luvimacos 27/10/2010
A Rosa do Povo, publicada em 1945, aparece como a representação da maturidade que o poeta, Drummond, alcançou desde sua estréia. No livro aparecem acentuado progresso técnico-formal, o realismo social não se restringe, apenas ao lirismo da poesia engajada; a poesia metapoética, alimentada pela reflexão introspectiva sobre o sentido da escrita como obra de arte.
São 55 poemas, alguns longos. Onde desfilam os principais temas de obra Drummoniana: o verso livre e a estrofação irregular alternam com versos de métrica tradicional dispostos em estrofes regulares; o estilo ora é "puro"(elevado, "poético" ), ora é "mesclado"(mistura de elevado e vulgar, sério e grotesco).
É uma obra de linguagem poética com participação social. Os poemas foram escritos nos anos sombrios da ditadura de Vargas e da Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos provocam o poeta, que se aproxima da ideologia revolucionária anticapitalista de inspiração socialista, e manifesta sua revolta e sua esperança em poemas indignados e intenso.
Sob temas tais como: eu-estar no mundo ( o amor, a família, o tempo, a velhice),
a metapoesia (poesia pela própria poesia),
eu igual ao mundo,...
Dessa forma, o poeta testemunha sua reação ante a dor coletiva e a miséria do mundo moderno, com seu materialismo, sua falta de humanidade. Os temas, e a forma como o poeta os aborda enriquece sua essencialidade lírica e emocional, levando o poeta, através da profunda consciência artística, a atingir: a plenitude, a cristalização, a humanização, da forma suave e terna, com que Drummond mergulha no seu sentimentalismo para melhor compreender: a "máquina do mundo", a angústia de seu tempo, e o homem contemporâneo, com um largo sentimento de fraternidade como aparecem no poema Mãos dadas
“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.”
Nas composições mais expressivas desta coletânea, o poeta se utiliza da estratégia semântica — a prosódia dura, metálica, corrosiva, que apaga a ilusão, a "aura" de poesia elevada, mesclando-se à prosa, ao mesmo tempo em que desfaz a suavidade e a singeleza dos croquis ingênuos e sentimentais. O engajamento político e estético de Drummond, a sua "faca só lâmina", manifesta-se no tom crítico, na escolha do léxico, nos cortes abruptos e ágeis, na sobreposição de imagens contundentes, no alinhamento de metáforas vigorosas e nos temas retirados do entorno temporal. Por vezes, há quase um expressionismo, sem abdicar dos contrapontos da linguagem, dos jogos de anáforas e metonímias: