Santa Clara Poltergeist

Santa Clara Poltergeist Fausto Fawcett




Resenhas - Santa Clara Poltergeist


7 encontrados | exibindo 1 a 7


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Fernando Não tem Nome 31/03/2024minha estante
E errou com força. Recomendo algo na linha de "A Fundação" ou algo do Arthur C. Clarke.




Ligran 12/03/2022

Que loucura!!!
Acho que não há definição melhor pra obra de Fausto Fawcett. É um verdadeiro caleidoscópio sexual projetando tesão, masoquismo e tecnologia danosa.

Mas essas afirmações não trazem à obra um sentido negativo. Pelo contrário, desenham perfeitamente como Fawcett conseguiu aplicar o conceito apresentado por Ivan Carlos Regina em seu Manifesto Antropofágico da Ficção Científica. Fausto pegou elementos estéticos do cyberpunk, alimentou-se deles, misturou nosso suco gástrico e regurgitou um punk totalmente brasileiro: o Tupinipunk.

Como bem destacou a professora Mary Elizabeth Ginway, em Ficção Científica Brasileira, duas características mais notórias do Tupinipunk em relação ao Cyberpunk Anglo-americano é a presença do elemento sexual muito forte (aqui cabe destacar o papel das próteses cibernéticas) e a esperança de um mundo melhor que o caos do momento presente da história (nesse caso representado pelo sonho satisfatório-sustentável dos Orgônicos).

A obra é um pouco difícil de ler. A narrativa faz conexões de palavras em sentidos abstratos e as apresenta de maneira não tão coesa. Em alguns casos, são frases atrás de frases que se ligam por uma linha que permeia cada informação.

Outro ponto interessante que não poderia deixar de citar é como os personagens têm atitudes moralmente duvidosas ou completamente amorais. Não há heróis. Há pessoas que possuem seus lados bons e seus lados ruins, mas que "salvam o mundo" mesmo assim.

Super recomendável para que possamos conhecer a capacidade de um autor brasileiro de subverter um conceito estrangeiro e deixá-lo com as nossas críticas e características que mais nos representam.
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JCarlos 25/09/2020

Uma Copa ameaçada por uma falha magnética
Aos novos que não ouviram falar de Fausto Fawcet, dá um pulinho na wikipedia. Feito isso, prossigamos.
Numa linguagem difícil à primeira leitura, conhecemos a gênese de Verinha, transformada em santa curandeira e sua união com Mateus, eletroblack, que, como a maioria dos necessitados, almeja a cura por ter perdido parte de sua energia cerebral.
O enredo não linear desfila uma sucessão de personagens e detalhismo tecnológicos , dentro de uma urbanidade Cyberpunk: mulata mongólica, xiitas orgônicos, mansons chips, golens verbais.
Surpreende por ser um importante exemplar, pouco conhecido até, da literatura ?tupinipunk?, onde Fawcet não perde tempo no uso de um texto concupiscente e de uma loquacidade galopante, explodindo parágrafos intermináveis com termos e inventividades exorbitantes.
Isso denota uma escrita fora da curva, dos padrões naturais, embora vendo a obra como um todo fica mais fácil compreender a jornada e criatividade exacerbada do autor.
O excesso de linguagem impudica pode tornar a obra menos palatável ao leitor sensível, mas, ao continuar, você não perderá a oportunidade de saber se o Ovário-Graal radioativo de Vonheim foi ou não transferido para o corpo de Verinha, sabendo que caso não ocorra, uma implosão mental e orgânica ocorrerá por todo o planeta. E a falha magnética se transformará em uma ventania de sucção magnética.
Não, não é uma literatura YA.
Enjoy!
void_Indigo 26/10/2020minha estante
Interessante, não conhecia esse. Vou procurar.




Virginia Barros 05/03/2020

Um desafio
Fui desafiada a ler esse livro, mas tem muito palavrão, chocante sem dúvida, contém sexo explícito e umas barbaridades. A melhor parte é que é pequeno e acaba rápido, é uma história curta mas bem detalhada e de todo modo criativa.
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Davenir - Diário de Anarres 09/07/2016

Uma Copacabana cyberpunk com muito sexo
Santa Clara Poltergeist (1990) é uma obra de referência do Cyberpunk nacional mas diferente dos romances estadunidenses, o sexo e a brutalidade crus se entrelaçam na típica aventura de um hacker desenhada na prosa cantada do autor.

