Proust foi um neurocientista

Proust foi um neurocientista Jonah Lehrer




Resenhas - Proust foi um neurocientista


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Raquel 09/01/2023

Para os amantes de Virgínia Woolf, o livro possui um capítulo inteiramente dedicado ao fluxo de consciência, mas não somente isto, aborda também outras grandiosas observações a respeito de uma mente complexa e genial como a de Virgínia.
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Valério 06/05/2016

Interessantíssimo
Este livro faz um paralelo entre as "sacadas" de grandes artistas (não apenas Proust, como pode sugerir o título) de diversas áreas: Literatura, música, pintura com a ciência.
Assim, vemos que Stravinsky observou, antes mesmo de a ciência começar a decifrar tal fato, que o cérebro busca nos sons padrões. E, quando os identifica, passa a esperar por eles. E as músicas que mais mexem conosco são aquelas que criam um mistério para chegar ao padrão.
Da mesma forma, Proust descreve em sua obra mecanismos da memória que a ciência viria a confirmar décadas depois.
Assim também Monet percebeu antes da ciência como o olho humano enxerga.
E por aí em diante.
Através deste livro aprendemos um pouco mais sobre neurociência de uma forma muito mais interessante. Através da experiência e ponto de vista de grandes artistas da humanidade.
Leitura muito agradável e muito excitante para pessoas extremamente curiosas, como eu. Além de amantes das artes, onde também me enquadro, principalmente na música erudita e na literatura.
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murilo 04/03/2011

Quando a arte se antecipa à ciência
Vários autores já se dedicaram à árdua tarefa de escrever sobre ciência de forma que o grande público pudesse compreender. Graças a pessoas como Carl Sagan, Brian Greene e E. O Wilson, expressões como buraco negro, memes e genes egoístas se tornaram conhecidas por pessoas comuns. Mas talvez nenhum deles tenha ousado tanto no objetivo de um livro quanto Jonah Lehrer. Ex-técnico de laboratório de neurociência e atual editor da mais popular revista de tecnologia do mundo, a Wired, Lehrer lançaria em 2007 o ambicioso livro Proust foi um Neurocientista. Com ele pretendia provar três coisas. Primeiro: a ciência não é infalível. Segundo: Jamais teremos as respostas para todas as perguntas. E terceiro: Artistas, sem necessitar de equipamentos caros ou dispor de grandes conhecimentos científicos, anteciparam verdades sobre a nossa mente que a ciência só descobriria bem mais tarde. E ele consegue com louvor.
No meio do século XIX, a Igreja sofreu um forte baque. O homem deixou de ser uma alma imortal para ser descendente do macaco com a Origem das Espécies de Darwin. A física quântica foi descoberta. A partir do reducionismo parecia que o mundo finalmente poderia ser compreendido por inteiro analisando-se suas partes. Era um tempo de promessas, em que se acreditava que todos os questionamentos humanos poderiam ser respondidos, cedo ou tarde.
E foi justamente nesta época que surgiu um movimento vanguardista conhecido por sua originalidade e ambição: a arte moderna. Seus poetas desprezavam a métrica, os pintores faziam quadros abstratos, romancistas escreviam livros sem trama e assim por diante. Sabendo bem que o grande público, acostumado com a arte tradicional, não conseguiria compreender suas obras, eles persistiram com a certeza de que a genialidade deles seria reconhecida no futuro. Foi essa falta de modéstia que revolucionou as artes e fizeram Kafka ser reconhecido apenas após a sua morte como um dos maiores escritores de todos os tempos, Ulisses ser visto por alguns críticos como o romance do século e Paul Cézanne ter finalmente suas pinturas compreendidas.
Entre esses artistas, alguns simplesmente não conseguiam aceitar como realidade o que a ciência decretava como fatos verdadeiros e resolveram se voltar para si mesmos e representar em suas obras as próprias experiências pessoais que faziam. Oito deles descobririam fatos que a neurociência só vem descobrindo agora. São eles o pintor Paul Cézanne, o músico Igor Stravinsky, o chef de cozinha Auguste Escoffier, o poeta Walt Whitman e os romancistas Proust, Gertrude Stein, Virginia Woolf e George Elliot. Cada um deles tinha um método de trabalho único. Gertrude brincava com as palavras. Woolf tentava prever os avanços dos seus problemas mentais. Paul Cézanne observava por horas o mesmo objeto. Proust passava o dia inteiro na sua cama refletindo sobre o passado e como a memória funcionava. Stravinsky tentava chocar o público com músicas completamente novas para o público. Escoffier queria que a comida deixasse de ser um monumento nos restaurantes chiques, com esculturas de gordura de porco e gelatina, para ser apenas saborosa.
Nos oito capítulos de Proust foi um Neurocientista Jonah Lehrer apresenta, com uma prosa clara e concisa, o trabalho destes artistas, suas influências e descobertas no terreno científico. Como no capítulo sobre Proust, o mais avassalador do livro, onde é mostrado como o escritor francês descobriu o funcionamento da memória e que as lembranças se tornam cada vez menos confiáveis com o passar do tempo. Ou ainda, no de Virginia Woolf, que demonstrava em suas obras como nosso senso de identidade, nosso eu, não passava de uma ilusão do cérebro. Por dentro de nossa mente se esconde uma miríade de sensações, idéias e dois eus.
Muitos cientistas importantes são contrários a tudo que não seja científico. Acreditam que as artes não passam de entretenimento. A obra de Lehrer está para tentar mudar este quadro. Falando com domínio sobre temas tão díspares entre si quanto pintura abstrata e DNA, poesia e córtex auditivo, ele nos demonstra que a função da arte é atravessar os limites da ciência. A ciência não pode nos dar todas as respostas, hoje isso é claro. Não podemos descobrir como transformamos células elétricas e espaços sinápticos do nosso cérebro em pensamentos, na mente humana, por exemplo. Ou seja, a área em que a ciência não pode se aprofundar, é exatamente a que os artistas exploram. Eles mostram a verdade baseados nas suas próprias experiências humanas. O objetivo de Lehrer é mostrar como a ciência e a arte podem ser integradas.
Entretanto, Lehrer se mostra levemente careta. Proust foi um Neurocientista é o livro de um autor que acredita que todo escritor deve representar em suas obras descrições científicas do mundo real. Não preciso nem falar que autores como Richard Matheson, Ray Bradbury e Kurt Vonnegut deixavam as leis científicas de lado e mesmo assim mostravam muito mais verdades sobre nós do que poderia se imaginar. Escrever ficção, como diz Stephen King, é a verdade dentro da mentira.
Afora isso, Jonah Lehrer escreveu o que é até hoje o melhor tratado sobre as duas áreas, a arte e a ciência. Mesclando literatura, música, culinária e pintura perfeitamente, ele nos dá a real dimensão da mente humana. Para os que se interessam pelas duas áreas, só consigo uma imaginar uma palavra para defini-lo. Obrigatório.
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