Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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Tiago600 24/11/2016

Quando um simples trecho transcende qualquer análise

"Estou convencido também de que é muito perigoso quebrar a intimidade, a larva só me parece sábia enquanto se guarda no seu núcleo, e não descubro de onde tira a sua força quando rompe a resistência do casulo; contorce-se com certeza, passa por metamorfoses, e tanto esforço só para expor ao mundo sua fragilidade."
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Jhons Cassimiro 11/11/2016

Ao redor da mesa onde a família se reúne para ouvir o Maktub imposto pelo pai, pelo avô, pelo bisavô... do lado direito, se encontram os filhos mais velhos e promissores, capazes de levar à frente as normas do que é certo e justo, garantindo a constância da vida. Do lado esquerdo estão a mãe e os filhos mais novos, considerados o galho fraco da árvore, aquele que apenas ensina afeto e transborda um amor visceral, como se isso fosse pouco.

Existe um jeito antigo de fazer as coisas, de entender o mundo, de se portar na vida.

Maktub. Está escrito que não se pode contrariar as disposições do tempo, se revoltar contra o caminho que ele traça, pois só assim encontra-se o equilíbrio. O equilíbrio que faz a família permanecer unida em torno das leis invisíveis, mas vivenciadas intensamente a cada segundo durante um longo dia de trabalho na lavoura, no arado da terra, no feitio do pão, sem espaço para contestações a respeito de uma possível alteração nesse curso de vida.

O pai ensina as regras a serem vivenciadas, a mãe vive o amor sem ser ensinado. Os filhos mais novos são as "vitimas" desse amor que para eles transbordava com mais intensidade. Mas seria ele suficiente para manter esses filhos dentro das normas que o pai incutia em suas mentes?

A tradição vinha de longe, o tempo era o senhor delas. As regras se formaram e as famílias herdaram o peso de carregar para adiante aquilo que estava escrito. Ninguém seria louco de desafiar o tempo, as regras, pois ao final o resultado poderia ser fatal.

"O mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas, e com as farpas de tantas afiadas tecer um crivo estreito, e sobre este crivo emaranhar uma sebe viva, cerrada e punjante, que divida e proteja a luz calma e clara da nossa casa, que cubra e esconda dos nossos olhos as trevas que ardem do outro lado; e nenhum entre nós há de transgredir esta divisa, nenhum de nós há de estender sobre ela sequer a vista, nenhum entre nós há de cair jamais na fervura desta caldeira insana, onde uma química frívola tenta dissolver e recriar o tempo." [Raduan Nassar em Lavoura Arcaica]

O pai também amava sua família e prezava pela união de seus filhos, mesmo que houvesse entre eles uma ovelha negra, desgarrada. Em sua teoria, estava disposto a trazer de volta e acolher sobre seus braços, o filho pródigo, mas para isso o preço de seu amor seria a obediência as regras sempre impostas.

Não obstante há de se considerar que muito mais arcaicas que as leis da sociedade, são as leis da natureza, onde estão inscritas as forças perturbadoras do desejo.

O filho desgarrado não cumpria os requisitos que o pai necessitava. O desejo estava à solta, o amor que o pai valorizava possuía valor ambíguo, não era incondicional.

"Ao contrário que se supõe, o amor nem sempre aproxima, o amor também desune."

A chama do desejo, da contradição estava acesa e ao contrario do que pensava o pai, deu-se um curso novo ao destino. Ele já havia sido drasticamente traçado, estava escrito. Maktub.

