Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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João Luiz 04/07/2018

O jovem André sofre por um amor impossível, e vê na fuga de casa a única saída para aquietar o coração. Uma leitura interessante, recheada de sentimentalismo. O grande livro do Raduan Nassar!
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Biblioteca Álvaro Guerra 22/06/2018

"Drama tenebroso, em estilo incisivo, nunca palavroso ou decorativo, da eterna luta entre a liberdade e a tradição[...]"

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site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788571640337
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Julio.Argibay 03/05/2018

O sofrimento do jovem Andre...
Primeira vez que li este autor brasileiro: Raduan Nassar. O romance eh angustiante e algumas passagens sao bem difíceis de acompanhar. Quanto ao personagem, ele sofre por um amor impossível e a fuga, talvez seja, a solução mais adequada. Por quanto tempo? E quais as consequências? Esteja a vontade...
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Mari Bijotti 26/04/2018

"esse rio largo que não cansa de correr, lento e sinuoso..."
Um dos livros mais belos e poéticos da literatura brasileira que já li até o momento, Lavoura Arcaica conta a história de André, a "ovelha negra" de sua família. Mais do que isso, penso que a obra trata de uma questão bastante universal: o tempo, outro personagem principal da história, ao meu ver. "Ai daquele, dizia o pai, que tenta deter com as mãos seu movimento". A rebeldia contra as imposições desse rio chamado tempo e suas consequências para as gerações presentes e futuras é um dos temas dessa obra maravilhosa.
De forma sensível, Raduan Nassar transgride os limites entre prosa e poesia, ao utilizar uma linguagem extremamente poética, acompanhando os pensamentos e relatos do narrador sobre seu núcleo familiar, sua fuga e seu retorno - a volta do filho pródigo.
Livro para ler, reler, se deliciar, se emocionar: é, de fato, uma leitura impactante, cheio de aprendizados e deleites. Recomendadíssimo.
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Leila 25/03/2018

Lírico, imagético, cru
Não raro me empolgo com as leituras que faço, no entanto, poucas me deixaram tão desconcertada. Não esperava pouco de Raduan Nassar, mas as experiências sensoriais e as reflexões proporcionadas por esse livro me deixaram aturdida. Lavoura Arcaica é visceral, mas também repleto de lirismo, símbolos, imagens e belíssimas considerações sobre o tempo. Enfim, uma prosa poética fascinante.

?O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza, não tem fim [...] onipresente, o tempo está em tudo [...] aquele que exorbita no uso do tempo, precipitando-se de modo afoito, cheio de pressa e ansiedade, não será jamais recompensado, pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas ...?
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Carla 29/01/2018

prosa poética no mundo rústico...
Um livro maravilhoso escrito em prosa poética de forma magistral por Raduan Nassar. No decorrer a leitura eu me pegava lendo em voz alta para sentir toda a aura do livro, da história e para sentir sobretudo a família, cada um dos personagens. Todos os personagens têm papel fundamental na narrativa, nesta família que ao longo de sua história foi falhando em sua comunicação, trazendo dor, tensão e sofrimento.
A narrativa traz a história de André, que cansado da vida rural e sentindo-se sufocado pelo amor incestuoso que sentia pela irmã Ana, foge de casa, mas acaba cedendo aos apelos de seu irmão mais velho Pedro e de sua mãe e volta para casa, dando a sua família um trágico final.
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Anoca Freitas 02/01/2018

Um sem-fim de poesia
Se eu tivesse lido "Lavoura arcaica" em 2017, acho que teria sido o melhor livro, porque é um texto recheado de conflitos e reflexões, descritos em metáforas extremamente poéticas. Como falei em publicação anterior, há, em cada linha, um sem-fim de poesia. Cada página tem algum ensinamento, ora simbólico, ora direto e cru, sobre família, valores, moral, amor, virtudes. Sobre o tempo.

Uma das ideias principais é a de que a paciência é a maior das virtudes, porque "só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas" (p. 57), que não podemos dar passos maiores que nossas pernas, porque isso seria "suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa" (idem). Mas aí "eu tinha simplesmente forjado o punho, erguido a mão e decretado a hora: a impaciência também tem os seus direitos!" (p. 92). É tudo muito humano.

