@pacotedetextos 12/05/2016Fantástico, surreal, uma diversão!Ganhei esse livro há mais de dois anos da minha mãe, que o comprou em uma viagem para Buenos Aires.
Confesso que já havia tentado lê-lo uma vez, mas tinha abandonado, porque, naquela época, eu não tava entendendo nada!
Porém, coloquei-o mais uma vez na minha meta de leitura (2016), na parte de literatura em língua estrangeira (sim, tenho a versão em espanhol, o que é um complicador ainda maior pra compreensão), e dessa vez eu consegui ler!
Quando você entende o porquê do título (pelo menos eu acho que entendi, hehe), tudo fica um pouco mais fácil. O livro é um verdadeiro divertimento mesmo, com muitas e muitas referências à arte - literatura, cinema, música, artes plásticas etc. -, à filosofia, à arquitetura... A sinopse da obra, em tradução livre da contracapa da minha versão, é a seguinte:
Impõem-se aqui a presença de um grupo de amigos e a inevitável paisagem de Buenos Aires. O estúdio de Penato Lozano, um pintor de marca surrealista, é o ponto de encontro de Vive como Puedas, uma espécie de cenáculo delirante que antecipa o célebre Clube da Serpente, de Jogo da Amarelinha. Neste estúdio, surgirá, entre as polêmicas sobre poesia, artes plásticas, música, política e sociedade, um mistério de feições esotéricas que inclui um mentalista, o fantasma da mulher de Facundo Quiroga, um pesadelo e uma inexplicável pintura. Desenvolvida num ritmo de comédia, de rápida peça musical, Divertimento insinua de forma brilhante a arte inigualável do maduro Cortázar.
Então, aí vemos: há muito do fantástico (no seu conceito literário e no seu adjetivo mesmo) nesta obra de Cortázar. Ele, que forma com Bioy Casares e Borges uma espécie de tríade de autores célebres da literatura argentina fantástica de meados do século XX, diverte-se e brinca com nossa mente ao longo das páginas desse livro.
Mas, para além desse aspecto do fantástico, há as referências, todas já ligadas aos mundos da literatura, cinema, música, artes plásticas etc., como já falei. O gato se chama Thibaud-Piazzini (salvando-se, por pouco, de se chamar Paul Claudel); mencionam-se Poussin, M'appari, Lena Horne, Sara Bernhardt, Poe, Victor Hugo, Gilliat, Jean Sablon, Ethel Waters, o Quarteto de Borodin, Juan Ramon Jimenez, Luis Cernuda, Sartre, Marcel Carné...
Aliás, Cortázar gosta de nos lembrar muitas vezes de suas influências vanguardistas (pós-modernistas, surrealistas), chegando a citar, num só período, Dalí, Molinari, Neruda e Modigliani (p. 53).
Legal é perceber que Cortázar também brinca com essas referências, colocando-as às vezes na boca de suas personagens em versões um pouco modificadas, mudando títulos e trechos de músicas, bem como passagens literárias.
Enfim, o livro é um divertimento só, razão pela qual não há como não RECOMENDÁ-LO FORTEMENTE!