Publicado originalmente em minha página no site:
© obvious
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Sally.Rosalin 15/06/2016

O filho pródigo
Lavoura Arcaica foi um acidente literário de percurso. Na primeira feira de troca de livros do Planetário, ele estava lá disponível. Claro, já conhecia de nome, por isso, o escolhi. O autor, Raduan Nassar, nasceu em Pindorama e cresceu em São Paulo, onde cursou Direito e Filosofia pela USP. Estreou na literatura em Lavoura Arcaica em 1975, autor também da obra Um copo de cólera (próximo dele na lista de espera).
Bom, pelo que li na internet, o estilo é entre o novelesco e o lírico, com bastante recursos poéticos. Isso me fez apaixonar pelo seu estilo. O narrador é em primeira pessoa, o tempo não é linear e na obra conhecemos o núcleo de uma família de imigrantes árabes do Líbano no Brasil. Assisti hoje o filme, então vou colocar o nome dos personagens em parênteses, para economizar tempo. O livro é dividido em duas partes: A partida e O retorno.
André (Selton Mello), personagem principal, criado no meio rural arcaico, foge para uma cidade pequena, no interior. Ele luta contra a rigidez moral, contra a estrutura social análoga à Idade Média, contra a opressão da tradição e contra seu sentimento incestuoso em relação a sua irmã Ana (Simone Spoladore). A mando do pai, Pedro (Leonardo Medeiros), o primogênito, vai buscá-lo. O pai, Iohána (Raul Cortez), figura patriarcal, mantém a família dentro dos padrões impostos pela tradição milenar e familiar.
À mesa, há a presença da diferenciação, a saber o pai à cabeceira, o ramo do afeto, contendo a mãe, André, Ana e Lula, e o ramo da tradição, com Pedro, Rosa, Zuleika e Huda. O outro lugar da cabeceira, pertencente ao avô, permaneceu vazio, desde a sua morte:
"Eram esses os nossos lugares à mesa na hora das refeições ou na hora dos sermões: O pai à cabeceira; à sua direita, por ordem de idade, vinham primeiro Pedro, seguido de Rosa, Zuleika e Huda; à sua esquerda vinha a mãe, em seguida eu, Ana e Lula, o caçula. O galho da direita era um desenvolvimento espontâneo do tronco, desde as suas raízes. Já o da esquerda trazia o estigma de uma cicatriz, como se a mãe, que era por onde começava o segundo galho, fosse uma anomalia, uma protuberância mórbida, pela carga de afeto."
Os dilemas de André, colocados de forma poética são espetaculares. Os sermões do pai à mesa, sobre o tema "Tempo", também. André retorna ao lar, mas isso não significa a paz, muito pelo contrário, significa a tragédia e o desmoronamento dessa família. Falando sobre desmoronamento, quero ressaltar aqui, a forma espetacular como Ana (Simone Spoladore) foi interpretada. É nela que vamos perceber o limbo entre o sagrado e o profano, a presença da figura cigana, sensual e mediterrânea. Simone não fala uma só palavra no filme, mas sua interpretação é maravilhosa. Sua dança final,... sem palavras. Inclusive, foi a que mais ensaiou.


site: http://sallybarroso.blogspot.com.br/2016/06/lavoura-arcaica-livro-e-filme.html
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adriana.sydor 08/06/2016

para onde estamos indo? estamos indo sempre para casa
a coisa boa de ser ignorante é a condição inesgotável para grandes surpresas.

mais de quatro décadas depois do lançamento, conheci Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar. obviamente já me tinha sido indicado e por duas vezes já o tinha comprado. nenhuma delas durou muito aqui na estante, logo passaram para as mãos dos amigos atentos: o primeiro me disse que adorava e não tinha mais; a segunda confessou que estava em seus planos de leitura. os dois saíram aqui de casa, com datas de mais de cinco anos de diferença, com o livro debaixo do braço e um sorriso estampado no rosto.

coisa de um mês mais ou menos me segurei a novo exemplar, 3ª edição e 3ª tentativa, e jurei que nada mais seria lido antes que lhe dedicasse vistas. menti. ainda me aventurei, por sedução, a uma outra coisinha aqui que vale comentário, mas não já.

finalmente cheguei ao Lavoura. e agora entendo essa espécie de acaso que me fez demorar tanto para chegar a essa maravilha. acho que não tinha tutano suficiente para enfrentá-lo; se ainda sou literariamente imatura hoje, livros atrás então, eu perceberia muito menos.

