Jakob von Gunten

Jakob von Gunten Robert Walser




Resenhas - Jakob von Gunten


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Christiane 24/07/2021

Jakob Von Gunten entra para o Instituto Benjamenta que forma pessoas para servir e esperar. O que estaria fazendo ali um filho de nobres? O que teria levado Jakob a fazer esta escolha?
O livro não é de fácil resenha, pelo contrário, cria desconforto ao mesmo tempo que é brilhante, mas como todo diário e toda vida não apresenta um final, mas fragmentos, deixa pistas, porém nada nos garante que será assim.
Um mistura de autobiografia e ficção, uma vez que ao me informar sobre a vida do autor vê-se que ele se coloca no lugar de Jakob em alguns momentos e talvez em outros apresente o que desejou, o que temia, o que percebia. Walser termina sua vida num Instituto Psiquiátrico. E aí eu retomo o que sempre digo, os chamados loucos estariam mais próximos do real do que os que se consideram normais? E talvez por isto não consigam lidar com isto, e escrevam, delirem, criem mundos à parte.
Há descrições neste diário do mundo que se perde sem viver por querer atender ao que todos esperam dos outros, por estarem baseados em aparência, sucesso, a suposta felicidade. Jakob estaria fugindo disto? ao buscar uma formação que o transformasse num criado? que saberia servir e sempre esperar, ter paciência, mas ao mesmo tempo se desenvolver interiormente? Não há respostas no livro, mas nos leva a refletir e muito sobre o mundo em que vivemos e sobre o que buscamos.

Wasel era o escritor preferido de Kafka, também apreciado por Elias Canetti, Walter Benjamin, aliás, assim que li Benjamenta, me veio Benjamin, mas em momento algum há algo que confirme isto.
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Biblioteca Álvaro Guerra 13/03/2020

Mestre absoluto de uma escrita e de um estilo que até hoje não encontram paralelo a História da literatura ocidental, o suço Robert Walser teve sua importãncia relegada durante muitos anos ao papel de principal modelo literáriopara outro gigante das letras surgindo no começo do século xx.
Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/35918205
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Gabriel.Tesser 09/08/2019

Um diário
, disse a professora,
Daqueles livros que você presta atenção em detalhes pequenos como grãos de areia na boca, que se espalham na saliva, atrapalham, incomodam e podem vir a quebrar um dente. Walser segue a linha da literatura alemã que sempre traz algo a ensinar. Em cada parágrafo há um pensamento ou diálogo singular, fruto da razão influenciada pela emoção.
Nunca é demais experienciar qualquer emoção que seja (salvo as que torturam, talvez, em alguns casos).
O livro (de modo geral) traz uma ideia imprecisa de uma emoção, um pensamento que tenta emular um sentimento. Ele faz, por aproximação, equivaler à suas experiências, seu sonhos ou ideologias que formam seu caráter, descreve um pouco sobre você ou o que deseja, por isso é tão importante ler o quanto puder.
O diário de Jakob conta sobre uma aristocracia falida, sobre opressão e promessas de dias melhores. É um livro melancólico que vale a pena ser lido.
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gaglianoni 17/03/2013

WALSER, Jakob von Gunten
Com a cortante lucidez de seu lirismo realista, Robert Walser, no romance Jakob Von Gunten, expõe as vísceras do drama do indivíduo impessoalizado dentro do sistema capitalista industrial. O livro foi escrito em 1908, época em que amanhecia o modelo de mundo em que vivemos hoje; e ainda hoje o leitor se reconhece na alegoria do pupilo a lacaio de uma sociedade industrializada, interesseira, fria e calculista. A serialidade da carne humana é exposta, paradoxalmente, porém, com encantadora poesia. Com Walser, o bruto é tomado de tal sinceridade que dele se extrai uma beleza rara, única e incondicional. Cada pequeno detalhe é dotado de importância, pois é o que traz humanidade à amorfa condição das pessoas industrializadas. Um instituto como o Instituto Benjamenta, cenário das narrativas de Jakob Von Gunten, dedicado a criar servos minimamente familiarizados com as maneiras e costumes da alta sociedade, regido por velhas normas e dedicado a tornar seus pupilos úteis a outrem, poderia ser uma caricatura de todo o mecanismo silencioso que mantém até hoje o sistema social intacto, às custas de algumas insignificâncias vitais; a escolarização é encolhedora, pois basta-se a ensinar uma função e assim fornecer mais uma máquina humana barata a juntar-se com inércia à pútedra monumentalidade social, sempre sustentáculo econômico, indiferente se legitimada pela estandartização de uma falsa moral, baseada no enaltecimento de valores reles, a girar sempre em torno de utilidade, funcionalidade, subserviência, quer a Deus, ao Estado, ao dinheiro.