A estória gira entorno de uma Copacabana (Bairro do Rio de Janeiro) futurista acometida por uma falha magnética que paira nos céus do Rio, causando todo tipo de efeito na cidade. São casos de pirocinese, telepatia e uma enxurrada de cientistas estrangeiros que vem estudar o fenômeno. Nesse cenário sujo e caótico que Mateus, um NEI - Negão Eletrônico Informático, uma mistura de Hacker com eletricista - de São Paulo, vai até o Rio buscar a cura para os apagões elétricos no seu cérebro. A promessa de cura está em Santa Clara Poltergeist, alterego de Verinha Blumenau, que descobriu ser capaz de curar qualquer enfermidade com seu sangue após um acidente com uma bicicleta enferrujada com ferro instável.

A forma é de um livro curto onde a estória e os personagens são menos importantes que a cidade, a verdadeira protagonista do livro. O autor usa Mateus, Verinha Blumenau e outros tantos personagens apenas para pintar um quadro do Rio de Janeiro através de uma prosa carregada de adjetivos que costumam virar substantivos. Tudo isso regado a sexo e brutalidade explícitos, mas nada gratuito, pois tem a função narrativa de mostrar os limites do homem e da máquina, como todo bom romance cyberpunk. O ritmo é veloz como o mundo que retrata. Tudo é, também, jogado de forma bastante crua. Quem não aprecia as palavras "cu", "pau" e "boceta" aparecendo em quase todas as páginas, não vai gostar deste livro, pois tudo isso salta as páginas sem avisos nem cerimônias em meio a orgias sem fim.

Santa Clara Poltergeist proporciona uma versão bem brasileira de cyberpunk. Deixa de lado o individualismo e mergulha a todos na comunhão da loucura urbana via erótico, mesclando indivíduos numa massa de erotismo e violência. Exige um leitor disposto a deixar seus pudores de lado para aproveitar a leitura.

site: http://wilburdcontos.blogspot.com.br/2016/07/resenha-santa-clara-poltergeist-fausto.html
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Sérgio 22/09/2012

Bons livros para ler, por Luiz Guilherme de Beaurepaire
Esta obra não se encontra disponível no mercado, mas pode ser encontrada nos bons sebos: Santa Clara Poltergeist. Sinto muito, mas não posso emprestá-la. Motivo: um outro livro do Fausto que emprestei, Básico Instinto, nunca mais voltou e eu não me lembro pra quem foi. Acontece. Agora eu evito.

Algumas coisas precisam ser ditas sobre o autor: considero-o um dos escritores mais imaginativos. Merecia ser lido por um grande produtor Hollywoodiano. É impossível não embarcar nessa Copacabana Cyberpunk. Fausto Fawcet é um mestre.

Santa Clara Poltergeist é uma obra referencial do gênero cyberpunk nacional. Antes de entrar no livro em questão seria de bom tom explicar: O que é Cyber punk? É um gênero literário surgido na década de 80, do século XX, e no contexto social e tecnológico americano. O grande pai desse gênero literário foi o escritor Willam Gibson e seu livro Neuromancer (1984). Outros escritores de ficção científica também fazem parte desse gênero literário e posso citar Isac Asimov e Philip Dick, autor da obra que gerou o cult movie da década de 80 Caçador de Andróides (Blade Runner).

O cyber punk é um gênero de ficção científica que representa um futuro próximo permeado por utopias fracassadas, onde reinam a sociedade do espetáculo governada por corporações multinacionais. Um cyborg é um organismo cibernético dotado de partes orgânicas e tecnologias artificiais que tem como finalidade melhorar o desempenho humano.

Santa Clara Poltergeist é uma combinação de vários gêneros, entre eles ficção científica, religião, aventura, terror; e toda a história do livro gira em torno de tecnologias do simulacro, proliferação de engenhocas na vida cotidiana, a erotização artificial, bombardeio dos meios de comunicação criando novos padrões de consciência.

