Edson Camara 18/10/2020
SE ALGUM DIA VOCÊ JÁ TEVE ALGUMA VISÃO ROMÂNTICA SOBRE O CANGAÇO, ESQUEÇA
Quando concluí Pedra Bonita, descobri que José Lins do Rego tinha escrito a continuação da saga de Bentinho e sua família, 15 anos depois do lançamento de Pedra Bonita, neste romance chamado Cangaceiros.
Saí a procura deste livro e não o encontrava em lugar algum, estava esgotado, só encontrei algumas edições antigas a um preço proibitivo. Mas, ontem ganhei de presente de um amigo e comecei a ler a saga de Bentinho. É incrível, mesmo passados 15 anos, o autor continua os fatos como se fosse o mesmo romance. Com uma diferença, agora sua escrita é mais fluida, mais madura e mais cruel. Os personagens sofrem, muito, e um desfile de histórias tristes e violentas, principalmente para as mulheres.
O pano de fundo de Cangaceiros é a vida de sinhá Josefina e seu filho Bentinho vidas sofridas de mãe e irmão de cangaceiro, os dois estão "acoitados" na fazenda do Coroné Custódio a mando de Aparício, o cangaceiro.
As páginas vão sendo preenchidas pelo autor com a história de diversos personagens coadjuvantes, muito sofrimento, muita resignação da condição do sertanejo e muita violência.
Zé Lins introduz uma nova personagem, Alice, a menina bonita vai influenciar a vida de Bentinho.
Ele, morre de medo de causar mal a moça devido a sua condição de irmão de cangaceiro, se alguém descobre, e os soldados chegarem, a desgraça vai estar feita e certamente eles desonrarão sua querida Alice.
Bentinho vive na maior angústia por causa disso, e sofre também porque sua mãe está ficando louca e desconta nele a raiva de ter parido o irmão cangaceiro.
Se algum dia você já teve alguma visão romântica sobre o cangaço, esqueça, este livro mostra sem dó nem piedade o que era o cangaço e seus cangaceiros.
Depois que a mães, sinhá Josefina morre, os cangaceiros seus filhos, Aparício e Domício, viram o diabo em pessoa e aí de quem desse o azar de encontrá-los.
José Lins do Rego desfia um rol de histórias e causos por entre as páginas do livro na voz dos personagens e em diferentes pontos de vista.
Mas, vou te dizer, a vida daquelas pessoas era um inferno, tanto faz se eram os cangaceiros ou a volante, o destino era o mesmo, se fosse homem e não caísse pelas balas, era espancado e degolado, se fosse jovem era capado antes. Se fosse mulher, passaria por toda a tropa até morrer, se fosse donzela então passava a tropa as vezes duas vezes seguidas.
O autor conta sem muitos detalhes, mas desperta a imaginação e as imagens evocadas nós causa um aperto no coração.
Invariavelmente os cangaceiros (e as volantes) matavam o que ainda tivesse vida na propriedade e queimavam tudo. Um inferno.
No meio da trama está também o Coroné Custódio. Que passa o livro inteiro contando como o filho foi morto pelo inimigo e como ele foi covarde e não vingou o menino.
Para quem gosta de aventuras sanguinárias e cruéis este livro é um prato cheio.
Não sei como este livro lançado em 1953 passou pela censura da época.
De qualquer forma é uma boa obra da literatura brasileira de qualidade