quanta beleza, que ritmo de escrita, que narrativa! todas as exclamações do mundo estão em mim. queria que essa tapeçaria com as palavras, esse jogo de dizer diferente, esse encantamento que pode ser visto em qualquer uma das páginas, todas as imagens construídas tão claramente a emprestar objetos e qualidades de um lado para explicar outro, queria que tudo isso e mais o que não consigo explicar saltasse das páginas e se alojasse em mim com a mesma força que a emoção da leitura. queria que, ao ler Raduan Nassar, eu também fosse Raduan Nassar, como se os seus pedaços se grudassem em mim para sempre e me transformassem a pena.

ele começa contando assim: “Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo”. início de grande viagem…
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Carol 23/03/2016

Neste vídeo eu conto o que achei deste livro.

site: https://www.youtube.com/watch?v=NxI1T1Y36AA
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Mônica 02/02/2016

Surpreendente!
Um romance surpreendente, maravilhoso e muito bem escrito. Leitura rápida e gostosa.
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Arsenio Meira 10/10/2015

LAVOURA
“O mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas [...]” - (Raduan Nassar, Lavoura Arcaica, p. 54)

Basta ler este Lavoura Arcaica para apreender que a obra de Raduan Nassar resulta de uma produção literária tão impactante quanto iluminada. De onde que nada mais natural, a interrogação do leitor para saber as razões que o levaram a abandonar uma promissora (mais abundante) carreira de escritor e isolar-se no campo para se dedicar unicamente às atividades rurais.

Em entrevista concedida aos Cadernos de Literatura Brasileira, Raduan Nassar afirmara que fora a paixão pela literatura que o fizera, por um período de sua vida, dedicar-se inteiramente à literatura, mas, assim como paixão é sempre uma incógnita, tanto o seu começo quanto o seu fim, Nassar também não soubera responder por que renunciara à literatura. Bom, se ele não sabe, eu é que não me atrevo a sequer tecer ilações sobre este fato, triste por sinal.

A força poética presente nos versos, retirados do poema Invenção de Orfeu, de Jorge de
Lima, que servem de epígrafe para a obra, já dá indícios dos eventos presentes nesta narrativa de Raduan Nassar: uma prosa lírica com ações dramáticas, onde não há como apontar um elemento culpado; todos estão fadados a um destino que inviabiliza qualquer mudança, visto que a planta carregada de sedução e viço vem da infância e remete a infâncias passadas obedecendo ao ciclo natural da vida.

É a quebra desse ciclo o elemento central da narrativa. Pela linguagem bem elaborada Nassar é posicionado como pertencente à linhagem dos narradores-poetas. Narrada em primeira pessoa, Lavoura arcaicanão segue a forma tradicional de apresentar o texto de forma linear, embora o leitor consiga apreender o enredo sem maior esforço. Entretanto, o maior destaque da narrativa está na linguagem. A riqueza léxico-sintática, o cuidado e a meticulosidade na escolha das palavras e na construção das frases eleva este escritor a patamares só alcançados pelos grandes nomes da literatura brasileira.

Além disso, a inovação da linguagem em suas narrativas possibilita analisar Nassar como um escritor de fronteiras;por isso, é impossível classificar Lavoura arcaica como apenas prosa: ela é prosa e poesia. Isso aponta para abertura e fechamento do texto. A linguagem utilizada é singular, cheia de densidade,tensão e musicalidade, trazendo para o texto um conteúdo de verdade e uma discussão humana profunda e complexa, capitulados nos versos do poeta Jorge de Lima.

Estes versos também se relacionam com o título Lavoura arcaica. A planta da infância é parte de uma lavoura composta por uma família tradicional que, sob os cuidados de um lavrador incansável, obedece ao curso natural de crescimento com total obediência ao tempo à manutenção da tradição,vistas na narrativa como o alimento necessário para o controle e continuidade daquela lavoura.

