Meu Querido Canibal

Meu Querido Canibal Antônio Torres




Resenhas - Meu Querido Canibal


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Sara 01/11/2015

Resenha
Meu querido Canibal, de Antonio Torres, lançado no ano de 2000, é um romance que narra aventuras de guerreiros indígenas. Antônio Torres nasceu em Junco, um povoado no interior da Bahia, em 1940. Aos 20 anos, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como jornalista. Estreou na literatura em 1972, com o romance um cão uivando para lua. Antonio possui mais 13 obras, incluindo meu querido Canibal. Ele foi vencedor do Premio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatu, em 2001.
O primeiro capítulo do livro apresenta a relação dos índios com os cristãos. Nele está presente o momento que os portugueses chegaram ao Brasil, invadindo uma cultura que, de certo modo, era desconhecida pelos europeus, até porque eles estavam à procura de uma nova Índia, e não de um Brasil com índios considerados mais que ultrapassados. Como se sabe, a história do Brasil deixa claro que quando os portugueses chegaram ao Brasil, houve o maior genocídio, e isso pode ser considerado a morte de uma cultura que já estava formada, mas que não tinha o conhecimento dos grandes mercantilistas. Com o catolicismo em alta, os europeus queriam propagar o evangelho, mas com certo interesse mercantilista. Não foi a toa que os Portugueses catequizaram os Índios. Eles queriam, de qualquer maneira, aculturar o índio nos padrões europeu, sem dó nem piedade. Com o pensamento capitalista os índios sofreram de varias formas, pois foram submetidos a trabalhos que nãos eram de costumes.
A partir do pós-achamento do Brasil, surgiram heróis, mesmo que a historia mostre apenas as tragédias. O romance retratado aqui, fala justamente de um herói que pode ser considerado, de acordo com o romance, o primeiro herói da nossa terra Brasil ou Ilha de Santa Cruz – O atual Brasil obteve tantas mudanças, que até o nome foi mudado várias vezes e que no fim, ele recebeu esse nome em homenagem aos trabalhadores que eram explorados para extrair o tão famoso “Pau Brasil”, que não sei se realmente pode ser digno de chamar “Brasil”, já que por muitos anos fomos explorados pelos brancos que aqui chegaram. “Poderiam chamar o nosso pais, a nossa querida terra de ‘Inbrasil” – logo que não sobrou quase nada do nosso povo original. Voltando a parte do primeiro herói de nossa terra, que foi chamado de Cunhambebe, – que significa “língua que corre rasteira”. Ao contrario do significado do seu nome, Cunhambebe foi um forte. De lento na tinha nada. Ele era do tipo que lutava até com outros índios, só pelo fato de ser de outra tribo.
Um bom exemplo da sua valentia foi quando os portugueses chegaram à nova terra, querendo escravizar os índios que aqui estavam e usufruir das grandes riquezas. Cunhambebe não deixou passar, e revoltou-se contra os brancos, travando assim uma grande batalha, utilizando as suas armas, como flechas, arcos e tacapes. Mesmo sendo armas inferiores aos dos brancos, ele lutou e permaneceu ileso. Os portugueses tinham um grande medo do herói Cunhambebe, ao contrário dos franceses, que com mais esperteza preferiam a amizade com os Índios, provocando certo acordo, trocando entre eles objetos vindos da Europa. Na realidade, os franceses apreciavam bastante a vida dos Índios, pois a Europa estava em crise religiosa, então ter uma vida de sexo e festas servia como refugio, ou, até mesmo cometer pecado longe de suas origens, sem serem recriminados pelos grandes lideres, ou até mesmo de Deus e, também, havia franceses que almejavam viver como selvagens. Às vezes a impressão é que Deus não se fazia presente nessa terra, então poderiam praticar qualquer coisa.
Digamos que os brancos tinham outro objetivo. Como foi citado, eles tinham um pensamento mercantilista, logo, o seu maior interesse era encontrar preciosidades, com isso, o a nova terra tornou-se um grande comércio a partir das divisões de terras. Para os brancos, os Índios eram bichos, e sem sentimentos, mas, o romance mostra o contrário, pois há um trecho que um índio dialoga com um branco francês e que cita que eles, os índios, também amam seu povo, dentre ele os seus filhos e que faziam questão das suas terras e que não abriu mão.
Além da briga entre índios e europeus, houve também entre europeu contra europeu, ou seja, três representações e apenas uma terra, e isso piorou a situação dos índios. Cunhambebe só deixou de lutar após a sua morte, pois enquanto estava vivo, ele usava de todas as formas para defender o seu povo. Enganam-se quem pensa que todos os índios estavam contra os portugueses. Havia um cacique que, ao contrario de Cunhambebe, ele ficou do lado dos portugueses, sendo assim, considerado um traidor dos índios. Pelo fato dele defender os portugueses, o grande prêmio ganhado foi uma estatua com o seu nome.
