A Dádiva

A Dádiva Lewis Hyde




Resenhas - A Dádiva


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Pablo Paz 27/06/2022

Sobre a doação como troca
Este livro é um daqueles que fará parte dos grandes clássicos do ensaismo e talvez seja lido por muitas gerações. Está dividido em duas partes: a primeira é uma argumentação, com referências da antropologia social e econômica, em que o autor defende a Dádiva (o Dom, a Doação) como um processo de troca legítimo da qual os artistas e a OBRA DE ARTE não podem prescindir, ainda que o capitalismo exija do artista que ele seja apenas mais uma versão do homo economicus. A segunda é um estudo literário das obras de Walt Whitman e Ezra Pound, artistas contraditórios, mas cujas obras são exemplos de verdadeira doação à Arte. Em suma, ele usa esses dois poetas americanos como exemplos, muito contundentes a meu ver, dos argumentos defendidos na primeira parte.

Acho que um livro como esse, do final dos anos 1970, dificilmente seria publicado hoje porque não teria público imediato. Não o teria porque as gerações posteriores - Millenials, Y, Z etc. - já cresceram num mundo pós-guerra fria, portanto, longe das lutas ideológicas do século XIX/XX, especialmente entre capitalismo x comunismo, liberalismo x socialismo. Isso significa que não vemos alternativas para um mundo que não seja capitalista ainda mais com os efeitos do mundo globalizado a partir dos anos 1990. Pode reparar que as lutas ideológicas atuais são mais contra ou a favor da democracia, contra ou a favor da diversidade cultural, contra ou a favor do nacionalismo etc.

Alfim, contra ou a favor de algo ou coisas DENTRO do capitalismo. Até mesmo os 'antiglobalistas' são antiglobais mais pelos efeitos nefastos da desindustrialização em seus países (como o desemprego) do que por outros motivos mais nobres como a depredação do meio ambiente, as mudanças climáticas ou a exploração de mão-de-obra infantil nos países pobres. Todo o repertório da geração Millenials adiante está voltado, parafraseando Ezra Pound, não para a distribuição das riquezas que a teconologia atual permite, mas para a administração e aceitação da escassez.

É um livraço que vale a leitura.
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