É um livro que rememora que há "o tempo de aguardar e o de ser ágil"; que às vezes temos as mãos atadas pelas circunstâncias, mas isso não significa que devemos, espontaneamente, atar também nossos próprios pés, mesmo que não nos importemos mais com o rumo do vento, se ele nos leva para a frente ou para trás (p. 165).

Recomendo demais. ?
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Catuaba 03/10/2017

Palavroso e decorativo
O romance Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, lançado em dezembro de 1975, é o relato denso e difícil do personagem e narrador André sobre sua família. É um livro pernóstico, palavroso e supervalorizado.

Exemplo de frase desconexa: “e tudo isso ressurgirá em Ti num corpo adolescente do mesmo milagre que as penas lisas e sedosas dos pássaros depois da muda e a brotação das folhas novas e cintilantes das árvores na primavera;” (pg. 105).

Outra: “...entre as folhas e os galhos, se derramando às vezes na sombra calma através de um facho poroso de luz divina que reverberava intensamente naqueles rostos úmidos...” (pg. 29).

Outra pérola: “... minha boca inerte beijando escaravelhos?” (pg. 72). Ora, saberá o autor que “inerte” é sinônimo de “parado”? Como pode algo estar parado e ao mesmo tempo praticar o ato de beijar?

Destaque para os adjetivos em “cabelos transtornados” (pg. 110), “saliva escusa” (pg. 110), “pó corrupto” (pg. 105), “urtigas auditivas” (pg. 92), “vinho lento” (pg. 190) “ímpeto ruivo” (pg. 75), “mãos precárias” (pg. 44), “sexo roxo e obscuro” (pg. 11), e o impagável pleonasmo “claridade luminosa” (pg. 27).

Há construções que espantam pela prolixidade. Por que falar, por exemplo “meus olhos depois viram a maçaneta” (pg. 10)? Por que não simplesmente “vi a maçaneta?”

O autor enche o texto de “pomos”, “caroços”, “virtudes”, “botões”, “pestilências” e “velas exasperadas carpindo óleos sacros” (pg 107).

São particularmente interessante os comentários do excelentíssimo senhor Alceu Amoroso Lima: “Drama tenebroso, em estilo incisivo, nunca palavroso ou decorativo, da eterna luta entre a liberdade e a tradição, sob a égide do tempo.” Após enunciar que o livro não contém justamente suas características mais marcantes, termina com essa frase brilhante: “sob a égide do tempo”. O que isso deveria significar?
Isolda 05/10/2017minha estante
Oi, cara, tudo bem? Li recente esse livro, a mim indicado por alguém que não o tinha lido e não o super valorizava, apenas ouviu falar do autor e da obra e como sabe que sou leitora jogou no ar. :) Eu gostei muito e é interessante que o que você destaca como lhe causando algum tipo de repúdio na narrativa (não precisamente os trechos aqui indicados, mas o estilo) é o que me atrai para ela. Pretendo ler, ano que vem talvez, o outro título do mesmo autor, que também é valorizado e/ou supervalorizado, embora anunciem com outra pegada e ritmo. Saudações literárias.




r.morel 31/08/2017

Resenha Telegráfica
O único romance de Raduan Nassar que, além desse livro, publicou apenas uma novela e uma coletânea de contos; parou de escrever em 1984 e retirou-se para um sítio. Sorte que a sua prosa poética caprichada ainda pode ser apreciada.

Trecho: “Na modorra das tardes vadias na fazenda, era num sítio lá do bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho; não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor, velando em silêncio e cheios de paciência meu sono adolescente?”

site: popcultpulp.com
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Jéssica - Janelas Literárias 03/05/2017