A narrativa tem início em um quarto de pensão, refúgio do “filho tresloucado” que deixou o lar paterno para permitir que seu corpo vivesse as paixões proibidas (incestuosa) pela rotina severa da fazenda. É neste quarto que André recebe seu irmão mais velho, Pedro, enviado pelo pai para recuperar aquela planta enferma. É neste encontro que André retoma, pela memória, sua vida na fazenda.

Para amainar sua febre, André buscava na terra o alívio de suas inquietações. Era misturado à terra que ele, adolescente, libertava-se dos olhos apreensivos da família para buscar no silêncio o esvaziamento dos sermões do pai que ele já sabia ser inconsistentes. O silêncio é um dado importante na narrativa.Em Lavoura arcaica,a voz do discurso pertence unicamente ao patriarca, que impossibilitava qualquer tomada de posição da família. Sentado na ponta da mesa, seus sermões eram o alimento que todos deveriam ter, antes de qualquer outro. E o silêncio fazia-se lei. Mas também era matéria de revolta. No silêncio os membros do galho esquerdo do troco teciam sua desordem.

A necessidade de calar os sermões do pai era muito mais alimento para a alma que o próprio discurso. Entretanto, ali naquela pensão, diante do irmão Pedro, eram as mesmas palavras do pai que André ouvia. Pedro, como guardião da tradição e representante legítimo cumpria o seu papel de juntar ao corpo único da família um membro que se desgarrara.

Em Lavoura arcaica o que se deseja é posicionar o corpo antes da roupa. Ter controle sobre seu corpo representava ter controle sobre seu pertencimento no mundo. Ao conhecer os limites do corpo, Ana, irmã do protagonista e sua amante, percebeu as singularidades de sua personalidade. Destituída do poder do discurso, a personagem utilizou os movimentos corporais e sensualidade para posicionar-se naquela sociedade arcaica, revelando que o caminho da autoidentidade passa pelo conhecimento do corpo e pela busca do prazer.

Observa-se que nos conflitos situados na obra de Nassar,a subversão da figura feminina é marcada por conflitos e sofrimento, pois elas ainda se encontram divididas entre os padrões conservadores que ainda lhes são impostos e a urgência de cravar seu lugar na sociedade enquanto sujeito do próprio discurso. Isso mostra que a tomada de posição pode representar, para a mulher, um momento de difícil aceitação,pois inscreve a perda da proteção masculina, tão presente no imaginário romântico da sociedade.

Em um mundo de igualdade crescente, homens e mulheres são levados a realizar mudanças fundamentais em seus pontos de vistas e comportamento. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; isto é condição necessária para a vida em sociedade. É preciso refletir sobre a condição feminina para acelerar o processo de autoconhecimento e autodescoberta,deixando às mulheres das décadas posteriores, ao menos, uma perspectiva de esperança de que é possível ser livre, ser feliz e escolher seu próprio destino.

O romance de Raduan Nassar encontra-se em um mar aberto de possibilidades de leituras e releituras. Uma abordagem a partir de um único viés teórico, seria simplista, pois deixaria ao largo muito do alcance e da profundidade da obra. Portanto, para quem deseja adentrar na obra deste escritor, é pertinente (re)lembrar o posicionamento dele, posto na epígrafe destas considerações finais: o aprendizado é um processo em construção; ele nunca está pronto. E tal premissa é perene.
Thiago 10/10/2015minha estante
Arsenio, meu caro que bela resenha tu fizeste, eu concordo plenamente com tudo o que dissestes, a propósito se tiveres fôlego vale a pena assistir ao filme do Luiz Fernando Carvalho que se baseou no livro e segue fielmente o enredo da obra do Raduan Nassar , talvez uma das melhores realizações no nosso tão desprestigiado cinema nacional, o filme tem o mesmo título do livro caso tenha interesse.


Arsenio Meira 10/10/2015minha estante
Grande Thiago,
Vou ver o filme, sim, e não vai demorar, amanhã ou terça, no máximo! Já tô na expectativa, depois do seu incentivo e da opinião da Carla, essa expectativa já vai virar ansiedade! rsrs. Obrigado, amigo, como certa vez lhe escrevi, vc é que é grande, generoso! Valeu por tudo. Abração.


