spoiler visualizarRoberto 21/11/2021
Babbitt, de Sinclair Lewis, é mais um volume da coleção de livros clássicos que comprei quando era adolescente. Na época, quando li o fascículo que trazia informações sobre o autor e a obra, tive muito preconceito e achei que o livro seria chatíssimo, principalmente quando o fascículo dizia que se tratava de uma Sociologia da classe média estadunidense. 19 anos depois, já mestre em Ciências Sociais, peguei o livro na estante para ler e me deliciei com ele!
A obra conta a história de George F. Babbitt, corretor de imóveis na cidade fictícia de Zenith. Casado com Myra, filha de Henry Thompson, seu sócio na imobiliária, pai de três filhos, militante do Partido Republicano e membro da Igreja Presbiteriana, o protagonista mora com sua família em uma casa muito bem construída e que tem tudo o necessário para uma vida confortável, mas que não é um lar.
A própria vida familiar traz vários dissabores a Babbitt. Ele não ama sua esposa, com quem casou mais por convenção social, e vive se aborrecendo com as brigas entre Ted e Verona, seus filhos mais velhos, apesar de ter momentos de felicidade em sua relação com a caçula Tinka. Por ter sonhado em estudar Direito em Princeton, apesar de ter cursado Administração na Universidade Estadual, ele vive insistindo em fazer com que seu filho siga o caminho que queria para si. O rapaz, porém, quer se dedicar a mecânica, o que representa mais um desgosto para Babbit.
Apesar de propaladamente moralista, Babbitt se envolve em vários negócios minimamente suspeitos, para não dizer ilícitos, com a Companhia de Transportes de Zenith. É membro do clube dos Boosters e do Clube Atlético, agremiações de profissionais que, como ele, buscam ascensão social e que funcionam como irmandades nas quais seus membros priorizam a aquisição de produtos e serviços de seus confrades. Esses grupos também atuam como basiladores ideológicos para seus membros, propagando o conservadorismo e o arrivismo. Vale ressaltar que, apesar de considerarem "cidadãos de bem", Babbitt e seus amigos dão jantares e frequentam festas regadas a bebidas alcoólicas em pleno período de vigência da lei seca nos Estados Unidos.
A vida do protagonista, então, é permeada pela hipocrisia, pela aparência de perfeição que esconde seu desagrado com muita coisa que faz com o objetivo de subir na hierarquia social. Desejo típico de um homem que veio de uma pequena cidade do interior. Babbitt se opõe ferrenhamente às mobilizações operárias por melhores remuneração e condições de trabalho e desdenha com o desejo de quem quer comprar o estilo de vida das elites de Zenith. Comportamento típico de um membro da classe média.
O climax do livro ocorre depois de Paul Riesling, seu melhor amigo, atirar em sua própria esposa ser preso. Ao perder o contato com aquele que lhe servia como âncora social e moral, Babbitt passou a questionar sua vida e suas ações e a revoltar-se contra os ditames sociais que seguia a risca até então.
Comecei o livro odiando Babbitt e terminei quase que me simpatizando com o personagem. Acabei me identificando mesmo com ele em algumas passagens e fiquei muito feliz com a guinada que ele deu em direção ao controle de sua própria vida. Não falo da reviravolta com Tanis Judique e a Turma, mas daquela que ocorreu na última página do livro. É uma leitura bastante agradável e bem ilustrativa da vida dos "cidadãos de bem" dos Estados Unidos e do Brasil também, pois percebi muitas semelhanças entre a classe média de lá e a daqui.