Coruja 28/05/2013Tema do mês no Clube do Livro agora em maio é algo que está na moda: zumbis. E quem venceu, de lavada, foi Sangue Quente - o que me deixou um pouco surpresa, porque temos entre nossas hostes alguns fãs hardcore das criaturas comedoras de cérebros e por isso eu estava esperando The Walking Dead ou algo do Max Brooks.
Mas tudo bem, não tem problema, o ‘R’ também vale para a categoria. ;)
Esse aqui assisti o filme no cinema, porque ganhei ingressos de cortesia para ir vê-lo. Vá lá, o filme é fraquinho, mas vale umas boas risadas e algumas tiradas até bem boladas (todas cenas presentes no trailer...). Como me diverti razoavelmente com o filme – até porque passei o filme todo trocando piadas cretinas com meu colega de cinema, o Duda – comecei o livro sem muitas expectativas além da possibilidade de rir.
O livro começa um pouco diferente e de forma mais existencialista. R – o zumbi protagonista que narra a história – é um zumbi que, embora tenha perdido suas memórias para além de um flash ou uma impressão aqui e ali, é ainda capaz de pensar com bastante clareza e até mesmo filosofar.
Numa das inúmeras caçadas aos vivos para se banquetear, R vai encontrar Julie, isso logo após ter devorado o cérebro do namorado da moça, Perry, e com isso, adquirir as lembranças e sentimentos do falecido. R salva Julie e a leva para o aeroporto em que os zumbis... ok, vivem não é a palavra mais certa aqui... habitam? É, habitam está de bom tamanho...
Esse encontro vai ser o estopim para uma mudança drástica. Aos poucos, R vai recuperando sua humanidade, à medida em que se afeiçoa à Julie, inspirados pelas lembranças que visita enquanto vai devorando o cérebro de Perry.
Há alguns detalhes que, no todo da história, são bastante bizarros... A despeito disso, o livro funciona até bem – para um zumbi, R é extremamente articulado - ao menos dentro da própria cabeça - e tem tiradas muito boas ao longo da ação. É especialmente interessante a forma como ele é contra a distinção entre mortos e vivos, sobre o fato de que independente de qualquer coisa, todos eles são humanos.
Fico me perguntando o que R fazia antes de se tornar um zumbi. Ele parece viver em constante crise existencial, é observador, preocupa-se com questões morais. Em muitos momentos ele se perde filosofando, ele se preocupa em tentar lembrar... E é quase uma contradição, um espelho invertido quando, a determinada altura, Julie diz que gostaria de esquecer.
É um bom livro sessão da tarde, melhor que o filme, inclusive. Tem seus furos, mas ainda funciona bem.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)