Trecho inicial da resenha publicada no blog da livraria 30porcento
http://30porcento.com.br/blog/walser-jakob-von-gunten/
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Dani Mendes 04/10/2011

Faltam vinte páginas para eu me despedir de Jakob Von Gunten. Depois, fecharei este diário e só voltarei a ele para alguns preciosos grifos. Pensava num motivo para adiar ainda mais nossa convivência e começou a tocar “Marvin” inesperadamente no meu radinho. Para minha surpresa, logo descobri que este evento era uma coincidência e resolvi organizar minhas ideias aqui.

“As folhas pendem feito chumbo, desprovidas de naturalidade”. (pg. 21)

A narrativa crua, sem elogios, sem paixões arrebatadoras e irracionais, sem uma trama, o reino soberano da descrição. Ou a arte da discrição, da elegância, que tudo sugere e nada afirma e tudo instiga à fantasia com os personagens, tal como convivêssemos no dia a dia cheio de desconfianças quanto aos sentimentos dos outros. É assim que Robert Walser nos leva ao frio Instituto Benjamenta, lugar onde as contradições da condição humana são expostas de forma obscena.

- Muito prazer, Daniela.

Temos um amigo em comum, o Sr. Erwin Maak, que nos apresentou. Em nossas correspondências por email, ele pouco me disse, apenas me enviou essa preciosidade. Não é necessário dizer o quanto sou grata, mas repito mais uma vez, pois minha gratidão se faz insuficiente. Porque não importa a sua idade, esse é um daqueles livros de formação, que mexem bem lá no fundo de nós. Ele desperta aquele “sei lá”.

A orelha do livro falou que Jakob é cheio de elementos autobiográficos. E você deve estar se perguntando: quem é esse Sr. Walser? Ele nos dá pistas: “Quando ando de elevador, sinto-me produto do meu tempo”. (pg. 24) Que tempo? Meados do século XIX, meus caros! Não parece, quando você lê o livro antes da orelha. Mas Jakob antecipa os pensamentos que se tornariam mais vívidos na nossa geração. A saber, o sentimento de ser um equilibrista num fio dental ante um mundo em transição. “Que singular depravação: alegrar-se em segredo com a possibilidade de perceber que se está sendo surrupiado”. (pág. 25).

Se a minha falta de talento for incapaz de instigá-lo a ler este belíssimo livro, permita-me transcrever um detalhe primoroso da orelha: “Quando Franz Kafka publicou seu primeiro livro, Contemplação (1913), resenhas diversas identificaram em Walser a mais decisiva influência sobre a prosa curta do então estreante tcheco”. Eu sei que é ridículo descrever a importância de Walser a partir da consagração de Kafka. Depois de sua internação num hospital psiquiátrico, em 1929, passou vinte e sete anos no anonimato até ser encontrado morto na neve. Um gênio que não gozou dos frutos do seu talento é uma temática muito clichê e indigna de sua obra também. Então não se prenda a estes fatos. O melhor é nos deixar arrebatar por sua prosa, afinal, o verdadeiro escritor deseja isso: inferir a vida, provocar paixões e etc.

“Ter razão enfurece; não tê-la sempre nos reveste de uma serenidade orgulhosa, frívola. Todo aquele que quer o bem apaixonadamente (Kraus) sucumbe sempre ao que não guarda com especial carinho no coração o bom e o proveitoso (ou seja, eu)”.
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jota 19/08/2011

Escola walseriana de vida
Depois de O Ajudante (Arx, 2003), Jakob von Gunten (Companhia das Letras, 2011) é o segundo livro do escritor suíço (e autor favorito de Kafka; que o teria influenciado, inclusive) Robert Walser (1878-1956) que leio. Em alguns países europeu e nos EUA o livro recebeu o título de Instituto Benjamenta, que é onde Jakob von Gunten é aluno interno.

Ali "(...) se aprende muito pouco, faltam professores, e nós, rapazes do Instituto Benjamenta, vamos dar em nada, ou seja, seremos, todos, coisa muito pequena e secundária em nossa vida futura." São muitos os mistérios que envolvem o Instituto e seus diretores, o sr. Benjamenta e sua irmã Lisa, professora por quem Jakob mostra grande interesse. Ele vai registrando, sob a forma de diário, suas impressões acerca da vida ali no Instituto e vai passando diversas informações acerca de seus mestres e colegas, também sobre sua família.

Jakob é um jovem de origem supostamente nobre que ingressa nessa instituição especializada na formação de criados, desejoso de aprender a servir. Espelha-se sobretudo no colega Kraus, modelo de humildade e subserviência. Mas o aprendizado revela-se penoso e Jakob passa grande parte do tempo a refletir sobre sua condição. E seu discurso acaba indo muito além do jardim do Instituto Benjamenta...