Invertendo a parábola do filho pródigo, Lavoura Arcaica traz o protagonista André, de 17 anos, que abandona sua família, fugindo da autoridade de seu pai e da paixão que sente por sua irmã Ana, até que seu irmão mais velho, Pedro, o leva de volta para casa. ?
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O enredo aparentemente simples, de raros acontecimentos, dá espaço para que a linguagem se sobressaia. Nassar faz da escrita uma fonte inesgotável para sua lavoura, caracterizada por um acentuado lirismo e composições, minuciosamente elaboradas, de cenas quase sensoriais ou sinestésicas. ?
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A figura do pai desempenha um papel determinante e altamente simbólico na narrativa. O discurso paterno, que sempre aparece para salvaguardar as tradições e valores campestres arcaicos, como a importância do trabalho, da paciência, a negação do corpo e silenciamento das paixões. A palavra do pai é lúcida, bem empregada, proverbial e refinada. Esta rigidez ética e moral, mas também estética, confere ao pai um perfil quase inumano. ?
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André, em sensível contraste, recusa o verbo da família, sua fala é afobada, colérica e explosiva. Com sonoridade marcada, André não diz, André jorra, convulsiona. Sua prosa tem ritmo acelerado e períodos longos o que deixa o leitor sem fôlego, exausto, sem descanso até o fim do capítulo. A gente convulsiona junto, compartilha da sua ânsia e delírio. ?
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Esta polaridade nos discursos, como se pode ver, é completamente definida pelo tempo. A voz paciente e lenta do pai, ante o desespero apressado de André. Mas também é perceptível no próprio conteúdo das falas, quando Nassar contrapõe a visão do pai e filho em relação à percepção do tempo, num dos textos mais lindos que já li em toda a minha vida. ?
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A  família patriarcal é  simbolicamente descrita pela mesa, o lugar em que todos se sentam, e sobretudo pelo lugar em que se sentam. À direita, o galho espontâneo, forte, puro. À esquerda o tronco viciado, a cicatriz, a mãe, silenciosa mãe, que aparece na narrativa quase sem voz, é mais uma presença, um toque, um vulto. A mãe é só tato, o pai é só verbo. Tudo que André almeja é encontrar seu lugar na mesa, mais propriamente, quer a cadeira do pai. ?

Daí vem desejo de ruptura de André, que é expresso já no momento em que ele viola sua irmã, violando também a família, a tradição, a lei, numa luta contra a interdição familiar do desejo, do corpo, do sangue, da alma, enfim. Ele foge em busca de libertação para este corpo, autoconhecimento e formação de sua identidade, que é aplacada pela imposição da repetição da identidade paterna. Mas o seu destino é inevitável, não há fuga da família, "estamos indo sempre para casa".
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Fabíola 25/02/2017

A inversão da parábola
Adiei bastante essa leitura...O avançar de páginas me embriagava com sentimentos maléficos...Raiva, escárnio, nojo, náuseas, incredulidade...
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Uma resenha extremamente difícil de ser realizada.
Como ler tal obra e não permitir que tamanha escuridão invada nosso pensamento...
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O livro é absolutamente lírico, uma prosa poética repleta de detalhes alencarianos e reflexos de Saramago. Nassar conta a história de uma família ortodoxa cristã descendente de libaneses, sendo possível observar o conservadorismo do século XIX.
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É uma obra que destrói de forma contundente vários princípios de uma ordem tradicional do espírito. Sua trama gira em torno dessa família aprisionada pelos grilhões de uma fé cega.
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O livro é articulado através de memórias e digressões do antagonista André.
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A leitura exige um grande amadurecimento literário, percebi que se o lesse a alguns anos atrás não teria aproveitado .
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Tudo se inicia com a fulga de André devido a sua ávida busca...Na verdade uma fome insaciável , uma escuridão perversa...
Toda família sofre com a falta de sua presença perturbadora.
Sua família é composta pelo pai Ióhana, sua mãe , quatro irmãs (Rosa, Zuleika, Huda e finalmente Ana) e por dois irmãos Pedro o tronco grosso, mais velho , e o caçula Lula.
Durante toda história, é preciso um olhar atento para entender o contexto , as reflexões, referências, conturbações psíquicas, o anarquismo de André.
Lavoura arcaica é uma inversão da parábola tão conhecida pelos cristãos do filho pródigo. Neste caso caracteriza um perdão do pai que nunca será aceito, a desunião da família é inevitável e o sexo entre irmãos para mim algo venenoso, inconcebível.
Se já não bastasse o incesto com Ana, (observa-se em todo livro a obsessão por sua irmã, são utilizados diversos recursos estilísticos para retratar de forma bela tão terrível ato...Pomba, Ana e inocência são uma coisa só) André em seu retorno ao conversar com seu irmãozinho sonhador (Lula) não resisti aos seus olhos primitivos que tanto lembram o de Ana e o sodomiza.
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Sua qualidade estética é inegável, possuí uma linguagem elaborada com plasticidade. Arremete claramente a morte da ordem.
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Muito difícil para mim avaliar tal obra. Por isso preferi não dar nota.
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Sergio Carmach 25/02/2017

