Mari 15/08/2020
Gostei, mas fiquei meio dividida
Não é todo tipo de poesia que me agrada. No caso de Kaváfis, gostei bastante dos poemas sobre seus relacionamentos "proibidos" e a rejeição da própria sexualidade (se em 2020 é difícil para muitas pessoas se aceitarem e serem aceitas, que dirá 100 anos atrás). Mas os poemas que abordam mitologia e história são um pouco enfadonhos, e olha que eu me interesso por esses temas, principalmente da Grécia.
"O SOL DA TARDE
Este quarto, este quarto eu o conheço bem.
Agora está alugado, assim como o vizinho,
para fins comerciais: a casa toda ocupam
escritórios de câmbio e vendas, companhias.
Ah este quarto, como me é familiar.
Ali, ao lado da porta, ficava o divã
com um tapete turco à sua frente;
na estante perto, dois vasos amarelos.
A direita, não, defronte, um armário de espelho.
Bem no centro, a mesa onde escrevia
e as três grandes cadeiras de palha.
Debaixo da janela estava o leito
onde tantas vezes nos amamos.
Pobres móveis, hão de ainda existir nalgum lugar.
Debaixo da janela estava o leito;
o sol da tarde lhe chegava até a metade.
Foi de tarde, às quatro horas, que nós dois nos despedimos
por uma semana só. . . uma semana,
ai de mim, que se fez eternidade."