Mr. Jonas 04/02/2018
A Rosa do Povo
Drummond é o maior poeta da literatura brasileira ao lado de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto. Seu aparecimento nas letras nacionais, em 1930, comprovava a maturidade da estética modernista entre nós. No entanto, o poeta conseguiu imprimir marcas pessoais ao modernismo. De um lado, na postura mais desconfiada diante do deslumbramento pela cidade grande que os modernistas sempre demonstraram. O progresso sempre mereceu do poeta mineiro um tratamento entre a ironia e o desprezo.
De outro lado, pelo sistemático desrespeito ao ambiente nacional por excelência, a vida no campo, diante da qual Drummond sempre assumira uma posição crítica. Descontente no campo e na cidade, ele encarnará a figura prenunciada no primeiro poema de seu primeiro livro: o poeta gauche, expressão do incômodo diante da vida e do mundo.
Se nos primeiros livros evidenciou uma forte marca subjetiva em seus poemas, ao longo dos anos 1930 foi se abrindo cada vez mais para experiências de contato social, de coletivização. Algumas das causas dessa mudança de posicionamento estão ligadas ao contexto social de iminência da guerra na Europa e endurecimento do regime de Getúlio Vargas no Brasil.
O livro A Rosa do Povo é o marco mais consistente desse momento da carreira de Drummond. Nele, o poeta dá forma literária ao compromisso ideológico assumido em sua vida pessoal. O mineiro assumiu a posição de co-diretor do jornal Tribuna Popular e de porta-voz do Partido Comunista Brasileiro, comandado por Luís Carlos Prestes, que convidou Drummond para a função.
A coletânea é constituída por 55 poemas, que representam as principais linhas temáticas do poeta. Tais linhas foram definidas por ele mesmo, ao organizar uma coletânea de sua obra em 1962. Naquela ocasião, Drummond dividiu sua produção em nove temas: o ponto de partida era o indivíduo, envolvendo a relação com a cidade natal e a família. O leque se amplia no contato com os amigos, com a sociedade e com a experiência amorosa. Essa colocação no mundo se dá sempre na condição de poeta, razão pela qual a poesia se torna um tema fundamental, inclusive no que ela possa ter de inovação, na tentativa de expressar a perplexidade diante do mundo.
Embora todos eles estejam representados em A Rosa do Povo, isso ocorre de forma irregular, já que as temáticas do indivíduo, da sociedade e da poesia aparecem de forma mais contundente. Essa circunstância conduz a uma conclusão geral sobre a obra: o livro traça uma relação entre o indivíduo e a sociedade, relação que ocorre por intermédio da poesia.