Ed Ribeiro 10/10/2015minha estante
Vou ter que antecipar minha leitura deste livro hehe


Arsenio Meira 10/10/2015minha estante
Edi,
Vale demais, faço até campanha, kkkk... Ainda estou sob o impacto. Há, de fato, o livro certo, na hora certa; antes, eu não dava muito trela pra esse tipo de coisa, mas estava errado. No entanto, acho eu, que esse romance cabe em qualquer momento! Boa leitura! Abraços


Thiago 11/10/2015minha estante
Que isso Arsenio, você falando assim me deixa desconcertado, mas o sentimento é mutuo, e eu o admiro muito, até pediria um autógrafo a você se eu o visse pessoalmente hehehe.


Arsenio Meira 11/10/2015minha estante
Thiago, kkkkkk
Se pedir, eu assino!!
(tô brincando!)
Abração


Thiago Ernesto 11/12/2015minha estante
Saudades do amigbo Arsenio... Gostava ter a oportunidade de falar consigo sobre essa obra :/


Alana 06/05/2017minha estante
que delicia terminar de ler essa obra e encontrar uma resenha do Arsenio, saudades.


Juliana 20/05/2018minha estante
Realmente, as resenhas do Arsênio eram incomparáveis!


Emanuel.Giovanni 25/03/2021minha estante
Que resenha incrível!




João 13/09/2015

Belo, profundo, dramático e questionador.
Raduan exprime com profunda densidade o sistema de valores que governa a familia de André. A tradição familiar se choca tragicamente contra as paixões afetivo-sexuais do filho. André é o filho que partiu de casa para não expor à família sua atração incestuosa pela irmã. No fundo, porém, o romance evoca o drama entre a postura conservadora da família, embebida na intolerância de antigos dogmas, e os projetos passionais do filho André. Isso é narrado na forma de prosa lírica, magistralmente conduzida por Raduan. Sem tratar do acerto ou desacerto de dados valores ou dogmas, o romance demonstra o triste destino daqueles que sofrem as dores de suas inclinações não toleradas.
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Patrícia Belmonte 31/08/2015

"LAVOURA ARCAICA", RADUAN NASSAR - ED. COMPANHIA DAS LETRAS
'Lavoura Arcaica' foi lançado em dezembro de 1975, é um texto em que se entrelaçam o novelesco e o lírico, por meio de um narrador em primeira pessoa - André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, Lavoura arcaica foi imediatamente considerado um clássico.


site: http://atualizandolivros.blogspot.com.br/2015/05/lavoura-arcaica-raduan-nassar-ed.html
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Marcelo 14/05/2015

Paciência
São 30 capítulos. Extremamente palavroso até a metade do vigésimo. Um delírio verbal, descrevendo a perturbação do protagonista, achei, no geral, chato e cansativo. Porém, sempre há um porém , a partir da metade do capítulo 20 a leitura começa a valer a pena. Foi uma experiência de leitura, inicialmente , cansativa, mas ao final valeu a experiência.
João Mamedes 24/05/2017minha estante
Caro Sérgio, o seu comentário é autoafirmativo, para não dizer autoafagante ou narcisístico. Elabora um prolixo texto para apontar o apego cego de alguns leitores ao que denomina obra de "extremos" - quando tua escrita parece carregada de mesma dose de romantismo, extremismo e até mesmo impulso político. Durante toda a sua crítica me perguntei: será que esse cara admite que no mundo alguém possa pensar diferente dele, sem ele achar que isso seja artificioso, pedantismo, etc? O seu comentário ao livro é totalitário, imperativo, impede qualquer via de diálogo, o que é uma pena. Este livro, como tantos outros, tem um exército de defensores cegos e pedantes, me parece algo infelizmente comum a várias coisas na terra, mas tua crítica foi tão cega e generalizante como, foi injusta. Do mesmo modo como no grupo dos que deram cinco estrelas ao livro, cada indivíduo carrega seus motivos particulares, quero crer cegamente (para não dizer que sou imune aos paradoxos) que o grupo dos que deram uma estrela também seja heterodoxo, e que cada um carregue seus motivos para tal. Convenhamos, teu comentário é tão pedante quanto os dos pedantes do outro lado do muro. E sim, me senti ofendido por ter sido encurralado por sua visão maniqueísta, pelo menos a respeito deste livro. Sua crítica, por horas, parece menos direcionada ao livro e mais aos leitores que não concordam com tua percepção acerca dele, tem tom de revanchismo, o que talvez tenha até mesmo contaminado sua leitura. Não queira ser dono da razão, deve ser um fardo desumano. Paciência e bandeira branca, caro Sérgio.