Um livro que morreu de overdose de LSD (Lirismo Sem Direção) ou Os quatro pecados de "Lavoura Arcaica"
Poucos livros me irritaram tanto quanto “Lavoura Arcaica” (de cabeça, cito “A Casa da Paixão”, de Nélida Piñon, e “Diário de um Sonho”, do desconhecido Carlos Briganti). Lançado em 1975, esse título de Raduan, por suas características, é talhado para atrair um público ideologizado ou alternativo. Há, inclusive, quem veja nessa história uma metáfora crítica ao sistema político-social brasileiro dos anos 70. Assim, não é de se estranhar a histeria elogiosa dos engajados em suas resenhas, em contraste ao desprezo do público em geral pela obra. Simpatizantes do autor podem atribuir isso ao baixo nível dos leitores, mas – mesmo admitindo que a grande massa realmente ama a literatura rasa e comercial – é impossível concordar que o contraponto a essas obras vazias seja a literatura representada por Raduan. Em uma régua de qualidade literária, “Lavoura Arcaica” estaria no extremo oposto aos livros transformados em filmes por Hollywood. Isso não é elogio, pois extremos são ruins. O bom senso está na harmonia, no equilíbrio... O verborrágico, o transbordante e o saturado de luz são tão ruins quanto o mudo, o vazio e o trevoso.

O primeiro suplício para o leitor de "Lavoura Arcaica" está na maneira de escrever de Raduan. Não é incomum capítulos com apenas um parágrafo e um único ponto final. Vírgulas, ponto e vírgulas e dois pontos são a regra; e são esses sinais que unem indiscriminadamente falas, pensamentos e narração. Para olhos massacrados por esse autor, o texto entijolado de Saramago assumirá facilmente a aparência de uma estrutura leve e organizada.

Mesmo que o leitor se acostume com tal bizarrice – tomada por maravilha em função de conceitos fantasiosos sobre o que seria uma verdadeira e sublime expressão artística – ele ainda precisará enfrentar longos mares tormentosos. Como a trama de “Lavoura Arcaica” é simplicíssima (André retorna à fazenda da família depois de ter ido embora para fugir do rigor paterno e do amor incestuoso pela irmã, Ana) e como as situações mostradas não demandariam maiores dramas se acontecessem com uma pessoa média real, o autor apela à pieguice para imprimir às cenas e aos diálogos uma profundidade dramática forçada. Assim, tudo se transforma em um interminável dramalhão, desmedido e irreal. O leitor se vê em meio a uma teatralidade tão patética, que começa a imaginar o protagonista emitindo interjeições exageradas de sofrimento com o antebraço colado à testa e a cabeça jogada para trás. É rir para não chorar! Vê-se que o autor, incapaz de emocionar com o conteúdo por si só, recorreu ao exagero na forma. Resultado: uma história sem naturalidade, sem verossimilhança.

Neste ponto, o leitor já está com dois fardos pesados para carregar, mas Raduan ainda reserva outros martírios para o pobre. Não bastasse a maneira prepotente de escrever (para soar artístico e original aos arrogantes acadêmicos e alternativos) e o uso de uma dramaticidade artificial, o autor incorre em uma verborragia prolixa de agastar até a mais zen das criaturas. Lendo, por exemplo, o apelo de André a Ana na capela, a tagarelice insuportável e sem fim do personagem acaba se transformando em barulho real nos ouvidos. É a primeira vez que palavras escritas me ensurdecem. Uma sinestesia massacrante.

