Cinefilia

Cinefilia Antoine de Baecque




Resenhas - Cinefilia


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Mário 24/06/2020

Uma pesquisa histórica sobre a crítica cinematográfica
Realmente é um documento vasto sobre a cinefilia, mas sob o viés da crítica de cinema (embasado com muita propriedade, entre biografia, relatos e documentos), percorrendo a relação destes, por exemplo, com aberturas e fechamentos políticos. Traça um panorama interessante de escolas, influências e filiações. Contudo, confesso que esperava mais desse livro, é uma publicação interessante para estudar/pensar/traçar uma genealogia da crítica cinematográfica, para aprofundar o conhecimento sobre a história do Cahiers du Cinéma, da Nouvelle Vague enquanto movimento dentro de uma ideia de cinema. Me senti mais contemplado (na minha expectativa inicial com essa leitura) em alguns fragmentos de críticas, em alguns embates de perspectivas que ele traça (como em torno do formalismo, misé en scene...), para pensar cinema mesmo (através mas também para além da história da crítica). O livro tem momentos cansativos, onde envereda demais em melindres entre os críticos, as ousadias do jovem-Truffault, dificuldades financeiras do Cahiers, conservação dos rolos da Cinemateca... Mas tem capítulos fantásticos, como sobre o Bazin, Sadoul (e a crise stalinista na cinefilia francesa de esquerda), o impacto do Hitchcock (para os jovens críticos que viveram a abertura para o cinema estadunidense versus os críticos que viviam o fechamento e o enaltecimento da qualidade francesa) e a "eretomania cinéfila". "Só" esses já valem o livro, o resto foi lucro (ou excesso).
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Elvis Pinheiro 23/04/2017

Cinema no sistema
Li-o no grupo de estudos SÉTIMA de cinema. E posso garantir que ele é leitura obrigatória. Focando no período que vai do fim da Segunda Guerra até o início dos anos 60, Antoine centrou-se na Paris destes tempos, nos críticos da Cahiers, na Nouvelle Vague, na Cinemateca de Langlois... Um momento em que tivemos crítica, produção, leitores e espectadores envolvidos.
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Juan 27/12/2015

Cinefilia: a história de uma paixão
Faz pouco tempo que terminei de ler o livro escrito por Antoine de Baecque, Cinefilia. Uma obra dedicada em descrever a paixão pelo cinema. O autor conta sobre a origem, o desenvolvimento e o ápice do movimento cinéfilo na França. País onde esse “vício” nasceu e adquiriu dimensão internacional, influenciando toda uma cultura pelo mundo afora. O presente texto não pretende resenhar o livro, mas apenas comentar algumas questões levantadas pelo escritor e jornalista.

A primeira coisa que me chamou a atenção no livro foi Baecque dizer que a história da cinefilia era a história de como os filmes eram vistos e revistos. Para os cinéfilos, a significação da obra fílmica adquire um sentido que extrapola o da película. Por isso, ele define em algum momento a história do movimento cinéfilo, como a história de uma cerimônia. Sentar nas primeiras filas do cinema, defender apaixonadamente os diretores e atores, ler as publicações sobre cinema. Todos esses hábitos fazem parte da cerimônia cinéfila.

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Truffaut e Alfred Hitchcock. A reunião desses dois mestres produziu umas das obras mais importantes da cinefilia Hitchcock/Truffaut .
Segundo Baecque, a cinefilia se torna mais que um pano de fundo, uma acolhida, uma legitimação, é uma interpretação que imprime reflexão à história do cinema. “Essa acolhida é suscetível de esclarecer uma maneira de contar e compreender a história do cinema”.

Os filmes que traduzem o sentimento dos cinéfilos franceses são daqueles diretores, que apesar do sucesso de bilheteria, não fazem parte do “discurso intelectual”. Os Longas-metragens dos diretores Howard Hawks, Fritz Lang, John Huston, Alfred Hitchcock e John Ford são os eleitos. Neste sentido, essa paixão não é um culto do “amor maldito do artista rebelde e marginal”, mas um projeto de transferência de discurso. Os cinéfilos aplicam aos cineastas que fazem parte do sistema comercial um olhar e palavras anteriormente reservados aos artistas e intelectuais de renome. Paris recebe o espetáculo, o assiste e compreende graças ao movimento cinéfilo, que produz uma contracultura, a partir de filmes considerados de segunda ou B.

Segundo o autor, o movimento cinéfilo seguia um roteiro mais ou menos da seguinte forma:

Um cineasta, decerto conhecido mais incompreendido, ou invisível como artista, em seu próprio país, é valorizado pela cinefilia parisiense. Seus filmes são vistos, notados, as revistas apoderam-se dele aos golpes de críticas e filmografias comentadas e, logo, programações especiais são organizadas por algumas salas. Em seguida o próprio é contatado, convidado a ir a Paris por determinados cineclubes, convocado para longos encontros e entrevistas. A entrevista é publicada de um ou vários textos enaltecendo seu estilo, sua mise em scéne marcante de filme para filme – publicação aguardada de preferência no Cahiers du Cinéma, a pequena revista (5 mil exemplares) de capa amarela criada em abril de 1951, referência mais importante para os cinéfilos. E alguns anos mais tarde, depois de os jovens críticos dos Cahiers du Cinéma ficarem famosos, aqueles artistas secundários de Hollywood ou de Roma, já cineasta em Paris, são revistos, depois defendidos e estudados nas universidades americanas e italianas.

