O Caminho de Guermantes

O Caminho de Guermantes Marcel Proust




Resenhas - O Caminho de Guermantes


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Luiz Lélis 22/02/2024

Interessante estudo sobre a sociedade e, um pouco mais precisamente, sobre a morte, em suas múltiplas dimensões. De certo, o livro continua numa toada absolutamente "hormonal" do protagonista - ainda adolescente -, mas, em comparação aos volumes anteriores, o caráter contemplativo (o tal do prazer interior e desinteressado que nos surge na exata medida em que não mais o buscamos), tipicamente marcado no primeiro livro, é menos preponderante e dá lugar, em parte, desde o segundo volume, a aspectos mais socialmente palpáveis, sem perder, claro, a essência de investigação psicológica muito mordaz de Proust. E é justamente abraçando esse aspecto que o autor é capaz de nos fornecer grandes - e minúsculas - mostras da natureza humana e, da morte humana, enquanto bicho coletivo, sobretudo quando antes de nomes de personagens se pode / deve ouvir coisas como: (senhora) duquesa, (senhor) Marquês, (vossa alteza) princesa de...
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Giordano.Sereno 31/01/2024

Terceiro volume concluído
Esse claro deixa claro a divisão em dois caminhos proposta ainda no volume 1: Swamn e Guermantes. São dois caminhos, dois estilos de vida, duas formas de encarar o mundo. Eu, particularmente, prefiro Swamn. Acho os Guermantes um tédio. Foram os responsáveis pelas páginas mais chatas desse volume.
A parte que descreve a relação do herói com a avó é linda, de uma ternura encantadora. O barão de Charlus é um chato. Mas, quando ele aparece, a história fica muito mais divertida.
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gabrieus 06/07/2023

Metade dessa viagem inesquecível!
Para o leitor corajoso que ousar enfrentar as mais de 100 páginas que se passam no salão de jantares dos Guermantes, entre nomes e títulos de quase nenhum valor para os leitores contemporâneos e personagens cujos diálogos vazios só adornam a grande fotografia da virada do século XIX, que esta obra tão habilmente ridiculariza, poderá servir de motivação a presença, como em nenhum dos volumes anteriores, das vicissitudes da vida através do tempo. É neste volume que começamos a perceber que o tempo passou, e percebemos da maneira mais dura: com a morte; e de uma vez, somos obrigados a refletir sobre a indiferença alheia com os infelizes fadados a este infortúnio. Se pela metade do romance vemos com pesar o último ato de Bathilde, cujo drama iniciara no início deste volume, no final ficamos sabendo que outro querido personagem, Swan, está em seus últimos dias.
Se o narrador não custou a se recuperar da partida da avó para ir aos faustosos jantares da alta sociedade, a Duquesa de Guermantes, nas últimas páginas, mal soube como fingir alguma afetação frente à iminente morte de seu "querido" amigo Swann. Logo após, o Duque de Guermantes quis fingir que seu próprio primo não estava morrendo para ir, acompanhado da Duquesa, comparecer ao mais "entediante" jantar, abandonando assim família e amigos em suas dores. Corroborando o que o próprio narrador disse logo depois de sua avó ser atendida após um derrame por um médico apressado, que neste mundo estamos todos sós.
Algumas coisas jamais podem ser esquecidas, e algumas reviravoltas deste livro permanecerão para sempre na minha memória. Se neste volume acompanhei o narrador em seu deleite ao observar a Duquesa de Guermantes desfilando pelo Faubourg Saint-Germain, no final pude experimentar o mesmo desprazer perante aquela esnobe Orione, cheia de conveniências contraditórias.
O final do livro lembrou-me de "Antes do Boule Verde" de Lygia Fagundes Telles, só que, sendo sincero, muito superior. Inclusive, fico estupefato com essa semelhança, imaginando até se Lygia não teria buscado inspiração nesse texto.
Agora me pego no meio de uma teoria: acredito que o narrador do livro não é confiável e que ele modifica a história conforme suas emoções e intenções. Deduzo isso não só com base na biografia de Proust, como em algumas críticas dirigidas ao realismo de Balzac pelo narrador - o que me faz imaginar que Proust não quer ser nenhum pouco realista. Creio que Proust esteja escrevendo sobre um escritor homossexual tentando esconder sua sexualidade, provavelmente para escapar das críticas da sociedade.
Enfim, é um livro fantástico e ele marca a conclusão da metade da obra. Por enquanto, sigo viagem, mas acredito que essa não será a única vez que travarei relações com este livro. Esse foi apenas o início de nossa longa amizade.
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Heber47 30/05/2023