Pensa que Raduan reservou apenas três fardos para o leitor? Não, não. Além de ter que ler um texto desconjuntado, ter que aturar uma dramaticidade teatral e forçada e ter que encarar uma sequência interminável de frases verborrágicas, o extenuado leitor ainda precisará suportar o ultra hiper megalirismo do texto. No livro de Raduan, não importa se quem fala é o narrador, uma prostituta, um fazendeiro xucro ou um jovem sem vivência. Todos os falantes são poetas da mais fina estirpe (até a vaca leiteira muge e o cachorro sarnento late esbanjando lirismo e poesia). E a naturalidade, que já havia sido abalroada pela teatralidade, acaba naufragando de vez.

Esses quatro fardos impedem o prazer de uma leitura fluida. Se um leitor acabar perdendo a concentração ou o fio da trama, a causa provavelmente não estará numa eventual incapacidade sua de compreender a obra, mas no sentimento de (profundo) enfado que certamente o atingiu. Trechos soltos do livro podem enganar os desavisados, pois pequenas transcrições têm o poder de esconder a verdade mais ampla de um texto ruim. É como dar um close nos belos olhos de um rosto disforme.

Como eu disse no primeiro parágrafo, extremos são sempre ruins. Do mesmo modo que “Crepúsculo” ou “50 Tons de Cinza” são péssimos por traduzirem uma literatura comercial e vazia (o extremo em uma ponta), “Lavoura Arcaica” é péssimo por traduzir uma literatura prepotente, artificial e intragável (o extremo na outra ponta). Livros verdadeiramente geniais conseguem ser líricos e profundos sem entediar o leitor e sem perder a capacidade de contar uma história com clareza, conseguem ser dramáticos sem teatralizar, conseguem ser originais sem apelar para palhaçadas; e por aí vai. Temos exemplos disso para todos os gostos, passando por Dostoievski, Camus, Márquez, Cortázar e até mesmo por autore(a)s como Austen.

O mais triste é saber que essa obra pseudogenial (na verdade, medíocre) levou dinheiro de todos os brasileiros, inclusive da parcela majoritária da população que nem a respeita. O cidadão pagou na forma do prêmio Camões, mais uma daquelas invenções de uma panela que adora laurear os seus com dinheiro estatal, e na forma de subvenções à adaptação cinematográfica.

“Tempo” e “paciência” são dois temas centrais abordados pelo livro. Parece que Raduan tocou nessa última questão em causa própria, pois – para terminar a obra e, ao final, não se revoltar com tamanha fuleiragem – o leitor de fato precisará reunir toda a paciência de que dispõe. Quanto ao tempo, acredite, ele será torcido durante a leitura. Enquanto se estiver caminhando pelas palavras de Raduan, um segundo parecerá uma hora. Li o livro em alguns dias, mas parece que iniciei a jornada em outra era.

site: http://sergiocarmach.blogspot.com.br/2017/02/resenha-lavoura-arcaica.html
Ju 26/02/2017minha estante
Concordo totalmente com o que foi escrito aqui. E fico feliz por, finalmente, ter lido uma resenha mais sincera e realista -- sem querer desmerecer muitas outras que li.

Infelizmente, esse livro é leitura obrigatória em um vestibular e, foi assim, que fui obrigada a ler sem ter a opção de abandonar -- não gosto de abandonar, acho que devemos ler para opinar, mas certos livros já começam assustando, como é o caso deste, que começa querendo nos afastar pela estrutura, por exemplo.

Realmente, primeiramente é impactante negativamente a estruturação do livro. Os capítulos não são longos, mas eram compostos apenas por um único parágrafo, sem pontos finais, com usos de vírgulas. Particularmente achei a leitura rápida, mas a sensação foi de séculos lendo. Eu não sou capaz de fazer a contagem de quantos dias levei para ler todo o livro. Afinal, comecei, pausei, refleti sobre como prosseguir, fiquei vários dias sem ler, criei coragem, retornei, pausei novamente.. E, assim, prossegui até finalizar.


Mas de tudo, sinceramente, o que eu achei mais triste foi ter terminado uma leitura nada prazerosa de um livro obrigatório, sem entender por que ele deveria estar na minha lista de vestibular.