O enredo da história é no mínimo genial: é a história do paulista Mateus, um negão conhecedor de eletrônica, informática e, principalmente, tudo que tenha a ver com Poltergeist, interferências de ondas, meridianos paralelos de transmissão, antimundos televisivos e radiofônicos. Mas devido aos excessivos contatos com radiações elétricas e voltagens, o negão Mateus perdeu parte de sua energia cerebral. Formigamentos intracranianos, epilepsias localizadas fizeram com que Mateus perdesse certas capacidades.

Devido ao drama vivido por Mateus só resta um recurso buscar a cura com Verinha Blumenau, a Santa Clara Poltegeist, maior sucesso curativo do Brasil. Reencarnação de uma santa não reconhecida pela igreja, mas de muita influência em toda a Europa Central: Clara Vonheim, a padroeira dos coitos e dos universos paralelos.

Antes de adquirir a santidade, Vera Blumenau, era uma mulher que vendia amortecedores na beira de estrada e servia de amortecedora para os desejos sexuais e carências afetivas dos viajantes. Certa vez, foi dar uma volta num lugar descampado quando achou uma bicicleta. Quando o banco da bicicleta saiu de baixo dela e o cano a penetrou sentiu um metálico prazer. A ferrugem do cano da bicicleta espalhou-se pelo ventre de Vera. Através da psicocinese adquiriu o poder de atrair para sua vagina todas as coisas metálicas. Seu corpo é um gigantesco magneto carnal entulhado de objetos metálicos. Adquiriu a capacidade de penetração ótica, algo como a visão de raio X do super homem. E virou Santa Milagreira. Sexo curativo é o que ela oferecia para seus clientes. Vera Blumenau, superstar da pornografia se tornou Santa Clara Poltegeist a padroeira dos coitos e dos mundos paralelos.

A presença constante do sexo em Santa Clara Poltegeist não é apenas um deleite pornográfico, mas um recurso estratégico para barrar definitivamente as distinções entre homem e máquina.

Uma das mensagens subliminares que a mídia despeja é observada na seguinte passagem de Santa Clara Poltergeist.

A mídia eletrônica não comunica mais nada em Copa. Teve de se adaptar e fazer programas de um minuto, ou no máximo três, que é o tempo máximo de permanência de uma imagem nalgum monitor e nalgumas regiões do bairro. Grande acontecimento estético é muzak áudio visual em Copa. Projetores de slides embutidos em sarjetas e postes e paredes. Imagens turísticas ou cirúrgicas ou qualquer coisa. Acalmando o bairro, o maior telão do mundo instalado na ilha do farol com seus cem metros de altura por cinqüenta de largura e cinco mil milhas de definição cristal líquida. Nesse telão, ininterruptas imagens da atriz e manequim Silvia Pfeifer, cujo rosto é foco de encanto radical e partitura pra alguma melodia mental que vai suavizando e é suavizada ampliada num telão ilha que acalma a maioria os habitantes do bairro. Pra acalmar as consciências poluídas por si mesmas, pelo além delas, pela natureza, pelos artefatos todos, só um rosto que evoque espiritualidade cosmética, sensação de sagrado, mundos não humanos

É nessa Copacabana que Fausto Fawcet ambienta seu Cyber punk romance Santa Clara Poltegeist um lugar bem distante da Princesinha do mar, cantada por Dick Farney. Um ambiente habitado por uma loira paranormal, um negão tecno, sexo, televisão, religião, violência, tecnologia, sociedade do espetáculo. Uma montagem efervescente de imagens caóticas e descontínuas de uma utopia fracassada.



créditos : Luiz Guilherme de Beaurepaire
http://www.bonslivrosparaler.com/satira/santa-clara-poltergeist/



Prefácio do Livro :