Narrador adquire mais conhecimento da aristocracia e discute o caso Dreyfus
É um livro excelente como os anteriores, Proust além da análise minuciosa dos lugares e das pessoas em frases como "o artista não passa de uma janela que se abre para uma obra-prima", tem uma percepção aguçada das pessoas, por exemplo, como elas mudam de opinião facilmente devido a acontecimentos (como acontece com Swann ao final do livro em relaçao ao caso Dreyfus, que foi um general judeu da França acusado de traição).

Temas recorrentes voltam a aparecer no livro, como o ciúme (entre Robert e sua amante, Rachel), mudanças de paixões (o narrador se declara apaixonado pela duquesa, e depois se interessa pela sra. de Stermaria) e a doença (da avó, levando a morte, e de Swann).

O caso Dreyfus é discutido em grande parte da obra, entre personagens que apoiam o general ou não.

O interesse pela aristocracia e os costumes se mostra claro nesse volume, nos jantares e encontros com o duque e duquesa, citando genealogias e outras famílias de nobres que mesmo disputam entre si, como os Guermantes e os Courvoisier.
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Paula.Juca 03/03/2022

Desafiador...
Esse terceiro Vol. foi bem desafiador, ora uma leitura densa, abordando temas de morte, de despedida, ora aqueles diálogos intermináveis no salão dos Guermantes kkkk. Ainda assim vale muito à pena insistir em seguir a diante mesmo quando a leitura fica arrastada, porque quando Proust nos presenteia com sua reflexão da memória do tempo e do sentido, tudo vai valer à pena. Deguste sem moderação ??
R. K. 03/03/2022minha estante
Leitura de peso. Parabéns. Só li O caminho de Swan. Nunca retornei para ler os outros.


Paula.Juca 03/03/2022minha estante
Volte a ler, não vai se arrepender. Entendo que são leituras difíceis, densas e lentas, não estamos acostumados mas a beleza que você encontrará em alguns trechos de cada volume compensará o esforço, eu te asseguro.




Bruna Peixoto 16/02/2022

Apresenta de forma exaustiva a realidade da alta sociedade da época com suas falsidades, muitas conversas chatas e fúteis. Neste cenário encontra-se o Marcel, que vai explorando esse ambiente sem saber muito bem como se portar, mas com desejo de fazer parte desse grupo.
Rafael Kerr 16/02/2022minha estante
Oi. Tudo bem? Talvez você já tenha me visto por aqui. Desculpe o incomodo. Me chamo Rafael Kerr e sou escritor.  Se puder me ajudar a divulgar meu primeiro Livro. Ficção Medieval A Lenda de Sáuria  - O oráculo.  Ja está aqui Skoob. No Instagram @lenda.de.sauria. se gostar do tema e puder me ajudar obrigado.