O narrador desse romance deixa claro que, no Brasil, só tem prestígios quem fica do lado dos brancos. Quem defende seu povo, fica no esquecimento. Isso fica claro em várias partes do romance. Não é a toa que varias ruas ganharam nome de pessoas vindo de fora. Por que será que só homenageiam os indígenas quando o assunto é praia? Os índios eram seres que curtiam apenas praias e não trabalhavam? Os Portugueses que trouxeram o grande avanço do Brasil? E a mão de obra? E quem mais batalhou para o crescimento, dando suas vidas e entregando a sua rotina aos brancos. Fica entre linhas de que, até hoje, os brasileiros valorizam o que vem de fora. Artista de fora é coisa boa, vale a pena pagar caro em um espetáculo de quem vem de fora, mas, os que trabalham dentro da nossa terra são considerados bestiais, fúteis, preguiçosos e sem qualidade. Vale ressaltar sobre a mão de obra que até hoje explorada. Será que a exploração indígena acabou? Não, não acabou. O que significa, então, essas grandes empresas que se alojam na nossa terra, explorando a mão de obra? Isso pode ser consequência do nosso passado que ainda está presente.
De certo modo o narrador defende os comportamentos dos índios, que eram considerados canibais. Não é em vão que Antonio Torres cita que o primeiro Rei do Brasil – Cunhambebe - era canibal. A imagem que passa é que, ele tem um total apoio às atitudes indígenas. O índio é considerado por ele um herói, pelo fato deles não darem chances aos brancos de tomar o que é seu, e essa resistência se deu por conta do primeiro rei do Brasil que era forte e temido pelos portugueses. E, como exemplo de heroísmo indígena, vale ressaltar a narração do aprisionamento de alguns brancos. Mesmo mantendo a aparência de um branco bom, os índios aprisionaram o Manuel da Nóbrega, - que era um jesuíta - ainda que ele não partilhasse do mesmo sentimento dos outros portugueses.
E por falar em Jesuítas, vale ressaltar que muitos deles foram mortos pelos índios. Querendo ou não, alguns deles criaram certa desconfiança, logo, alguns ficaram divididos. Uns apoiavam os jesuítas e outras queriam guerra. O romance dá uma ideia de que alguns índios aceitavam a nova fé, tanto que, houve um tempo em que eles largaram as armas em nome da paz que eles estavam se habituando à cultura portuguesa, exigindo produtos europeus de boa qualidade, ou seja, havia uma necessidade dos índios de usufruir de novas tecnologias, mas, acredito que essa necessidade veio logo após um processo de aculturamento europeu na nova terra. Antes disso, a vida dos índios era limitada, pois não havia conhecimento de outros objetos, logo não havia necessidade de utilização. Isso ocasionou em comercio, já que a necessidade de exportar aumentou.
O narrador deixa claro, no segundo capitulo, que a terra achada pertencia a outro deus, não o deus europeu. A criação do Brasil não foi diferente da retratada no livro de Genesis, porem, por outro deus. Ele faz alegoria com alguns personagens da bíblia, como por exemplo, Noé. Entende-se que o narrador quer deixar claro que, independente do Cristianismo, nosso povo possuía a sua história com sua religião e o seu deus. Não era necessário implantar uma nova Era, com doutrinas Cristãs, já que os índios possuíam, assim como os portugueses, as suas. Não era bem assm um povo sem lei e sem Deus. Eles possuíam um deus que também castigava o seu povo por causa das falhas. Algumas regras que os brancos implantaram para os índios, foram baseadas no livro de Levítico, no antigo testamento da bíblia sagrada. Segue o trecho: “Ele os proibiu de se alimentarem de animais pesados ou vagarosos para não se tornarem preguiçosos. E ensinou-lhes lhes ainda a depilar seus corpos. Os homens, a barba e o supercílio. As mulheres, os pêlos pubianos.” (Pág. 101)
Segue o trecho bíblico: “Tudo o que anda sobre o ventre, e tudo o que anda sobre quatro pés, ou que tem muitos pés, entre todo o réptil que se arrasta sobre a terra, não comereis, porquanto são uma abominação. (Levítico 11:42)
Na bíblia, essa passagem se refere a animais imundos, porem, como os portugueses queriam serviços dos indos, com trabalhos pesados, houve algumas contradições com o verdadeiro significado das duas passagens. Na verdade, os portugueses queriam que os índios praticassem trabalho pesado, mas, há um erro na interpretação na passagem de levitico. A tal proibição para o povo do livro de levitico era uma questão de saúde. Moises, inspirado por Deus, mostrou as leis para que o povo vivesse em harmonia. Mas, vai outro pensamento: será que os brancos viam a preguiça como doença, e por isso, proibiam a comilança de animais? Espelharam-se realmente nas leis de Moises, para manter a harmonia e a saúde daquele povo? O narrador deixa a entender que os brancos aproveitaram a inocência dos índios em relação a bíblia para poder explorar a mão de obra. Biblicamente, trabalhar é benção. Provavelmente eles aprenderam tudo isso na catequização, logo, a preocupação em ensinar a bíblia e os bons costumes europeus aos índios era, na verdade, um interesse em fazer uma lavagem cerebral e ‘conscientizar’ dos seus ‘pecados’, para que possam trabalhar com mais vontade e vê prazer nisso.