A obra de Fausto Fawcett ocupa um lugar absolutamente único no panorama das artes contemporâneas brasileiras. Nenhum outro escritor, showman, músico ou estrategista cultural trabalha com as obsessões fawcettianas: tecnologia de ponta; simulação versus realidade; saturação e descontrole informacional; amor ao pop e às novas formas da urbanidade planetária. Além disso: nenhum outro artista brasileiro criou um estilo tão pessoal e inconfudível para retratar (euforicamente, piedosamente, precisamente) o desvario tecnodesejante ao qual todos nós já estamos submetidos.
Olhando para o "resto" do mundo, eu consigo perceber algo da sensibilidade de Fausto Fawcett em trabalhos muito especiais: o simulacionismo dos artistas plásticos Jeff Koons (também fanático pela Cicciolina) e Haim Steinbach; as performances religiosas da Church of Subgenius; as tecnoprofecias do "guru da realidade virtual" Jaron Lanier; a colagem audiovisual e a filosofia pop do programa Buzz (MTV); a colagem rítimica e a pirataria sonora dos compositores do hip hop ou da house; a violência estética/comercial do cinema de Paul Verhoeven e David Cronenberg; a linha editorial da revista Mondo 2000; a literatura cyberpunk de Rudy Rucker e Bruce Seterling.
Cito todos esses nomes (quase todos, não por acaso e não por atraso, desconhecidos do grande público brasileiro) quase como uma profissão de fé: este é o mundo/a sensibilidade que me interessa, me diverte e me aproxima de Fausto; este é o mundo/a sensibilidade que me distancia (e provoca a solidão artística de Fausto) da militância anti-pop, pró-sentido e pró-transgressão que ainda domina o debate artístico brasileiro.
Contra os transgressivos e "novos autênticos" de plantão, Fausto sabe que hoje (irremediavelmente) Freddy Kruger vale a mesma coisa que Hamlet, Angélica é tão vanguarda quanto Laurie Anderson, Kant é tão sublime quanto Krantz (Judith). Ninguém deve fazer disso um drama. Fausto (como Jeff Koons & Cia.) busca uma nivelação/ fragmentação cultural ainda mais arrasadora, ainda mais veloz, ainda mais contagiante.
Por que, então, não chamar logo Fausto (já que este texto é um prefacio de escritor cyberpunk? Poderia ser útil em termos mercadológicos, mas não seria correto ou esclarecedor. Existem semelhanças entre o estilo de Fausto e o dos cyberpunks. O leitor notará a paixão pelos detalhes (que atropelam a narrativa transformando-a numa avalanche de informações), a utilização da ciência como fenômeno pop, a fixação com "invasores de corpos" (biológicos, tecnológicos ou espirituais), todas elas características essenciais da literatura cyberpunk (vide a introdução já clássica que Bruce Sterling fez para o livro Mirror-shades The Cyberpunk Anthology).
Mas as diferenças também são evidentes. O cyberpunk foi um movimento interno da ficção científica. Fausto é um escritor que se utiliza da ficção científica (e também de Bataille, de Rajneesh, etc), sempre de fora, sem respeitar seus mandamentos. Mais importante: a maioria dos escritores cyberpunks (menos, talvez, Rudy Rucker) é constituída, no fundo, por individualistas ingênuos que acreditam na seguinte moral da História: cada pessoa deve ser dona do seu nariz. Fausto, ao contrário, é um escritor que não quer dar nenhuma lição moral para os seus leitores. As grandes corporações valem a mesma coisa que os grupos da tecnoguerrilha e é tão bom ser dono do seu nariz quanto "dissolver seu ego na matéria em movimento".
Quem já viu os shows ou ouviu os discos de Fausto vai reconhecer algumas das personagens deste livro. Aqui eles vivem novas aventuras tecnomísticas, intensamente violentas e eróticas, numa maravilhosa Copacabana infernal. Não se espante: o objetivo não é chocar, mas sim entreter o leitor. Eu me diverti como nunca. Espero ansioso o próximo livro, o próximo filme, o próximo disco, o próximo show.
Que Santa Clara Poltergeist ouça as minhas preces.

HERMANO VIANNA

Davenir - Diário de Anarres 09/07/2016minha estante
Sua resenha é muito boa. Só me resta ficar confuso com essa única estrela que você deu para o livro.


Mahatma 26/12/2016minha estante
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Dayanne Soares 23/11/2017minha estante
Não entendi essa única estrela


Caim Ferreira 24/03/2018minha estante
O cara se rasga de elogios e dá 1 estrela!




Junior Cazeri 10/07/2011

Primeiro romance de Fausto Fawcett, este Santa Clara Poltergeist é tido como uma das poucas obras brasileiras que se pode rotular como cyberpunk. Publicado em 1991 pela Editora Eco e hoje esgotado, sendo encontrado apenas em sebos, o livro de Fawcett se mostra audaz em muitas e muitas frentes, já podendo ser considerado um clássico do gênero e com poucos iguais no que se propõe.

