Franceline0 03/01/2022
O que dizer, explicar ou compartilhar após a leitura de "Momo e o Senhor do Tempo"?
A princípio, sinto-me privilegiada e grata pela oportunidade do encontro com este livro. É impressionante como Michael Ende consegue traduzir de forma tão sensível os dilemas atuais do ser humano para lidar com o seu tempo. Nos vemos correndo de lá pra cá, como baratas tontas, sobrecarregados de trabalho, com uma agenda cheia, apressados em tudo (nos relacionamentos, no lazer, na alimentação, no sono, no pensar, no falar, no ouvir, no descansar) e com a falsa ideia de quanto mais rápido fazemos as coisas, mais tempo estamos poupando.
Afinal, é possível poupar tempo?
Momo é uma criança, moradora de um anfiteatro em ruínas. Muitos dos moradores da cidade tornam-se seus amigos. Se por um lado, seus amigos a ajudam com comida, a menina se torna também super importante para aquelas pessoas, pois os escuta, como ninguém nunca fez. Consegue resolver conflitos, angústias, cria laços com as crianças, tudo isso somente parando e escutando-os de forma muito atenta.
Mas tudo muda na cidade com o aparecimento dos homens cinzentos, aqueles que convencem todos os adultos da cidade que eles estão desperdiçando seu tempo. E, que portanto, é preciso poupá-lo para o futuro, na Caixa Econômica de Tempo. Poupar tempo significava trabalhar mais depressa e deixar de lado tudo o que não era considerado essencial.
A história se desdobra numa grande aventura e encontros inesperados de Momo com a tartaruga Cassiopeia, o Senhor das Horas e muito mais... Como o próprio título adianta "a extraordinária história dos ladrões de tempo e da criança que trouxe de volta às pessoas o tempo roubado".
Impossível chegar ao fim do livro e não se perguntar, se a ideia de desperdiçar ou poupar tempo tem feito parte dos nossos dias também. O que podemos fazer a respeito? Respostas? Poucas, já que os caminhos e desdobramentos desse livro se encontram dentro de cada leitor. Até porque o tempo é único e raro para cada um.
Para os meus caminhos, tomo emprestado e espero nunca esquecer as palavras de Beppo Varredor, um dos melhores amigos de Momo:
" _ Veja só, Momo- certa vez ele disse, por exemplo- é assim. Às vezes temos à nossa frente uma rua muito comprida. Achamos que ela é terrivelmente comprida e que nunca seremos capazes de chegar até o fim. [...] _ Então começamos a nos apressar. E nos apressamos cada vez mais. Cada vez que levantamos os olhos temos a impressão de que o trabalho que temos pela frente não diminuiu em nada. Nosso esforço aumenta, começamos a sentir medo, acabamos ficando sem fôlego e completamente esgotados. E a rua continua inteirinha na nossa frente, tão comprida quanto antes. Não é assim que se deve fazer. [...] _ Nunca devemos pensar na rua inteira de uma vez, está entendendo? Devemos pensar apenas no passo seguinte, na respiração seguinte, na varrida seguinte, e continuar sempre pensando só naquilo que vem a seguir." [...] _ Fazendo assim, temos prazer. Isso é importante, e o trabalho sai bem-feito. Assim é que deve ser. [...] _ De repente, verificamos que, passo a passo, chegamos ao fim da rua cumprida, sem perceber e sem perder o fôlego."
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