Desemprego de Colarinho-Branco

Desemprego de Colarinho-Branco Barbara Ehrenreich




Resenhas - Desemprego de Colarinho-Branco


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Antonio Luiz 15/03/2010

O importante é o QI
Barbara Ehrenreich é uma jornalista conhecida por suas colunas e livros-reportagens sobre problemas sociais estadunidenses. Como "Miséria à Americana", escrito depois de viver alguns meses como trabalhadora de baixa renda, vivendo de empregos precários em restaurantes, casas de repouso, hipermercados e franquias de limpeza.

Foi o sucesso dessa obra que a inspirou a complementar essa experiência de pesquisa participante com uma pesquisa análoga sobre os empregos de colarinho branco. Com o nome de solteira (Barbara Alexander), um currículo bem construído, seu conhecimento de jornalismo, comunicação e política e suas referências de amigos bem posicionados e previamente avisados, pretendia conseguir um emprego na área de relações públicas ou assessoria de imprensa com salário de US$ 50 mil anuais mais benefícios de saúde e viver por três ou quatro meses a dinâmica interna de uma grande empresa.

O resultado não foi bem o pretendido. Como proletária, encontrou empregos horríveis e mal pagos, mas os conseguiu em questão de dias. Desta feita, passou os dez meses que reservou para seu projeto e desperdiçou os US$ 5 mil que reservou para investir nesse projeto sem pôr o pé dentro do mundo empresarial. Só teve oportunidades, inúteis para seu propósito, como vendedora externa sem salário fixo ou benefícios.

Em vez de outro livro sobre o mundo do trabalho, temos "Desemprego de Colarinho Branco". Todo o tempo, Bárbara viu-se às voltas com especialistas em gestão de carreira, orientação profissional, redação de currículos e colocação de executivos que se aproveitam das esperanças e aflições de colarinhos-brancos desempregados, cobrando por conselhos inúteis e testes psicológicos contraditórios. Por exemplo, um “especialista” a classifica como “líder natural”, extrovertida e intuitiva. Outro, como “neurótica, melancólica, artística e emocional”.

Todos eles, porém, foram unânimes em insistir em incutir no desanimado “profissional em transição” – o termo “desempregado” é tabu – a crença em que tudo depende de atitude correta e positiva e que deve culpar a si mesmo por qualquer demora ou insucesso. É a religião leiga da auto-ajuda, do poder do pensamento positivo. E os religiosos dizem ao desorientado quase o mesmo: em Deus, tudo se pode. O mercado, a conjuntura, o sistema nada têm a ver, são meras desculpas para a falta de fé, em si mesmo ou na religião.

O “profissional em transição” é orientado a considerar sua busca de emprego como um trabalho de tempo integral, a organizar seu tempo e sua agenda como se estivesse em um escritório e imaginar-se como seu próprio patrão a dar-se ordens para dedicar-se à tarefa. Para a pesquisadora, tudo isso parece apenas uma maneira de manter-se ocupado e fugir de uma visão mais ampla e mais social do problema. Embora currículos e cartas de apresentação impecáveis sejam distribuídos por todas as empresas e sites possíveis e Barbara seja uma redatora e jornalista reconhecidamente competente, o retorno é absolutamente nulo.

Aparentemente, o “vácuo” ou “branco” no currículo – o fato de não ter trabalhado recentemente numa empresa, atribuído a compromisso com filhos e família – a tornou uma pária no mercado de trabalho de colarinho branco. Os empregadores pensarão, talvez, que se uma pessoa pôde aprender a viver fora do mundo corporativo, será impossível controlá-la outra vez da mesma maneira.

Na prática, o processo de contratação depende das relações do empregador. Contatos, contatos e mais contatos, recomendam, cobrando por oportunidades de participar de encontros com potenciais empregadores, nos quais Barbara trava contato com muitos desesperançados. Ela não tinha contatos úteis para esse fim, como também não os têm aqueles que se afastaram do mercado por qualquer razão ou vêm de setores obsoletos. No Brasil, diríamos assim: o QI relevante não é o quociente de inteligência e sim o “quem indica”.

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