spoiler visualizarSthephanie.Schulz 03/03/2013
O Grito da Selva - Jack London
Nunca havia lido nada de Jack London até me interessar por The Call Of The Wild, clássico da literatura americana, que nessa edição da Companhia Editora Nacional, foi traduzido (infelizmente), como o "Grito da Selva".
Essa edição tem um estilo típico de livrinho infantil e achei que fosse uma versão adaptada e resumida da obra. Mas, descobri que a história é curtinha mesmo e que a edição tinha o texto integral e com tradução de Monteiro Lobato.
Sempre tive conhecimento de que Monteiro Lobato traduziu inúmeros clássicos das mais diversas línguas. Mas, a nível de curiosidade, pesquisei um pouco sobre a forma como esse trabalho de tradução acontecia, e encontrei um artigo de autoria da Prof. Drª. Míriam Giberti Páttaro Pallotta da UNIP, trazendo reflexões acerca da tradução de Monteiro Lobato na obra Fábulas. Apesar de ser a respeito de outro livro, nesse texto é possível compreender o estilo de tradução de Lobato. A professora explica em seu artigo:
"A trajetória de Lobato como tradutor foi marcada por dois princípios, sempre ressaltados por ele: uma boa tradução mantém-se fiel à “idéia” do autor traduzido, mas não necessariamente à sua linguagem; o tradutor deve criar um texto prazeroso e claro para o seu leitor. As modificações de linguagem, segundo suas próprias palavras, deveriam promover a sua “atualização” ou “abrasileiramento”.
Fonte: http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/065/MIRIAM_PALLOTTA.pdf
Confesso que isso me PREOCUPOU. Uma história de cachorrinhos sequestrados e escravizados no trabalho de transporte de objetos/pessoas no meio da neve é uma realidade muito, muito diferente da brasileira e acreditava ser muito difícil essa "atualização".
Entretanto, ainda não tive a oportunidade de ler o original (o que farei em breve) e não posso afirmar que houve mudanças drásticas ou que algo importante tenha sido perdido nessa tradução. O farei em breve... Mas, confesso que a princípio, a tradução da obra muito me agradou. Não percebi nada forçado na tradução, e consegui pegar o espírito narrativo, riquíssimo e detalhista de London nas entrelinhas, ponto positivo para o autor do eterno Sítio do Picapau Amarelo. ---------Futuramente faço um update quando ler em inglês, afinal a obra é de domínio público há tempos e é facilmente encontrada na internet.-------------
Quanto ao livro em si, em pouco menos de 200 páginas, acompanhamos a trajetória do cão Buck. Buck, era o cão de guarda do Juiz Miller, em Santa Clara, uma terra ensolarada e feliz, onde o fofo cachorrinho reinava de forma absoluta. O ouro descoberto no Alasca, entretanto, atiça a ambição dos norte-americanos, o que faz com que Buck seja roubado de seu antigo dono e vendido para trabalhar como cão-puxador-de-trenó na região do Rio Klondike, no Canadá. Nessa desventura, Buck aprende a lei dos homens, do porrete e do dente... E principalmente, redescobre o chamado selvagem que pulsa dentro dele, o eterno lobo que uiva dentro de cada cão.
A jornada de Buck é repleta de dissabores. O cão sofre uma transformação, paulatinamente, de vítima à predador. Essa mudança, todavia, é comprada com o chicote e o porrete. Mesmo os leitores que não são fãs de cachorros irão se emocionar com Buck e torcer por ele. Buck demora para reencontrar o amor humano, mas o recebe. E essa é a melhor parte do livro, quando Buck encontra um novo melhor amigo, um ser humano pelo qual ele seria capaz de fazer qualquer coisa... Sentimento que creio que a maioria dos cachorros têm dentro de si de forma natural. Todo o sofrimento de Buck é recompensado no período que passa ao lado de John Thornton, bem como a melhor cena da obra está nessas páginas. A aposta que Thornton faz em Buck, e a confiança que deposita em seu fiel cão é de encher os olhos, e para mim, valeu a leitura de todo o livro.
É um livro curto e de fácil compreensão, mas que em nenhum momento se reduz ao superficial. Jack London mostra que em poucas páginas dá conta do recado, em uma história que encontra e fascina leitores pequenos e adultos há mais de 100 anos.