Brito 14/11/2021

Terceiro volume Proust – O Lado de Guermantes I
Neste volume, como em todos de em busca do tempo perdido a história é sucinta, descomunais são as vivências, rememorações, descrições e análises do narrador.
Este terceiro volume foca as vivências do mundo da aristocracia, e como sempre, a primeira grande qualidade dessa narração é a forma como nos transporta para um mundo vivo, em efervescência, psicologicamente eficaz e sociologicamente mordaz, faz-nos entrar num mundo em toda a sua complexidade e subtilezas, mostrando-nos o carácter de que cada personagem, cambiantes, mudanças. Vivos. As peripécias sucedem-se com Robert de Saint-Loup, a Marquesa de Guermantes, Madame de Villeparisis e tantas outras personagens com quem o narrador vai convivendo, ou simplesmente encontrando nos elegantes salões parisienses que também frequenta. O narrador tece considerações sobre os mais variados assuntos: a abrangência e mudanças do carácter do ser humano, a relação amorosa, a consciência que cada um tem de si, do seu papel na sociedade, no caso de alguns aristocratas da sua grandeza e falta que fazem ao mundo, a arte da pintura, o valor da literatura, é toda uma realidade que se vai desenrolando como um tapete perante os nossos olhos, só que é um tapete de tal riqueza que ficamos literalmente com os olhos em bico, aquelas personagens passam-nos realmente diante dos olhos nas sua soberba, grandeza, mesquinhez, hipocrisia, comoção, tristeza, alegria, fingimento. Após ler mais este volume fiquei com a sensação que a realidade havia alargado, que já não poderia olhar para determinadas realidades e vê-las da mesma maneira, tinham-se tornado mais complexas, tinham agora dimensões em que até hoje eu nunca havia pensado, e isto mesmo olhando para mim e para os outros. Como se usássemos uns óculos que nos permitissem ver o interior das coisas todas do mundo a ser, em vez da superfície aparentemente estática. Um livro a ler mais do que uma vez.
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Guilherme.Robles 10/07/2021

Leitura cansativa
De todos os três livros até agora, achei esse de longe o mais enfadonho. Praticamente não acontece nada, apenas conversas muito fúteis da alta classe que não levam a lugar algum. E não encontrei também nenhum trecho significativo e mágico de Proust como nos outros volumes. Torço pra que seja o pior dos 7.
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Marcio 21/05/2021

Prova de resistência
Até o momento, o terceiro livro foi o mais difícil de chegar ao fim.
Ler Proust é um projeto, um labor diário que se vai construindo aos poucos.

Esse livro apresenta de forma exaustiva a realidade da alta sociedade da época com suas falsidades, maledicências e perversidade.

Neste contexto encontra-se o herói, que ao meu ver, vai tateando neste ambiente sem saber muito bem como se portar, mas com desejo de fazer parte desse mundo pueril e superficial. Estou curioso pra saber o que vai dar...

No entanto, me parece que, a atração é meramente estética, apegada a algum ideal de aristocracia que o herói possui (talvez por conta de suas leituras) mas que no contato real vai se esvaindo.

Talvez pela identificação com o tema da infância e da adolescência o primeiro e o segundo volumes me cativaram mais.

Seguimos...
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Maitê 08/03/2021

Livro bem dividido em duas partes, uma o personagem vive sua vida, perde sua avó, continua a amizade um pouco apaixonada por Saint-Loup, ai fica obcecado pela duquesa prima dele, que acontece de ser sua nova vizinha. Na segunda parte, ficamos preso em um loop infinito de conversas tolas e fúteis em um jantar (dois jantares?) na presença dessa tão sonha duquesa de Guermantes que para mim deixa bem claro por que afinal os franceses mataram seus reis.
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Marcus 30/12/2015

Meia jornada
Neste terceiro volume de Em busca do tempo perdido, Marcel Proust substitui seus amores passados pelo fascínio pela duquesa de Guermantes, dama da alta aristocracia francesa, linda, culta, esnobe. Mais velha do que o jovem admirador, ela o ignora nos "encontros" tramados por ele nas ruas de Paris.

Boa parte da narrativa, porém, é ambientada nos suntuosos salões da elite parisiense, disputado por aristocratas de toda a Europa. Proust consegue ser aceito nas recepções da duquesa, que vive um casamento fracassado mas não perde a pose no ambiente fútil de seus chás e jantares.