Na verdade, eu acho que analisar um livro assim -- no vestibular -- não faz muito sentido... Geralmente, quando os livros integram uma lista de vestibular é porque é considerado um livro positivo de alguma maneira -- mas este, não traz qualquer acréscimo. Poderia, pelo menos, como muitos livros, acrescentar algo positivo na escrita de todos. Mas, como todos sabem, muitos jovens e, inclusive, me incluo neste grupo, ainda possuem dificuldades na escrita, problemas como a pontuação, por exemplo. Não acho que seria algo bom colocar aqueles que virgulam errado -- exemplo -- para ler livros que possuem apenas um parágrafo como capítulo, sem pontuação final no decorrer, mas apenas vírgulas; ou livros sem separação de falas e pensamentos em sua quase totalidade. Parece uma espécie de mau exemplo e ensinamento errado.

Após finalizar, fui em busca de resenhas e achei a grande maioria com alguma espécie de "idolatria" cega. Todos elogiando a poeticidade do livro, seus lirismos e etc. Muito interessante ver como a grande maioria desses críticos amaram e viram a genialidade do autor.

Comecei a repensar se o problema era a minha leitura e interpretação. Mas, concluí que não foi por falta de entendimento que não posso concordar com o que muitos disseram em seus elogios. Mas foi por ver muitas das coisas que você mencionou, e, além disso, ver livros que retratam problemas mais relevantes ou até mesmo, mensagens semelhantes, todos escritos de forma mais agradável, sem exageros, e de leitura mais prazerosa.

Realmente, não posso apenas aceitar este livro como um livro bom. Achei péssimo e não gostei nada de ler. Não acho que mereça tanto foco que cria uma falsa imagem da realidade.


Susy 28/02/2017minha estante
Compartilho de algumas impressões. Essa é uma grande obra devido à grande elaboração que o autor faz da língua, de toda sua forma, seja pela sintaxe ou semântica, pelo uso de metáforas, pelo uso dos símbolos e pela reflexão que se faz a partir do simples e corriqueiro. Mas, de fato, a narrativa não traz nada de novo: uma tragédia como tantas outras já narradas na literatura. Ela exige do leitor, além do esforço pra continuar firme na linguagem "pesada", uma grande abertura para a reflexão das metáforas da vida de André. Ainda assim, se eu tivesse escrito um livro usando a língua de forma tão esplendorosa, passeando tão bem pelas simbologias e metáforas, fazia tal qual Raduan, me aposentaria da escrita, pois a obra prima já estaria alcançada. Não haveria mais nada que eu fizesse que alcançasse o primor dessa obra no que diz respeito à elaboração da língua, ao brilhante uso de metáforas e simbologias. A propósito, você leu "Um copo de cólera"? Do ponto de vista da narrativa, acredito que tenha tido maior destaque que "Lavoura", vale conferir. Gostei muito da sua resenha! Abraço!


Israel 15/04/2017minha estante
Concordo com o que foi dito. O lirismo é exagerado, assim como o tamanho dos parágrafos, e inversamente proporcional à complexidade da trama (enredo simples, típico do autor).

No entanto, o que pode ser considerado como defeito para uns, é qualidade para outros. Eu adoro Lavoura Arcaica, acho que o conflito entre gerações sempre será um tema atual o que faz com que a obra seja atemporal (digno de ser trabalhado em vestibulares). De fato Raduan não é nenhum gênio, mas no meio das porcarias que tomaram as vitrines da literatura nacional pós-moderna, ele é um dos melhores


Ju 06/05/2017minha estante
Sim, concordo contigo vendo por este ponto (atemporaliadade e o conflito), e mais ainda em comparação com a literatura nacional atual :S


João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.


João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.


kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk 15/09/2017minha estante
Falar mais o quê? Traduziu meu dissabor em palavras! Obrigada.


