José o Provedor

José o Provedor Thomas Mann




Resenhas - José o Provedor


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Valéria Cristina 05/03/2024

Monumental
Finalizei a leitura dessa tetralogia extraordinária!

José e seus irmãos (Joseph und seine Brüder) é um romance em quatro partes de Thomas Mann, escrito ao longo de 16 anos. Mann reelabora as histórias familiares do Génesis, de Jacob a José (capítulos 27-50), enquadrando-as no contexto histórico do Período de Amarna.
A tetralogia consiste em:

A história de Jacob (Die Geschichten Jaakobs) - escrita de Dezembro de 1926 a Outubro de 1930, correspondendo ao Génesis 27–36,

O jovem José (Der junge Joseph) - escrita de Janeiro de 1931 a Junho de 1932, correspondendo ao Génesis 37,

José no Egito (Joseph in Ägypten) - escrita de Julho de 1932 a 23 August de 1936, correspondendo ao Génesis 38–40;

José, o Provedor (Joseph, der Ernährer) - escrita de 10 de Agosto de 1940 a 4 de Janeiro de 1943, correspondendo ao Génesis 41–50.

Mann considerou-a a sua maior obra. Para o escritor Joseph Epstein, "José e seus irmãos é uma façanha assombrosa — um livro em que um artista, com mestria e acima de tudo através da imaginação, fez o regresso ao passado e imergiu-se na cultura dos judeus bíblicos e na cultura mais refinadamente exótica dos antigos egípcios".

Realmente, esta é uma obra monumental. Neste quarto e último livro, o autor nos encaminha para a derradeira parte da jornada de José, quando, após ser preso a mando de Potifar (de volta ao poço), termina exaltado por Faraó. A história é sobejamente conhecida. A tradição a conta desde tempo imemoriais. Todavia, o que nos impele a revisitá-la em companhia de Mann é a inimitável maestria de sua escrita.

Acompanhando os passos do já adulto José, na ocasião conhecido como Osarsif, percorremos as plagas egípcias e nos envolvemos nos esplendores de uma civilização que deixou marcas indeléveis. Mann, ao projetar a história, demonstra profundo conhecimento esotérico, mitológico e histórico, além de um domínio absoluto da narrativa que combina a tradição eternamente recontada com uma imaginação poderosa.

Nesse volume, conhecemos um dos mais enigmáticos mandatários egípcios, o doce e terno Amenotepe IV, mais tarde autodenominado Akenaton. Um faraó pacifista, amoroso e de profunda convicção nos é apresentado. Sua profunda fé em Aton, o deus único, sua luta contra o poderoso clero de Amun, a construção de sua cidade do sol e demais feitos aparecem de forma minuciosa nessa narrativa.

Acompanhamos, ainda, a trajetória de José como o grande provedor do mundo, uma vez que graças à sua inteligência, previdência e astúcia, o Egito manteve-se farto em uma época de penúria, tendo se transformado em celeiro do mundo para o qual todos os povos recorreram. José aparece como grande administrador que teve o poder de vida e morte, pois nelas estava o poder de distribuição de grão, sobre todo um povo. Seu sistema de distribuição foi reconhecido como justo, embora duro e intransigente. Imparcial, direto, mantendo sua fé familiar, ainda que envolto pelos costumes do país, José se firma como uma das mais deslumbrantes personagens da literatura.

Cenas com o reencontro de José com seus irmãos, anos décadas de separação, o reencontro de José com Jacó, seu pai; a benção de Jacó para cada um dos doze filhos, finalmente reunidos, quando em seu leito de morte constituem um dos mais lindos textos que já li.

Após quatro livros apresentados em três volumes, finalizar essa leitura deixa um vazio. Uma falta que, com certeza, será preenchida, mas que não sem muita procura.
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