O mais impressionante é a que nada autorizava a cinefilia desempenhar esse papel de instância de legitimação cultural. Os cinéfilos são geralmente autodidatas situados fora da cultura literária, filosófica ou universitária. Também não possuíam nenhuma influência econômica ou política. A cinéfila era um grupo de algumas centenas de entusiastas, que não lotou as salas de cinemas dos anos 1950.

redação achiers
Os Cineastas Claude Lelouch, Jean-Luc Godard, François Truffaut, Louis Malle e Roman Polanski em uma conferência de imprensa durante o Festival de Cannes, em maio de 1968.
Um dos filmes que Nouvelle Vague aprendeu a ver foi Monica e o Desejo, rodado por Igmar Bergman em 1952. Os “jovens Turcos”, como eram conhecidos os críticos que formaram a redação da Cahiers du Cinéma, aprenderam a ver nele um corpo, um olhar, a essência do cinema, que poderíamos definir como um olhar dirigido para corpos e organizado no espaço fílmico.

É claro, que os cinéfilos não seriam nada senão fossem os cineclubes, lugar onde se encontraram e se reconheceram. Entre os milhares que existiam na frança havia um lugar especial, onde “formaram uma turma”, é o cineclube do Quartier Latin (CCQL), comandado por Eric Rohmer, bem como as duas pequenas revistas que dele surgem, Le Bulletin du CCQL, primeiro, depois La Gazette du Cinéma, em 1950 e 1951.

Também a história da cinefilia ficaria incompleta, sem um dos personagens mais importantes da história do cinema na frança, André Bazin:

A força de André Bazin na época é situar-se no cruzamento da maioria dos caminhos dos “mordidos pelo cinema”: ele é o homem-encruzilhado da cinéfila francesa. Criador de cineclubes, tanto populares quanto mais seletos e intelectuais, crítico e teórico nos jornais e revistas especializados, pai espiritual dos “jovens turcos” rebeldes dos Cahiers, mas não obstante próximo dos menos progressistas, Bazin é um apóstolos do cinema, homem capaz de ser escutado por todos.

A influência

Fiz os recortes dessas passagens citadas, pois resume de maneira extrema a história da cinefilia. Instigando os interessados a buscar mais informação sobre a história deste movimento. Acredito que a grande questão do livro, como o próprio autor diz é entender a história cultural do cinema. Não somente das idéias expostas no filme pelo diretor e roteiristas, mas das opiniões da crítica e de um público apaixonado, que busca no cinema uma forma de formação cultural.

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Filmagens do Acossado, filme de Jean-Luc Godard.
Bazin, o homem da encruzilhada, organizava sessões de cinemas nos círculos operários e os ajudava a entender o cinema. Os cineclubes foram formados por diferentes matizes políticas no pós-guerra, dos católicos aos comunistas. As pessoas tinham sede de cultura, pois durante a guerra havia limitações de acesso não só dos produtos básicos, mas da cultura. Quando o conflitou encerrou a sede por produtos culturais era tanta como por alimentos.

Um dos pontos interessantes dessa história é que os cinéfilos, pelo que se entende no livro não são apenas amantes da sétima arte, mas militantes do cinema. Possuem seus críticos, filmes, diretores, autores e preferências que defendem da mesma forma que os militantes de causas políticas. Isso parece algo um pouco perdido durante o período recente, a crítica nos jornais parece mais superficial e os cinéfilos mais isolados.

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Incompreendidos, filme de François Truffaut.
Mesmo assim, acredito que esse espírito adormecido durante as décadas passadas pode estar mudando. Um dos motivos para ler o livro, foi tentar contextualizar o momento atual. Afinal, os downloads ajudaram milhares de amantes de filmes a acessar diferentes obras, que sem essa alternativa ficariam restritos aos festivais e as regiões onde foram produzidos. A existência de milhares de blogs de jornalistas, artistas e “leigos” que discutem cinema e produzem uma contribuição à cultura cinefilia, demonstra uma nova forma deste movimento.

O movimento cinéfilo, como existiu na frança e em outros países durante as décadas de 50, 60 e 70 provavelmente não retorne mais. As novas tecnologias podem estar dando outro sentido a este movimento, que consegue recuperar o espírito entusiasta dos apaixonado pela sétima arte. O cinema e a cinefilia não estão perdidos, nem mortos apenas adquirem novas formas e estão ganhando um novo fôlego.

site: https://clubedecinemaoutubro.wordpress.com/2015/03/17/cinefila-a-historia-de-uma-paixao/
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