construção teórica do seu trabalho.
Já no princípio de sua obra, Projeto da Praça: convívio e exclusão no espaço público, Sun Alex apresenta a definição dos espaços públicos, praça, jardim e parques urbanos, por intermédio de variadas fontes e com um longo recorte temporal, construindo assim, o estado da arte para o trabalho. Ao passo que o conceito é discutido, é estabelecida também, a metodologia de análise adotada pelo autor, destacando: Mark Francis, com “o direito das pessoas de controlar seu uso e deleite dos lugares públicos”, Stephen Carr “os três tipos de acesso ao espaço público” e por fim Jhon Zeisel, com a “análise pós-ocupação”.
Na segunda parte, Piazza, plaza, place, square¸ é feita de maneira incomum, porém formidável, uma perspectiva histórica. Diferente da sequência de fatos e continua linha do tempo de um dado contexto, o autor, escolhe um, ou mais praças de um dado período, e as apresenta, focando nos seus aspectos urbanos definidores, uso e relevância história. A linha do tempo não segue o padrão, pelo contrário, dá enfoque as mudanças de aspectos urbanos, sempre tendo como cenário e agente histórico a praça.
O capítulo seguinte, Parque sem cidade, percorre o conceito de paisagismo ao longo da história, assim como no capítulo anterior, utilizando-se de exemplos e estudos de caso, para apresentar o tema na história. O conceito do paisagismo como método de alteração da natureza é ampliado, evidenciando a importância dele como preservação da paisagem natural no espaço urbano, conservação do meio ambiente, interação social, e símbolo da cidade. A apresentação dos estudos de caso nesse ponto, expõe também, as dificuldades dos espaços públicos urbanos, a resistência dos mesmos a especulação imobiliária, o desuso e degradação, problemas de manutenção.
Já, em Cidades sem praças, é discutido o jardim urbano, a presença dos espaços verdes nos loteamentos de subúrbios, e o contato da população com os espaços de recreação e contemplação. A mudança no comércio e forma de consumo, e o crescimento dos Shopping centers, conduz a supressão dos jardins residenciais. Já os limitados espaços verdes e jardins públicos do espaço urbano tornam-se cada vez menores, e seguindo o movimento arquitetônico do modernismo, negam os padrões clássicos, o jardim como espaço de contemplação e exaltação da natureza, dá lugar a projetos paisagísticos mais orgânicos, de enfoque teatral e primando por uso de espécies botânicas escultóricas. Assim como, nos capítulos anteriores, Sun Alex, se equipa de uma riqueza de exemplos e estudos de caso para pontuar o tema abordado.
Após expor todo o mundo que rodeia se tema principal, no capítulo Praças: projeto, convívio e exclusão, são analisadas seis praças da cidade São Paulo: O Largo do Arouche, Dom José Gaspar, Franklin Roosevelt, da Liberdade, Santa Cecília e Júlio Preste. Além de apresentar as praças, sua inserção no espaço urbano, relevância histórica e uso, o trabalho propõe alternativas ao desenho urbano e projeto paisagístico, para tornar o ambiente mais convidativo e sociável.
No capítulo final, Considerações finais, Sun Alex, traz um breve resumo da sua obra, sua relevância e experiência com o tema para o espaço urbano. Destaca a importância do paisagismo na conservação dos espaços públicos e mais profundamente a relevância dos espaço públicos na conservações das atividades coletivas ao longo da história. A praça, o parque o jardim, são o espaço da prática social, conserva-los consiste em perpetuar e preservar as atividades humanas.
A obra de Sun Alex reuni uma extenso e denso conteúdo sobre os espaços públicos. O livro aborda variadas perspectivas, sob a ótica da sociologia, geografia, arquitetura, concordantes, discordantes, mas com certeza, todas relevantes.
Os capítulos iniciais, que são destinado a conceituar e dar corpo ao objeto de estudo, são fundamentais para qualquer pesquisa e estudo sobre o tema, pois abrange os espaços públicos, com riqueza de exemplos e ilustrações, extrapolando a definição básica e trazendo o tema ao plano real.
Já nas perspectivas históricas, tanto da praça, quanto do parque urbano e jardim, a forma como o autor aborda a linha do tempo, utilizando-se não de fatos contínuos na histórias, mas de exemplos que consolidam, ou tem relevância nas mudanças históricas, permite que se compreenda uma dimensão maior do tema. O texto não se alonga, contado em sequência cada fato histórico ocorrido, mas escolhe no meio da linha do tempo, importantes exemplares, e descreve-os, contextualiza, e destaca sua importância. A compreensão final sobre o universo que é exposto é mais completa, fundamenta-se muito mais em causas e consequências, do que em acontecimentos isolados.
No projeto da praça, propriamente dito, em que são realizados os estudos de caso e de intervenção definidos pelo autor, o livro torna-se rico em imagens de projetos paisagísticos, contando com ilustrações por meio de croqui de todas as alternativas propostas.
Nesse capítulo é fabulosa a forma como é possível identificar as alterações indicadas pelo autor nas praças de estudo, com a fundamentação teórica descrita nos capítulos anteriores. O destaque a importância dos acessos, a visibilidade, o uso e ocupação do espaço, que deve-se adequar ao mobiliário, a comunicação visual, a importância do transeunte localizar-se na cidade mediante a praça, entre outras.
Vale ressaltar também a diagramação do trabalho, apesar do projeto apresentado não consistir em pranchas técnicas de aprovação em prefeitura, por exemplo, mediante os croquis é possível compreender o que intenciona o autor para a praça. Embora seja pertinente apontar, que a organização dos desenhos ao longo desse capítulo não é de fácil compreensão, talvez fosse interessante criar um carimbo para cada página, enumerando a ordem, em que se deve ser “lido” o projeto, pois é corriqueira a necessidade de retornar aos enunciados do texto para se situar nos desenhos. A adição de uma planta “mosca” ou guia, para compreensão dos cortes seria de grande importância, proporcionando maior fluidez para a leitura do projeto.
Apesar do ínfimo desagrado com a diagramação das imagens é indispensável celebrar a obra de Sun Alex como uma referência básica a qualquer estudo que possa ser pautado no seu livro. A leitura é fluída, apesar do volume do livro ser grande, é fácil percorrer capítulos a fio sem atentar para a quantidade de páginas, a riqueza de ilustrações e qualidades delas é fundamental para observar os aspectos que são ressaltados ao longo do texto, convergindo esses aspectos para compor uma obra primorosa acerca dos espaços públicos urbanos.
Ressalto, em tom de pessoalidade, que a obra como um todo é formidável, entretanto a forma como é exposta a perspectiva histórica dos temas abordados foi positivamente inusitada. Em geral a perspectiva histórica dos trabalhos acadêmicos é um item delicado, pois é repetitiva, já que o mesmo tema é abordado por muitos autores, e a apresentação dele na história é fundamental para contextualiza-lo. Divergindo disso, Sun Alex conta a história do seu tema de forma dinâmica, transcendendo a linha do tempo, e tornando o tema tangível ao leitor da obra.
Por fim, Projeto da Praça: convívio e exclusão no espaço público, não é uma leitura exclusivamente técnica da arquitetura, pode ser facilmente apreciada por curiosos e investigadores de outras áreas, afinal o espaço público é um tema que compete ao coletivo e o livro enaltece isso, trazendo diferentes visões do tema.