jaircozta 20/04/2020o que resta depois do abandono#livro Como Esquecer - anotações quase inglesas
#autora Myriam Campello
Descobri este livro por meio de uma pesquisa que fiz em 2016 como curador de um projeto chamado Telas Abertas, realizado pela Vila das Artes, em Fortaleza, Ceará. A proposta era montar uma mostra com cinedebate sobre filmes baseados em livros que versassem sobre relações homoafetivas. O filme homônimo foi estrelado pela magnífica Ana Paula Arosio.
Na história linda escrita pela carioca Myriam Campello, conhecemos Júlia, personagem central que narra o processo de luto, abandono e a tentativa de autocura após o término do relacionamento com Antônia, personagem-lembrança. Antônia é uma memória quase demoníaca, um espírito que, mesmo depois de escolher terminar o relacionamento (fato já sabido no primeiro momento de leitura), permanece atormentando Júlia em memórias.
Longe de uma narrativa piegas, essa obra se firma como um clássico da literatura queer que merece ser lido por mais pessoas.
Esse livro foi muito importante para mim, como foi a leitura de Água Viva, da Clarice Lispector, pois ambos tratam de fim de uma relação com tamanhas lucidez e dignidade consigo e com a outra pessoa, que se torna impossível não entender os próprios medos e se manter na superfície, mesmo que dolorosamente.
Eu preciso dizer que Myriam Campello entrou para o meu hall de escritoras brasileiras que merecem um lugar na nossa literatura, porque demos espaço demais para homens com escrita medíocre nas letras.
Um livro para sobreviver e reaprender a andar sobre essa corda-bamba que é amar e ser amado, assim defino-o.