Fofocas, intrigas, bastidores do mundo dos teatros e das cortesãs, maneira elegante de chamar as prostitutas, como hoje se fala em garota de programa. Nada escapa ao autor, atento ao rococó dos olhares e gestos, à arrogância, inveja e despeito que permeava as relações nas grandes recepções.

O autor dedica uma página e meia à descrição do gestual quase ritualístico para os Guermantes apenas cumprimentarem alguém. Havia como que uma coreografia de maneiras afetadas para cada "subgrupo" da família, que envolvia passos, olhares e gestos de diferentes variações de esnobismo.

Proust elogia trajes e se fascina com algumas situações, mas não passa o tempo todo deslumbrado. E sabe ser bem maldoso e ferino nos comentários, como quando compara a presença e trajes da duquesa com a senhora de Cambremer "com um penacho de carro fúnebre verticalmente erguido nos cabelos". E tem suas tiradas de humor, como ao falar do marquês de Palancy, que parecia estar "dormindo, nadando, pondo um ovo ou simplesmente respirando".

A leitura de O caminho de Guermantes fluiu melhor para mim do que nos dois primeiros livros, possivelmente por estar mais habituado ao estilo de Proust e vários dos personagens já serem conhecidos. As notas de rodapé da edição da Editora Globo ajudam a contextualizar pessoas reais citadas pelo autor, ou aquelas que lhe serviram de referência. Há frequentes alusões a memórias de escritores e aristocratas do passado, citações e referências a textos literários, principalmente Victor Hugo. E um bom espaço dedicado à discussão sobre o caso Dreyfus, célebre episódio de acusação de traição e uma onda anti-semita na França. A tradução é de Mario Quintana.

Além de dissecar alma e exterior dos personagens, Proust põe sua sensibilidade e capacidade descritiva a serviço de obras de arte - principalmente pinturas - que surgem ao longo de O caminho de Guermantes. Suas observações acerca de um quadro equivalem a uma aula sobre arte. Curioso também como o tempo passa, a tecnologia oferece novas alternativas, mas os hábitos não mudam. Na referência a uma pintura, o autor fala como o personagem fica feliz apenas porque jantou com alguém cujo antepassado foi retratado em quadro.

Há momentos tocantes, como a doença da avó do autor, uma de suas pessoas mais queridas. Ela também dá ensejo para Proust falar sobre uma novidade, o telefone. A tentativa de conversar com a avó pelo aparelho, um canal ainda precário, não é nada fácil, mas a descrição da nova tecnologia é poética.

Se gostei de O caminho de Guermantes? Muito. Ainda não cheguei à metade de Em busca do tempo perdido, mas já deu para sentir porque os leitores se deixam fascinar pela obra de Marcel Proust.
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DIRCE 06/12/2015

Ler e gostar não é só começar.

Ler e gostar é só começar. Não, não é bem assim. Pelo menos não o foi para mim. Durante a leitura do III volume da obra Em Busca do Tempo Perdido – O Caminho de Guermantes –, não foram raros os momentos que me senti uma alienígena, pois ainda que Proust tenha abordado temas sérios como a morte ( a da sua avó – a senhorinha carismática e muito amada pelo narrador, e que conquistou a mim , leitora ) e o preconceito reinante com os judeus ( por meio de um fato que , após dar um Google, fiquei sabendo que Proust não se utilizou de uma mera ficção: o "caso Dreyfus" - um escândalo político que rendeu a Émile Zola o seu exílio para a Inglaterra, haja vista que ele proclamou a inocência oficial de artilharia Alfred Dreyfus , judeu, julgado e condenado por alta traição -espionagem para os alemães ( que estranho: um judeu trabalhar a favor dos alemães (!!!???) - ) , tive a impressão que se tratava um livro no qual predominava a frivolidade inerentes aos hábitos de duques e duquesas, sem falar que a genealogia dos Guermantes quase me nocauteou de tédio.
Mas sendo eu uma modesta leitora , após muito refletir sobre o que acabara de ler , pensei: uma obra não seria tão aclamada e alvo de inúmeros estudos se não fosse nada menos que genial. Optei por não fazer um comentário logo no término da minha leitura . Optei por refletir sobre as personagens principais mencionadas, pois , até então, eu jamais havia me deparado com tantos personagens ( se fosse enumerá-los daria uma lista telefônica de muitas laudas) e, por vários dias, fui uma ruminante – ruminei, ruminei e ruminei , e , pouco ao pouco , o que muitas vezes, me sugerira uma dessas revistas atuais de ti-ti-ti, se transmutou num livro de complexidade impar. Positivamente, O Caminho de Guermantes não é um livro para ser entendido e saboreado à vista , mas sim a prazo.
Por ora, é só. Depois de muita hesitações: 5 estrelas.

