Quem conta um conto - Volume 5

Quem conta um conto - Volume 5 Ignácio de Loyola Brandão
Mario Prata
Vivina de Assis Viana




Resenhas - Quem conta um conto - Volume 5


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Fabio Shiva 23/08/2021

tipos de narrador
A ideia que motiva a série paradidática “Quem conta um conto” é muito bacana: a cada volume, cinco autores escrevem um conto a partir da mesma premissa básica, variando a cada volume em função dos elementos da narrativa. E a coleção completa ficou assim:

1) Ação narrativa
2) Personagem
3) Espaço narrativo
4) Tempo narrativo
5) Ponto de vista da narrativa
6) Gêneros literários (amor, terror, policial, ficção científica, mistério)

Dos cinco autores participantes, já conhecia e sou fã do Ignácio Loyola Brandão, de quem já li, dentre outros textos, sua acachapante distopia “Não Verás País Nenhum” (http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2018/09/nao-veras-pais-nenhum-ignacio-de-loyola.html). Outro participante eu conhecia de nome, o Mário Prata, autor de novelas televisivas de grande sucesso, como “Estúpido Cupido”. E os outros três escritores fiquei conhecendo aqui mesmo: Marcia Kupstas, Vivina de Assis Viana e Guilherme Cunha Pinto. A série foi coordenada por Samir Meserani, que também escreveu a apresentação, parte que mais gostei do livro, por trazer uma explicação bem detalhada sobre os diferentes pontos de vista da narrativa, que resumo abaixo.

“Ponto de vista é uma expressão usada em desenho para indicar a posição ou lugar que o desenhista escolhe para observar um objeto e traçar uma perspectiva ao reproduzi-lo. Poderá ter visões diferentes se olhar o objeto de diferentes posições. (...)
Desse significado, referente a um plano espacial, físico, a expressão ‘ponto de vista’ generalizou-se para indicar também visões conceituais. A ideologia ou ‘visão de mundo’ de uma pessoa é seu modo de pensar, entender e julgar tudo a partir de seus conceitos ou posições prévias que lhes servem de ‘óculos’ para enxergar as coisas.”

“Quem conta um conto é um ‘narrador’ criado pelo autor do conto. E conta a partir de sua posição na história, de seu ponto de vista em relação aos acontecimentos ficcionados. Esse narrador pode ser um ‘locutor imaginário’, uma ‘voz narrativa’ que conhece a história sem dela participar ou, ao contrário, um participante da história, uma das personagens. E ambos os tipos de narradores contam a história de acordo com sua ‘personalidade’ e partir de um ponto de maior ou menor proximidade dos fatos.”

“O locutor imaginário conta a história em 3ª pessoa pronominal, fala de alguém (dele ou dela) e não de si próprio, mostra acontecimentos que conhece mas dos quais não participa. Não se mostra a não ser a partir de sua linguagem, de seu tipo de fala.”

“Basicamente esse narrador de 3ª pessoa pode ser:
a) narrador onisciente, em 3ª pessoa: sabe tudo o que aconteceu, está acontecendo e vai acontecer na história. Costuma tecer comentários sobre os acontecimentos e sobre as personagens, Vê as personagens por dentro (em seus pensamentos, sentimentos, desejos etc.) e por fora (em seu aspecto físico e nos comportamentos). Tradicionalmente sua fala ou discurso indireto ocupa mais espaço do que as falas diretas dos personagens. (...) Torna a leitura mais fácil, visto que explica e ‘lê antes’ para o leitor comum. (...) Um narrador eu sabe do destino futuro e dos sentimentos de suas personagens se coloca acima de tudo, como se fosse um deus.
b) narrador observador, em 3ª pessoa: é um ‘locutor imaginário’ que procura se conter, fingindo imparcialidade, objetividade diante dos fatos e das personagens. Funciona como se fosse uma máquina cinematográfica que registra friamente, sem sentimentos, tudo o que vê. De tal modo, não apresenta o mundo interior dos personagens (...), evita antecipar os acontecimentos e fazer longas digressões dissertativas ou comentários pessoais. Não se colocando como um leitor privilegiado, deixa mais espaço para a imaginação do leitor, tornando a leitura mais difícil.”

“Vejamos agora o narrador-personagem, que conta os fatos na 1ª pessoa pronominal, por participar deles, em primeiro plano (como personagem principal) ou em segundo plano (como personagem secundária).”

“O narrador-personagem, em 1ª pessoa, pode ser:
a) narrador-personagem principal em 1ª pessoa, protagonista: conta acontecimentos ocorridos com ele, em sua vida. Seu ponto de vista não é distante dos fatos, mas bastante envolvido com eles. (...) E, como efeito desse aspecto confessional, estabelece uma intimidade entre o narrador e o leitor, que passa a ser, de algum modo, seu confidente. (...)
b) narrador-personagem secundária em 1ª pessoa: participa dos fatos, mas de modo secundário – ou como coadjuvante dos protagonistas ou como agente de fatos menos importantes. (...) A narrativa tende para o testemunho, podendo, em razão disso, aparentar maior credibilidade, maior verossimilhança.”

A partir de um argumento elaborado por Samir Meserani, os cinco autores tiveram a missão de escrever um conto com esses diferentes pontos de vista da narrativa. Essa parte não achei tão boa justamente por conta do argumento meio sem pé nem cabeça, que obrigou os escritores a darem saltos e piruetas de imaginação para entregar contos minimamente decentes. Mas no todo valeu demais a leitura e a proposta desse belo livro para quem ama ler e, principalmente, escrever!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/08/ponto-de-vista-da-narrativa-quem-conta.html



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