Henrique Fendrich 08/08/2019
A verdade é que conhecemos pouco, quase nada, do nosso continente. Principalmente se englobarmos a América Central e o Caribe. O que conhecemos sobre aqueles países? Um pouco sobre Cuba e Jamaica, no máximo, e, ainda assim, com muitos estereótipos. Não é todo mundo que se sabe que na América há quem fale holandês e francês, por exemplo.
Essa antologia tem o mérito de trazer escritos vindos desses lugares que a gente mal conhece. Há textos de Curaçao, do Suriname, da Guiana Francesa, do Haiti. Há outros de quem fala inglês e a gente nem sabe, como Belize, como Trinidad e Tobago. A seleção desse livro permite não apenas que saibamos o nome de ao menos um dos escritores desses lugares, mas que tenhamos experiências, ainda que curtas, bastante ricas sobre as culturas desses lugares.
Há uns três ou quatro contos, dos 48 no total, que estão mais para “reportagens” ou “ensaios autobiográficos”. Por meio desses textos, sabemos melhor o que é para um haitiano estar no Canadá, ou para alguém natural das Antilhas Holandesas estar na Holanda, e até o que é para alguém do Suriname viajar para Benin, lá na África. Mesmo nos outros contos, naqueles em que há uma proposta realmente ficcional, não há como fugir das referências culturais de cada lugar, de maneira que lê-los contribui para diminuir a ignorância que nós temos em relação a esses vizinhos.
Nem sempre os contos são fáceis, há experimentações que podem trazer dificuldades na leitura (e isso vale também para os escritores brasileiros presentes no livro). Porém, mesmo esses podem servir para melhor se entender a respeito de um país. O fato de todos os contos serem contemporâneos, feitos nos anos 90 e 00, também contribui para nos aproximar de cada escritor.
O Brasil e os Estados Unidos contam com vários representantes, um para cada região. Há entre os americanos verdadeiras pérolas que são hoje pouco ou nada conhecidos entre nós. Isso inclui até um escritor indígena americano.
Fico pensando se não valeria a pena também incluir textos de línguas não europeias que também são faladas por aqui. Um texto em crioulo, um texto em guarani, não sei. Talvez se achasse que o resultado fugiria bastante do “padrão” do livro, pois esses povos não têm preocupação de seguir os moldes da literatura estabelecida (o que pode ser muito bom), mas, de toda forma, talvez contribuísse para dar uma visão mais acurada do que vem a ser a América.
De toda forma, são poucos os livros que abrangem a literatura desses países e só isso já deve bastar para que se dê uma lida neste.