O personagem principal é Mateus, um eletricista paulista, ou NEI (negão eletricista informático, nas palavras do autor) que após receber um chamado por meio de um impulso elétrico que o leva a um orgasmo sem precedentes, parte para o Rio de Janeiro com o intuito de salvar a cidade da destruição pelas mãos de um grupo terrorista radical, que criou uma bomba em forma de ovário, esta que só pode ser contida se introduzida na tal Santa Clara, uma jovem que após uma experiência surreal com uma bicicleta sem selim, passou a curar doentes por meio do sexo. Eu disse que haviam poucos iguais, não disse?

O tema da obra não é a ameaça terrorista ou a busca de Mateus por Santa Clara, aliás, os personagens do livro são figurativas e quase desprezados por toda a narrativa, servindo unicamente ao propósito de justificar os delírios de um futuro decadente e movido a um sexo bestial, ainda que nem sempre carnal. Um tanto de crítica, muito de paródia e um cinismo que permeia cada sentença, assim segue a obra. Se existe um personagem de destaque, esta é a Copacabana descrita no livro. Um cenário mais sujo do que a maioria das mentes poderia imaginar, onde se formou uma imensa falha magnética, contida por nuvens de lingeries, que provoca nas pessoas impulsos homicidas e desperta poderes paranormais. Portanto, desde combustão espontânea até crianças estripadas povoam as páginas, levando o leitor do cômico ao gore, com constantes descrições de sexo explícito e fetichista em formas um tanto… imaginativas.

Claramente inspirado pelo cinema, notadamente no bairro chinês de Blade Runner e as loucuras eletrônicas de Videodrome (uma tv se contorcendo de prazer ao ser chicoteada?), a ficção cyberpunk da Fawcett se afasta do conceito da realidade virtual e mergulha no homem e sua relação com a tecnologia e a imoralidade. A liberdade virtual se faz presente em um mundo sem barreiras políticas ou sociais relevantes e a consciência do homem se torna juíza de seus atos. E o que esperar de homens que definem eles próprios seus limites?

Um de meus diretores favoritos de todos os tempos, David Cronenberg (Videodrome, A Mosca, Crash – Estranhos Prazeres, eXistenZ, entre outros), se mostra uma influência muito superior a William Gibson e outros escritores cyberpunks no trabalho de Fawcett, já que seus temas principais se fazem presente de forma direta: a transformação do corpo por meio da tecnologia, a ligação entre tecnologia e sexualidade, o homem subjugado pelos prazeres tecnológios, auto mutilação etc. Contudo, Fausto Fawcett adaptou esses conceitos para uma realidade totalmente brasileira. Não espere carros voadores e outros gadgets incríveis. O maquinário descrito em Santa Clara Poltergeist parece ter saído de um ferro velho qualquer e a ferrugem se funde à sujeira moral dos personagens e a poluição da cidade. Em muitas passagens é quase impossível sentir um clima futurista, já que as descrições parecem as de um país parado no tempo, tentando se adaptar a um mundo avançado com a utilização de sucata.

Santa Clara Poltergeist não é um livro fácil, pode se tornar cansativo para os não iniciados em autores verborrágicos e que fogem da narrativa com frequência maior do que a seguem (Henry Miller e Marcelo Mirisola, para citar apenas dois), e também pode chocar o público mais pudico por sua linguagem pesada e passagens pornográficas. Contudo, não é essa a linguagem do cotidiano? Não são nossos devaneios mais comuns que nossas ações e palavras? E, para esclarecer: cu, boceta e caralho não são palavras de nossa língua pátria? Se você discorda, sinto muito, um abraço, o livro não é para você.

Por outro lado, os interessados em conhecer mais de nossa literatura fantástica, em especial um gênero que só agora, no século XXI, ganhou certa evidência em nossas terras e fugir da mesmice de universos virtuais e hackers charmosos, tenha a certeza que de Santa Clara Poltergeist tem muito a oferecer. Depois da leitura seus conceitos sobre a necessidade de “seriedade” e “realismo” em trabalhos escritos vai mudar, e o surreal da obra pode te convencer e te fazer pensar, o que é muito mais do que se consegue com a maioria dos trabalhos atuais.

Obrigatório.

Resenhado no http://cafedeontem.wordpress.com/
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