Se Jakob quer servir, quer ser um serviçal (está no Instituto Benjamenta para aprender a ser um), no entanto sua família tem carruagens, criados e a mãe, um camarote no teatro. Mas ele evita os pais (embora mantenha contatos esporádicos com o irmão, vários anos mais velho que ele) e registra em seu diário: "(...) não escrevo para meus pais, porque já um simples relato me desencaminharia, arruinaria por completo meu plano de começar bem de baixo." Um pouco antes ele afirmara que se preparava "(...) para o duro e o sombrio que está por vir." O que seria isso ele não diz, mas conforme a leitura vai evoluindo vamos percebendo do que se trata. Depois de mais um de seus devaneios ou reflexões ("Analisar, apreender, pensar, tudo isso faz a espécie humana perder o ânimo de viver"), finaliza: "Quanta baboseira." Percebe?

Bem, o Instituto Benjamenta adestra tão bem os estudantes para servir como criados da classe alta alemã, que acaba eliminando neles todos os traços de contestação e curiosidade, que considera defeitos morais. Lá pelas tantas páginas Jakob afirma: "Pensar é resistir", significando que apequenar-se, tornar-se humilde pressupõe a ausência de pensamento independente. Grande meta da instituição.

J. M. Coetzee afirma que "Walser extrai de sua própria experiência de vida o material para seus romances." Então Jakob Von Gunten é também autobiográfico e em certos trechos é possível detectar que uma loucura latente já estava se instalando em Walser duas décadas antes (o livro é de 1909) de sua internação numa clínica psiquiátrica em Berna (em 1929).

Bem, leitura finda e fico com a sensação de que este Jakob von Gunten é bastante sombrio (evidenciaria prenúncios da Primeira Grande Guerra, como supõe alguns críticos?) e me agradou menos que O Ajudante, que tinha bastante humor e ironia (e a simpatia de Joseph Marti). Vamos aguardar a publicação de outros livros de Walser no Brasil, como Os Irmãos Tanner e especialmente Microescritos para conhecer mais deste escritor notável, ainda razoavelmente desconhecido por estas bandas.


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Eduardo 27/07/2011

Isto está incompleto e isto não é uma resenha
"Quieto, não falemos em onipotência. Servir-se de grandes palavras é errar sempre." -- Essa frase me remete a outro trecho, da página 15, na qual Jakob diz: ""
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Ricardo Rocha 07/05/2011

em nossas casas
As orelhas dão conta que essa obra de Walser é fruto da noite e da loucura. O autor hoje cultuado foi ao longo de toda a vida desprezado, tanto por críticos como por editores e, consequentemente, leitores. Morreu num sanatório para doentes mentais. Impossível separar nesse caso autor e obra. Os seres de sua fantasia lutam por se livrar do sofrimento, embora ele tenha se resignado no final. Seu herói abandonado, no âmbito das provas por que passa, não deseja vencer mas servir. É puro Kafka, cinco anos antes de Kafka: “Aqui se aprende muito pouco, falta pessoal docente e nós jamais chegaremos a nada; ou seja, amanhã seremos todos pessoas modestas e servis.” Gosto quando diz que certas coisas não estão muito claras mas para esse tipo de coisas a clareza não é necessária. Todavia, acho, é preciso ser uma obscuridade que enleve.


O encontro de Jacob von Guten com sua adorada mestra é uma fronteira. A linguagem de Walser é ambígua e provoca uma derradeira reflexão. “Continuas trabalhando com o mesmo empenho, Jakob? És um menino simpático. Um tanto fogoso, mas te acho simpático, puro, honesto e agradável. Estás contente? Estás? Como? Há muito que não cumpres os regulamentos? Ou sim? Ah, és um excelente menino, estou certa de que és.” Ele era? E se era, qual a utilidade disso, digo utilidade para entrar no clima do livro, mas deveria dizer “virtude”.

Walser descreve com conhecimento de causa suas relações na instituição, ora lamentando a sina, sem escapes, de ser nada; ora senão amando, pelo menos adequadamente conformado em ser “um encantador zero a esquerda no futuro, redondo como una bola. Adulto, serei obrigado a servir a jovens fornidos jactanciosos e mal-educados; caso não venha a pedir esmolas, decerto sucumbirei”. O ideal ali deve ser a plena subserviência, que nos traz aos dias de hoje e nossas empresas, e nossos executivos felizes, que sempre tem um Walser abaixo de si para usar e um Benjamenta acima que o usará igualmente – os “poderosos” de hoje, enfim, que não precisam justificar suas baixezas, e que de muito pouco precisam para chegar a essa suposta posição de poder ou submissão. E que visão pode ser mais atual que essa? –: “Uma coisa é certa: aqui nos falta a natureza. O que há em primeiro lugar é a cidade grande. Em casa, eu ouvia sempre gorjeio de pássaros nas ruas. Fontes não cessavam de murmurar. Ao longe, a montanha coberta de verde dominava majestosamente o lugar. De tarde, passeávamos de barco pelo lago. Não longe havia penhascos e florestas, colinas e pradarias. Não faltavam vozes e perfumes.” Parece que a Instituição está hoje em nossas casas, sem nada disso, e com outros reinados, como o da TV e da internet. 
 
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