Anjo 02/11/2018minha estante
Pois eu devorei Lavoura Arcaica na tentativa de parar o tempo da leitura e congelar o sentimento que ele carrega e transmite. Enfadonho é o Jogo da Amarelinha que teve a intenção de ser criativo e foi cansativo... Austen e seus conflitos amorosos previsíveis e chaterrismos... cansativo é Hesse com seu Jogo das Contas de Vidro... Lavoura Arcaica surpreende, começando pelo título; o retorno de André foi mais um resgate feito pela mãe que por iniciativa própria... o incesto abordado se forms poetica é incrivelmente original... alias, a volta de André, novo incesto com o caçula? A morte de Ana? Não conseguiria imaginar até ler... sua crítica foi inversamente tão seca que me pergunto que emoções um livro causa em você (?)... o final de Lavoura Arcaica... remete ao desviar roseano... a travessia... "O boi sempre volta ao cocho"


Pedróviz 10/10/2020minha estante
Ótima resenha. Lógico que quando se mexe em ídolos há quem se


Pedróviz 10/10/2020minha estante
...manifeste para defendê-lo com unhas e dentes


Priscila 29/11/2022minha estante
Estou fazendo uma análise dessa obra e estou feliz por ler uma resenha tão sincera. Vi o filme em quase dois dias, porque não consegui em três horas. Estou lendo o livro arrastada. Este é o segundo livro que leio com embrulho no estômago. O primeiro foi Macunaíma. Não ligo para os julgamentos.




Karla 18/02/2017

Conflitos!
" ... (...) trazem na mão a chave mas se esquecem do que ela abre, e, obsessivos, afligem-se com seus problemas pessoais sem chegar à cura, pois recusam o remédio;(...)"


A vontade que eu tive foi de transcrever todo o livro é só então, eu acho, que poderíamos falar sobre esse livro incrível. Mas por motivos óbvios eu não posso trancrever o livro.


Esse é um livro que transborda conflitos. São conflitos dentro das relações familiares, conflitos internos, conflito entre tradição e liberdade, entre o velho e o novo. Enfim, conflitos.


Os pensamentos do narrador são tenebrosos, o ambiente é sombrio e os acontecimento são permeados pela confusão das lembranças de André.


O estilo narrativo de Raduan Nassar é permeado se uma sonoridade quase musical, durante toda a leitura eu juro que quase ouvi ao fundo uma melodia. São palavras bem colocadas, frases que são quase versos de um poema trágico. Uma odisseia do retorno de André ao seio da família, uma quase paródia da parabóla do filho pródigo.


André é a ovelha negra dá família, o filho diferente que se afastou do seio da família e de todas as tradições que os pais ensinaram e impuseram desde criança. No primeiro capítulo vemos que Pedro, o filho mais velho veio a sua procura para levá-lo de retorno a todas as tradições e a tudo de que ele fugiu.


Apesar de ver, na grande parte da narrativa, que André tem um certo desprezo e contrariedade por todos os princípios clássicos nós não conseguimos visualizar se tudo isso o repele verdadeiramente. É uma narrativa quase de miragem, quando estamos a ponto de alcançar um dado nos.perdemos no eterno conflito interno entre liberdade e tradição.


É uma leitura que eu recomendo muito que todos facam, pois como sempre, eu acho que cada um precisa tirar as próprias conclusões sobre essa história.
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ig: rafamedeirosmartins 11/02/2017

Decadência e tragédia
Lavoura arcaica é o grande romance de Raduan, figura excêntrica das letras brasileiras. O autor escreveu pouquíssimo, foi aclamado pela crítica mundial como genial, e exilou-se em sua fazenda em 1984. Nunca mais publicou. Sua obra completa (2 romances e alguns contos) não chega a 500 páginas.
Nosso eremita literário desenlaça uma história inversa do filho pródigo. O filho se desprende da arcaica família paternalista, sufocado pela sua liturgia, e é resgatado pelo irmão mais velho. No entanto, o retorno desencadeia um cenário trágico, com o pai protagonizando o horror dentro de uma estrutura familiar decadente.
A maior riqueza do livro é também sua maior dificuldade: a linguagem. Um lirismo tão virtuoso que faz lembrar Saramago, e, humildemente, este é o melhor elogio que eu poderia dar a qualquer escritor.
Raduan poderia ter sido o maior de todos. Pelo pouco que escreveu já é comparado aos maiores nomes da literatura brasileira. Curiosamente recebeu em 2016 o Prêmio Camões, que representa o grande laureamento da literatura lusófona no mundo.
Imperdível.
Marcos.Azeredo 17/02/2017minha estante
Acabou de ganhar o Prêmio Camões, eu nunca li nada dele.




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