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Valério 04/09/2014

Aparente injustiça
A obra "Em busca do tempo perdido" tem sido, até então, das mais geniais que li em minha vida. Proust adentra a alma humana, desvenda nosso íntima e coloca em palavras o que sempre soubemos e nunca pudemos dizer, e mesmo o que já foi dito várias vezes, na escrita de Proust toma contornos líricos.
As quatro estrelas são quase uma injustiça. Contudo, como os volumes 1 e 2 são ainda superiores a este terceiro volume, seria injusto com aqueles ter a mesma quantidade de estrelas que este.

Se ainda não ingressou no mundo de Proust, um sério conselho: Comece pelo começo. Não apenas para obedecer à ordem cronológica dos acontecimentos e entender várias passagens deste terceiro volume. Mas, também, por serem os dois primeiros volumes trabalhos que mostram o patamar a que pode chegar a majestosa literatura.
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Aguinaldo 14/05/2011

Nestes últimos dias, imerso na releitura deste livro, fiquei a me perguntar se haveria ainda algo em mim daquele rapaz de vinte e poucos anos que o leu pela primeira vez. As metamorfoses pelas quais passei teriam obliterado completamente o jovem Guina? Difícil saber. Publicado originalmente em duas partes, em 1919 e 1922, ¨O caminho de Guermantes¨ é o terceiro dos volumes do ciclo "Em busca do tempo perdido". Este volume é composto de duas partes simétricas e, em extensão, similares. Como em uma peça musical - uma sinfonia por exemplo - Proust expõe primeiramente os temas com que vai trabalhar, depois os concentra e os desenvolve em uma cena longa (no caso deste livro, em recepções mundanas, primeiro na casa da marquesa de Villeparisis, depois no salão da duquesa de Guermantes) e por fim retoma os temas em breves, mas intensas, codas de encerramento. Na primeira destas duas partes encontramos o narrador e sua família como locatários do duque e da duquesa de Guermantes, Oriane, por quem ele se apaixona (como já havia se apaixonado por Gilberte, pelas moças em flor de Balbec e pela Sra. Swann). Ele vai a ópera e faz uma apreciação estética das qualidades vocais e dramáticas da atriz Berma bastante distinta da que fizera anteriormente. Depois ele visita seu amigo Saint-Loup em sua guarnição militar (Doncières) e logo volta a Paris (onde continua assediando a duquesa) e almoça com Robert e sua amante (Raquel, que o leitor já conheceu em outra circunstância). É na longa cena seguinte que o narrador visita o salão da marquesa de Villeparisis e tudo o que havia sido discutido antes (a vida em sociedade, a aparência enganadora das pessoas, a história e a genealogia da França, a moral dúbia dos homens, as implicações e desdobramentos do caso Dreyfus, as relações profissionais e pessoais, as relações de classe entre os franceses) é refletido em diálogos impressionantes, vívidos. No dia seguinte duas surpresas quebram o ritmo do livro (e elas irão modificar a forma de ver o mundo do narrador). Primeiro seu breve encontro com o barão de Charlus logo após sairem do salão da marquesa e depois o passeio com a avó pelos Campos Elíseos (quando ela tem uma apoplexia). Na segunda parte Proust retoma os mesmos temas e argumentos da primeira (e faz seus personagens usarem a retórica quase da mesma forma) mas agora seu