Sabrina 11/04/2015

Genialidade de Raduan Nassar
Mais um livro incrível que está, sem dúvidas, na lista de livros indispensáveis da literatura brasileira.
Raduan Nassar retrata em Lavoura Arcaica a história de André, um filho desertor que abandona o seio familiar em busca da realização dos seus desejos reprimidos. Trata-se de uma tragédia em uma atmosfera bem brasileira que trás a tona temas como a luta entre a tradicionalidade e a liberdade e entre o desejo e a resignação em prol do bem comum.
A narrativa é típica de Raduan Nassar, frases enormes onde em um "parágrafo" inteiro encontramos, quando muito, apenas um ponto final. Uma escrita que simula a fala colérica de seus personagens e faz com a que leitura seja atraente e se dê de maneira ágil, acompanhando diálogo frenético que André trava, na maioria do tempo, em seu próprio plano interior.
Duas coisas que especialmente me chamam atenção no livro são o forte intertexto bíblico que o autor estabelece não só com a parábola do Filho Pródigo e a parábola do Semeador, por exemplo, mas também com o próprio jogo de nomes entre os irmãos, André e Pedro, que rememoram os discípulos de Jesus, Andréas (André) o primeiro a ser chamado, aquele que é detentor da coragem, e Kephas (Pedro) em que inevitavelmente vem-nos a cabeça a passagem "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" que é aquele que vai em busca do filho estraviado, sobre os quais o pai fixou como em uma pedra os valores familiares. Outra coisa que não poderia deixar de se destacar é maneira como o tempo é tratado durantes a obra, tão interessante quando os próprios conflitos interno de André são os sermões de seu pai à mesa de jantar que falam sobre o trabalho o tempo e a justiça e a interpretação quase proustiana que André tem sobre o tempo, principalmente quando fala da mãe.
Não fosse suficiente a maré de intertextos Bíblicos e minha suspeita de um intertexto proustiano, é praticamente impossível dizer que a obra de Raduan não conversa com Machado de Assis, não somente na descrição de Ana, que tudo tem a ver com Capitu, mas também em outros aspectos principalmente no que toca à infância de André que rememora bentinho.
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Clio0 06/03/2015

Esse livro foi indicação de uma amiga, e poucas vezes li algo assim que fosse tão bom.

Prosa, estilo, personagens, situações, história, tudo é bom. Isso mesmo o que você leu, tudo não é só bom, é ótimo.

Estou sendo tendenciosa? Talvez, ler sobre uma família caipira do interior mexe com a minha própria vivência e como muita gente diz, quem lê influencia e interpreta o que lê. Mas acredite em mim, se tem um livro que merecia fazer parte da lista do vestibular, ou representar o Brasil lá fora, ou ainda, sobreviver por mais cem anos, é esse aí.

Quer uma dica? Não leia a sinopse, não vá para a última página, leia a seco como eu li. Vai valer a pena.
Kelen.Cavalcante 03/01/2023minha estante
É uma obra simplesmente fantástica!!!!




Paulinho 26/11/2014

Poesia e Transgressão
Faz um tempo que queria ler Lavoura Arcaica. Desde que conheci Milton Houtom (Dois Irmãos) em 2011. Porém são tantos livros... esse ano, mais especificamente esse mês decidi reparar minha negligência. O resultado, o melhor livro que li este ano até agora (26 de Novembro). Primeiro a prosa... a poesia. Escrita de maneira lírica linda, o trabalho de escrita é mágico.

“Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, [...].” NASSAR, Raduan, 1935 - Lavoura Arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 3ª edição. A Partida. Capítulo 01. Página 07.

A narrativa é um quebra-cabeças temporal. Um labirinto de memórias que vai e volta no tempo, nos tempos. Inicia com a chegada de Pedro à pensão onde encontra-se André. A partir daí a narrativa segue vários tempos, a infância, a adolescência, os transtornos dos pensamentos de André as relações familiares. O pai rígido, a mãe extremante afetuosa, Lula, o caçula, que o admira, Pedro que parece seguir os passos do Pai, afinal é o primogênito e Claro Ana, que mesmo posta ao avesso continuaria a ser o que é como o próprio nome. Em um ambiente tão gris, tão rotineiro, tão hermético é compreensível que André se apaixone por Ana, apesar dela ser sua irmã. Ana é transgressão e movimento, é cor e calor.

[...] e não tardava Ana, impaciente, impetuosa, o corpo de campônia, a flor vermelha feito um coalho de sangue prendendo de lado os cabelos negros e soltos, essa minha irmã que, como eu, mais que qualquer outro em casa, trazia a peste no corpo, ela varava então o círculo que dançava e logo eu podia adivinhar seus passos precisos de cigana de deslocando no meio da roda, desenvolvendo com destreza gestos curvos entre as frutas, e as flores do cesto, só tocando a terra na ponta dos pés descalços, os braços erguidos em cima da cabeça serpenteando lentamente ao trinado da flauta mais lento, mais ondulante, as mãos graciosas girando no alto, toda ela cheia de uma selvagem elegância, seus dedos canoros estalando como se fossem, estava ali a origem das castanholas, e em torno dela a roda girava cada vez mais veloz, mais delirante, as palmas de fora mais quentes e mais fortes, e mais intempestiva, e magnetizando a todos, ela roubava de repente o lenço branco de um dos moços, desfraldando-o com a mão erguida acima da cabeça enquanto serpenteava o corpo. NASSAR, Raduan, 1935 – Lavoura Arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 3ª edição. A Partida. Capítulo 5. Página 28-29.

Devido a essa paixão proibida, interdita, mas avassaladora, ele decidi partir. Mas não é apenas essa a questão. André também foge do cabresto, do futuro de cartas marcadas, das montanhas que são muros da sua vida. Da sua mentalidade diferente, uma mentalidade forçada pela sensibilidade avançada, pelos momentos de solidão e monólogos internos. Solidão que fomenta a reflexão. Reflexão sobre o tempo, a família, a vida, o amor, o corpo. Por esse sopro de universalidade e por uma prosa em um português magnífico, uma narrativa que exige trabalho mental do leitor, faz desse livro uma obra de extrema relevância para a nossa literatura e porque não? Pela literatura Mundial. Assim que terminei assisti o filme. Soberbo! Mas isso já é uma outra resenha. Já quero reler esse livro.
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Valério 10/11/2014

Fora do comum
Breve história. Forte, densa, tensa.
O protagonista está em conflito existencial.
A história começa com seu irmão mais velho o buscando para que torne à casa paterna. E então, em reminiscências cuidadosamente descritas pelo autor, em desenrolar sucessivo de emoções profundas, o leitor vai sendo inteirado da vida da família até ali.
Ares de drama shakesperiano, questiona os valores tradicionais, com digressões que incluem a retidão e o pecado, Deus e o Diabo.
Paixão, dor, incompreensão, dúvida, enfrentamento, sufocação, ansiedade, luta, nojo. Algumas, mas não todas as sensações contidas e transmitidas pelo livro.
Leitura poderosa. Sem dúvida, um dos maiores clássicos da literatura brasileira e não tem o destaque que merecia.
Contudo, leitura difícil, mais recomendada para quem já adentra mais profundamente o mundo literário.
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