Aléh 25/10/2023
Resenha de O Plano Perfeito
Antes de qualquer coisa acho importante pontuar que esta é a minha primeira leitura do autor.
Falando de forma geral, sem spoilers, é um livro que envolve bastante poder, pessoas que vivem pela busca de poder, mais e mais. Também, sobre política, visto que existem dois personagens bastante importantes para a trama que são/começam prestes a ser parte da política; há, também, muita coisa relacionada ao jornalismo, uma vez que grande parte dos outros personagens tão importantes para a história atuam nesta área. Posso dizer que as primeiras páginas passam a impressão de ser um romance bobinho, daqueles que a mocinha começou decidida a não se deixar ser magoada por homem nenhum, num dia conhece alguém e se atrai profundamente, já escrevendo em seu diário que encontrou seu futuro marido; porém, esta impressão passa antes mesmo do começo do segundo capítulo, quando há uma reviravolta inesperada neste relacionamento e se cria todo o enredo da história.
Existe aqui uma mulher bastante forte, inteligente e determinada. Um homem que começa a se mostrar sedutor, pegador, mas também bastante humanitário, de certa forma, dentro da política. E, também, existem outros personagens bastante interessantes que vão dando tom à história, inclusive muitos que vão aparecendo ao longo da trama.
Algumas coisas me irritaram neste livro. A primeira delas com certeza é o quanto os personagens masculinos em geral objetificavam as mulheres. Talvez seja o comum da vida real, porém me incomodou muito estar de frente a estes personagens, presenciar estas cenas e sequer poder “puxar suas orelhas” de forma produtiva. Outra coisa que me irritou foi o quanto este livro fala sobre os Estados Unidos (apesar de também mencionar de vez em quando outros países), e o quanto entender sobre história, principalmente a deste país, ajudaria na compreensão profunda da leitura. Principalmente sobre todas as questões políticas. Porém, esta é uma autocrítica, visto que eu escolhi ler o livro, sabendo que o escritor é estadunidense e seria quase certeza absoluta de que a história do livro também se passaria lá. Entretanto, da mesma forma, serve como uma reflexão, do quanto nós, brasileiros, costumamos não só ler, mas consumir conteúdo de entretenimento em geral, produzido por Estadunidenses, o quanto nós não temos a cultura de valorizar o entretenimento da nossa nação.
Bem, voltando a este livro, não é uma coisa que me irritou, mas que levemente me incomodou: a quantidade de personagens presentes na história, pois, mesmo que aparecesse só por um evento, poderia trazer informações bastante relevantes para o desenrolar da trama (o que muitas vezes aconteceu), dessa forma, até por se tratar de nomes complicados e incomuns no Brasil, em alguns momentos me gerou a vontade de pegar um caderno e anotar, nomes e funções, para sempre dar uma olhada quando fossem mencionados (inclusive porque mais para o final do livro menciona coisas que aconteceram no meio do livro, mencionando os personagens, então eu gostaria de saber exatamente quem eram), mas não o fiz, apenas voltei vez ou outra algumas páginas para encontrar a primeira aparição do personagem onde o apresentava, deste modo acredito que não seja algo que possa dificultar o entendimento da história.
Para terminar essa primeira parte da minha resenha, digo que foi um livro que li em duas noites (o que pra mim é bastante rápido, eu costumo abandonar bastantes livros, e os que consigo terminar de ler costumo demorar mais de cinco momentos de leitura), até pela curiosidade que cada acontecimento vai despertando. E, também, que o autor não deixa pontas soltas muito visíveis, consegue ir encaixando os acontecimentos (fazendo ou não sentido) ao longo da história. Porém, não é um livro que se encaixa nos meus gêneros literários favoritos, teve uma parte apenas que envolveu investigação criminal que me agradou bastante, apesar de ter personagens envolventes (no meu caso me apaixonei por uma personagem bastante importante e por um personagem que aparece minimamente), classifico “O plano perfeito” com duas estrelas.
Ah, e o final não é o óbvio, foi algo que eu não esperava. E achei que, de certa forma, fez sentido.
ATENÇÃO: Spoilers sobre momentos fortes e/ou mortes.
Há uma morte, que é previsível, de personagem que aparece um pouco, algumas mortes como “queima de arquivo” e algumas mortes de personagens que não aparecem na história mas interferem. E, mostra situações humanas bastante degradantes que, em pequena escala, pequena mesmo, melhora.