narrador como que amadureceu. Os primeiros movimentos desta parte: a morte da avó, o luto e a solidão do narrador, os encontros amorosos com Albertine, uma outra visita ao salão da marquesa, os preparativos para um encontro amoroso com a Sra. de Stermaria e o jantar noturno no Bois de Boulogne com Saint-Loup e seus amigos, preparam ao leitor para a maravilha que é a descrição dos sucessos do jantar na casa da duquesa de Guermantes (onde o narrador - para seu espanto - é o convidado de honra). Tudo o que ele vê (e Proust faz com que seja o leitor que experiencie tudo aquilo com se fosse o leitor aquele narrador) entra em uma espécie de máquina de análise. Apesar da frivolidade das pessoas depreendemos verdades e leis morais. Como na primeira parte o livro termina com uma coda surpreendente: a visita noturna do narrador a casa do barão de Charlus (e sua dificuldade de entender o seu caráter - bem como sua cifrada proposta sexual) e o reencontro com Swann na casa da duquesa (quando a morte comparece novamente, onipotente). É impossível sintetizar o prazer que extraímos deste livro, o prazer que na verdade extraímos de nós mesmos, ao comparar nossas experiências com aquelas descritas no livro. Difícil escolher o que mais gosto: o sarcasmo com a aristocracia, a ironia, o desprezo pela inconsequência dos médicos, o manual infernal de arrivismo, as metáforas deliciosas. Tudo neste livro leva o leitor a um novo patamar de compreensão do mundo. Esta reedição da Globo da tradução original de Mario Quintana é bonita e cheia de mimos para o leitor (prefácio, resumo, caudalosas notas, posfácio), mas há uns reiterados erros bobos (como grafar Oriana e Oriane para o nome da duquesa) que mereceriam outra classe de apuro. Já tenho o ¨Sodoma e Gomorra¨ desta nova edição para ler. Mas os três volumes restantes do ciclo não foram revistos e publicados, portanto talvez eu acabe lendo mesmo as versões mais antigas. Mas não há pressa. Logo veremos. [início 18/04/2011 - fim 28/04/2011]
"O caminho de Guermantes: Em busca do tempo perdido (vol.3)", Marcel Proust, tradução de Mário Quintana, São Paulo: editora Globo, 3a. edição, revista (2007), brochura 16x23 cm, 687 págs. ISBN: 978-85-250-4227-9 [edição original: Lé côté de Guermantes (éditions Gallimard), 1919-1922]
Daniel 17/11/2014minha estante
É impressionante como a leitura - penosa, às vezes - de repente te encanta de uma forma como nenhuma outra. Dos primeiros 4 volumes que li (por enquanto) este foi sem dúvida o mais difícil. Mas na medida que se vai progredindo, o leitor vai conhecendo as nuances dos personagens, entrando no mundo proustiano...
É uma coisa que não se esgota: ao reler trechos se descobre novas texturas, intenções obscuras que não foram captadas da primeira vez, percepções que estavam ocultas e que ficam mais claras...

Fiz uma lista de personagens principais e postei como uma resenha para o primeiro volume, "No Caminho de Swann". A intenção é ajudar os leitores não se perderem em meio a tantos personagens. Neste terceiro principalmente, pode ajudar bastante saber quem é importante ou não nas páginas futuras.


paulocarneiro.c 20/11/2014minha estante
Olá, Daniel. Onde posso encontrar sua resenho sobre No Caminho de Swann? Fiquei interessado.
Abraço.




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