Victor Albertini 12/02/2023
Angustiante
SOBRE:
"A Sangue Frio" é o relato, em forma de romance, de um dos casos de violência mais chocantes dos Estados Unidos, e que muito provavelmente teria caído no esquecimento (dado o local dos fatos e a forma como foram parcamente divulgados na época) se não fosse pela obra de Truman Capote. O caso em questão é o assassinato de quatro membros de uma tradicional e bem sucedida família do interior do Kansas, em 1959, pelas mãos de Richard Hickock e Perry Smith, uma dupla de criminosos que se conheceram na prisão anos antes e entraram para a história da pior forma possível.
IMPRESSÕES:
Diferentemente do que pensava, a obra não explora cenas sangrentas de forma apelativa ou busca fazer sensacionalismo barato em cima da tragédia à la "jornalismo" policial brasileiro (embora alguns críticos tenham considerado o livro sensacionalista). Os fatos principais são apresentados na medida certa de uma boa narrativa, que tem potencial de prender a atenção e comover o leitor, mas sem causar desconforto. A angústia fica por conta dos capítulos finais, em que são narrados os últimos momentos da vida dos assassinos, condenados à pena de morte.
Nunca havia lido um romance jornalístico antes. Este é considerado uma das principais, ou talvez A Principal referência para os autores do gênero, e de fato, motivos não faltam. Apesar de algumas descrições monótonas que volta e meia quebram o ritmo, em geral a leitura é fluida e proveitosa.
Em determinados momentos, pude notar um certo "exagero" de detalhes em algumas passagens, o que causou estranhamento, visto que a narrativa foi construída com base em entrevistas que eram realizadas sem o auxílio de gravadores ou bloco de notas. As desconfianças foram endossadas no posfácio, intitulado "Nem tudo é verdade, apesar de verdadeiro", mas acredito que são artifícios do gênero, além da personalidade peculiar do autor.
CITAÇÃO:
"As pessoas não estariam tão alteradas se isso tivesse acontecido com outros que não os Clutter, com uma família menos admirada, menos próspera, menos segura. Mas eles representavam tudo o que as pessoas daqui valorizam e respeitam. E o fato de uma coisa dessas ter acontecido com eles é o mesmo que dizer que Deus não existe. Dá a impressão de que a vida não tem sentido. Acho que as pessoas não estão apenas assustadas, estão é profundamente deprimidas."