Diante dessa terra criada por outro deus, há uma passagem que diz “Se Deus era Monan, o rei se chamava Cunhambebe”. Cunhambebe deixa a impressão de ser um messias naquela terra considerada, para os brancos, seu Deus. Mas, o que eles não sabiam é que o seu deus era Monan, e que também, assim como no Cristianismo teve um Messias. O que veio para lutar pelo seu povo, e que só parou a luta quando morreu. Mas o deus dos índios não sobreviveu muito tempo. Os franceses e portugueses não aceitavam a crença dos índios, fazendo então a cabeça deles para que mudassem de deus.
Desde época do achamento existe esse costume de impor religião para que as almas sejam salvas. Isso continua até hoje na nossa terra. Homens engravatados ou de batas, dando continuidade ao Cristianismo e fazendo com que as almas se arrependam dos pecados para ter a salvação, mas, o que sobrou hoje do deus Monan? Aparentemente anda tudo apagado, e para presenciar rituais indígenas é necessário ir atrás dos aldeiados que ainda continuam com as suas raízes. Há questão é: o Brasil é um país cristão? Deixaram uma enorme parte da cultura européia, e a religião permanecerem com muita ênfase. É fácil identificar. Basta freqüentar algum hospital, cartório, escolas entre outros órgãos para percebemos a marca que ficou no Brasil acerca do Cristianismo.
No terceiro capitulo que tem por titulo “A viagem a Angra dos Reis”, o narrador muda a estilo de escrita, e passa a descrever a história de uma forma que faz com que o leitor viaje no tempo e continue nos tempos modernos, quando, por exemplo, ele cita alguns escritores como Machado de Assis e Vinicius de Moraes. Na realidade, o terceiro capítulo passa uma impressão de que mudamos de livro e que soltamos de uma vez para os anos 2000, isso por causa da linguagem utilizada, como as gírias, que não eram típicas do anos do achamento do Brasil.
O narrador faz comparações com profissionais atuais com portugueses na época da colonização. Ele cita comportamentos que, para ele, não é de um branco competente. Mas, qual a preocupação do narrador em destacar esses tais comportamentos? O fato é que somos descendentes de brancos, indígenas e negros, e que pegamos características de cada um deles. Mas, o Gaspar da mercearia – que era ladrãozinho (sim, ladrãozinho), herdou esse comportamento dos portugueses? Provavelmente, até porque quem invadiu o Brasil foram os brancos, tirando nossos bens preciosos, não só o ouro ou o Pau Brasil, mas a nossa cultura, que foi substituída por outra, tornando, assim, um pais com uma característica que é hoje criticada por nós mesmo. Então: “O pau comeu, o pau comeu na sua história e você não percebeu”. Nossa história foi de muita luta.
Voltando a parte das comparações, há um trecho que o narrador explora o que é os morros do Rio de Janeiro. Os traficantes, que possuem a mesma atitude dos bnrancos, querendo possuir uma terra que não tem dono.
“Olha aí, monsieur, como é que se faz para conquistar um território. Não é com querelas teológicas, não. É com fogo, comandante” (Pág. 137). Antônio Torres quis deixar claro que, ao contrário dos brancos europeus, os “reis” dos morros não tentam persuadir a população para conquistar o seu território. As maiorias das pessoas possuem a consciência que, quem quer ser dono de algum morro, mandam, bala ao invés de bíblia. Não apelam para o lado espiritual, e sim, material. Há uma carga muito grande no comportamento dos brasileiros.
Tudo tem seu fator histórico, que vem desde o achamento até o tempo de hoje, e o narrador deixa claro que os brancos são culpados pelos nossos comportamentos.
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Alexandra 17/09/2022

Meu querido canibal
O início é muito bom e bem interessante, mais depois fica meio chato e sem sentido.
A história é boa.
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Matheus Marton 21/11/2020

Ótimo
Uma história fantástica que hoje não está mais esquecida graças a essa obra incrível, escrita com muita fluidez e maestria por Antônio Torres, é claro que em alguns momentos se fez necessário recorrer a ficção, mas, em nada deixa a desejar!
Super recomendo!
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Leonardo.Fernandes 01/12/2021

Um ensaio muito bom sobre Rio e são Paulo dos anos 1500
O brasil já foi um paraíso à sua maneira, mas aí chegaram os europeus...

Ta certo que os índios, em especial os tupis, adoravam uma briga (tipo a Grécia antiga), mas quando brigavam entre si estavam enfrentando inimigos honrados, não mentirosos covardes

Será que o mundo seria melhor se a europa tivesse sido colonizada pela américa?
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