Ju 01/06/2020
Mau Agouro
O livro Pandemias foi escrito como um compilado de doenças passíveis de se proliferarem a tal ponto de se tornarem pandemias em um momento em que ainda não havíamos vivenciado uma (publicado em 2011). O autor apresenta 12 capítulos, sendo divididos por doenças com potenciais de alta contagiosidade e/ou letalidade.
Em vários momentos, percebi-me atraída e conectada ao enredo, fica bem evidente o vasto conhecimento do autor sobre o assunto e a sua sagacidade em explicar temas complicados de forma compreensível em uma linguagem e explanação voltada para o público em geral, não tão acostumado com termos médicos.
Além disso, o dr. Stefan Cunha Ujvari conecta o livro através de um matiz sombrio, já evidenciado pelo design da capa e confirmado pela escrita. Repetidas vezes ele termina uma suposição da provável etiologia da futura pandemia com afirmações ou interrogações, como por exemplo na pág.23:
“Uma coisa é certa: vírus semelhantes ao da SARS estão por aí, nos morcegos, em qualquer lugar do planeta, aguardando a oportunidade de encontrar uma ponte para atingir o homem...Novamente seremos surpreendidos pelas notícias da mídia: ‘O Organização Mundial da Saúde alerta o início de uma nova pandemia”.
Entretanto, confesso que o livro não conquistou meu coração por inteiro. Por vezes foram momentos de relutância para o retorno, seja pela digestão lenta de suposições tão factíveis e tenebrosas, seja pela falta de envolvimento tão presentes em várias ocasiões, e faltosa noutras. Senti por vezes que muitas informações eram jogadas, apenas, e que o livro poderia ser apenas um ensaio – o começo de um trabalho mais lapidado e quiçá aprofundado.
Não me interprete erroneamente: o livro tem muita pesquisa e informação, apenas me pareceu superficial perto do quanto poderia ter sido feito através do autor e com uma ligação entre os fatos mais bem definida.
Um dos pontos-chaves levantados pelo o autor e que creio será tema de estudo e exaustivas discussões – se já não são – será a relação entre a globalização e a ocorrência de pandemias, como é descrito na pág.163:
“Pouco a pouco, os microrganismos conquistavam o planeta, apanhando carona no desenvolvimento humano dos meios de transporte... Hoje, percorremos o mundo em 24 horas no interior de aeronaves, e qualquer agente infeccioso pode desembarcar do outro lado”.
Por fim, pessoalmente, talvez o livro poderia ter sido organizado de uma maneira diferente. Não sei se foi opção do autor por um movimento artístico à estética do texto, mas senti repetindo e repetindo um mesmo ponto em vários capítulos – o que tornou a leitura um tanto monótona.
Embora tenha todos esses pontos, os momentos do livro em que me envolveram foram muito bons e sinceramente há capítulos que você simplesmente lê e relê, imagina, absorve, por vezes, incorpora um sentimento de alarmismo que creio tenha sido bem proposital.
O livro vale a pena ser lido – diria até que entregue – para autoridades políticas com a finalidade de apreenderem esse mesmo tom alarmista em suas decisões tanto com o momento vigente da COVID-19 quanto futuro com relação a tantas doenças infectocontagiosas que podem vir a se tornar mais sérias ainda do que já são: vulgo capítulo sobre as superbactérias, tuberculose e HIV sem nem mencionar as claramente importantíssimas passagens sobre os vírus (sejam eles os respiratórios, desencadeadores da síndrome febril hemorrágica ou de encefalite e meningites).