ATENÇÃO: Demais spoilers a partir daqui.
Preciso começar esta parte falando de Dana. Que personagem incrível! Adorei a perspicácia dela de pegar as notícias antes do resto do pessoal ver, a forma como ela lutou para mostrar para as pessoas que ela era uma boa repórter… A vontade dela em ajudar as outras pessoas, isso foi o que mais me encantou! O abrigo improvisado que ela arranjou para crianças desabrigadas em Saravejo não me surpreendeu, mas me ganhou. Eu queria muito uma continuação deste livro com ela, mostrando a cobertura dela agora através da Casa Branca. E o maior desenvolvimento do personagem do Kamal, todos seus traumas e evoluções. Acredito que são dois personagens bastante promissores e que foram pouco trabalhados neste livro, apesar de Kamal ter sido adotado e Dana ter aparecido nos primeiros capítulos e ter se enfiado em situações bastante perigosas tanto indo realizar seu sonho de ser correspondente em Saravejo, quanto quando foi à casa de Marianne Gorman receber seu relato sobre Peter Tager. Ainda sobre Dana, senti uma pequena ponta solta no livro, lembro que Oliver se encantou com a beleza da repórter quando a viu na televisão, e conhecendo o jeito dele, esperava alguma reação, alguma paquera, qualquer coisa quando os dois se conheceram pessoalmente. Mesmo que ele não fosse paquerá-la, poderia ter algum comentário tipo “era ainda mais linda pessoalmente”.
Bom, como falei anteriormente, achei Leslie uma mulher muito inteligente, porque ela conseguiu comprar tantos jornais, administrar tudo, pensar em cada parte de cada coisa… Fiquei pensando se os dias dela eram mais longos do que o comum, ou se ela vivia num modo de velocidade super rápida (tipo superpoder mesmo kk). E isso tudo tendo vivenciado algo tão triste e desolador que foi descobrir que seu noivo não só não seria o seu marido, mas que também já estava casando com outra. Sem nenhum fechamento desta relação. E podemos testemunhar o quanto isto a tornou uma pessoa fria, tanto que era chamada de Princesa de Gelo.
Desde o começo eu já sabia que algo havia com Oliver, mas não esperava que ele fosse somente sumir antes do casamento. E ainda casar com Jan, uma ex-namorada! Isso me deixou irada. Ao longo do livro segui com muita raiva deste personagem, por isto e pelo tratamento dele com as mulheres, realmente só as via como um objeto sexual. E não acredito que no fim ele tenha mudado este comportamento, por mais que tenha reconhecido que Jan era importante e decidido dar mais atenção à ela.
O personagem que eu mais odiei, com toda certeza, foi Todd Davis. Seus preconceitos, sua visão limitada dentro da política, a atração gigantesca que sentia pelo poder… Enfim, sua vontade imensa em manipular os outros. No final, fiquei estranhando bastante quando ele concordou com Oliver sobre a declaração de fim de guerra. Me pareceu muito que ele estava inventando mais uma manipulação, que estava tramando mais algum plano mirabolante. E, sinceramente acredito numa forte parceria entre ele e Peter Tager nos crimes. Acredito que um final melhor, mantendo Peter Tager como o responsável pelas mortes, seria investigarem a longa relação entre ambos e chegarem no Todd. Ou, que Peter acabasse admitindo que as ordens vieram de Todd, porque seria mais fácil pra ele fazer sem ser pego do que para o senador.
Falando em esconderijo, fiquei me questionando como Oliver saía para o apartamento afastado que Todd conseguiu para ele sem perceberem o seu carro, mesmo que fosse um mais discreto. E, também, como Peter, tendo tanta relevância dentro dos meios políticos (mesmo que não tivesse cargo), consegue se deslocar e não ser visível.
Enfim, é isso, deixo o último pensamento de Dana do livro para finalizar minha resenha: “Uma guerra chega ao fim. Talvez seja um início. Talvez um dia tenhamos um mundo em que os adultos aprendam a resolver seus problemas com amor em vez de ódio, um mundo em que as crianças possam crescer sem jamais ouvir os sons aterradores de bombas explodindo e metralhadoras disparando, sem medo de que seus braços ou pernas sejam dilacerados por estranhos sem rosto.”