Karina 31/08/2011
Uma incrível história sobre amor e...zumbis!
A história:
R é um jovem vivendo uma crise existencial - ele é um zumbi. Perambula por uma América destruída pela guerra, colapso social e a fome voraz de seus companheiros mortos-vivos, mas ele busca mais do que sangue e cérebros. Ele consegue pronunciar apenas algumas sílabas, mas ele é profundo, cheio de pensamentos e saudade. Não tem recordações, nem identidade, nem pulso, mas ele tem sonhos.
Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a "vida" de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos-vivos, e talvez o mundo inteiro. Assustador, engraçado e surpreendentemente comovente, Sangue Quente fala sobre estar vivo, estando morto, e a tênue linha que os separa.
Meus Pitacos:
Penetrante. Cheguei ao final da última página. Suspirei. Fechei o livro. Encarei a capa por alguns instantes segurando forte o livro entre as mãos como se a história fosse escapar. Respirei bem fundo e, por fim, pensei: "Ok, estou apaixonada por um Zumbi".
Poucas vezes um livro me tocou de forma tão forte. Mas, para entender o porquê, vamos voltar um pouquinho no tempo...
Em geral, quando eu pego um livro para ler, eu faço o óbvio: olho bem a capa, dou uma checada na quantidade de páginas, e, corro para a sinopse! Confesso que ultimamente estava meio broxada porque tudo o que tem aparecido na minha frente é "literatura fantástica". Gente, nada contra histórias sobrenaturais, eu as adoro, mas acho que tudo tem um limite.
Esse surto de "vampiros e bruxos" evoluiu demais: você acorda achando que é uma sereia, passa o dia crente que é uma fada com superpoderes, brinca de bruxa, finge ser vampira, e, quando a noite chega, você dorme como um anjinho, ou ainda como um nefilim ou "qualquercoisaparecida" já que o conceito é o mesmo, só mudam as histórias.
No meio de tantos seres de "outro mundo", eu pego um livro intitulado "Sangue Quente" e, justamente na sinopse, vejo que é sobre zumbis. Claro que o meu pensamento imediato foi: "Ah, não! Mais um livro deste tipo! Agora 'a onda é escrever sobre zumbis'" .
E piorei nos pré-julgamentos: "O quê? É um romance? Vai ter amor entre zumbi e ser humano? Isso é demais para mim, mas vou dar uma chance, vai. Tá todo mundo falando...".
Ao iniciar a leitura fui literalmente sugada por uma narrativa gostosa, rica em descrição e, acima de tudo, envolvente. Tudo no melhor estilo "seria hilário se não fosse trágico". Sim, porque estamos falando do seguinte cenário: um mundo pós-apocalíptico em que poucos sobreviveram e o restante virou zumbi.
Mas, com um "mero" detalhe: os vivos moram em pequenas sociedades dentro de estádios de futebol porque são mais seguros (oi!?); já os zumbis vivem aos bandos (também como uma espécie de sociedade), porém, em lugares como, ahn...err... um aeroporto!
- Peraí Karina, para tudo: humanos em estádios de futebol e zumbis em aeroportos?
- SIIIMMM! Não é louco e fascinante?
Nosso "herói-zumbi" que atende por "R" costuma sair sempre com o resto do bando para as suas caçadas. E o que os zumbis comem mesmo, hein?
Quem pensou "Cééééérebro", acertou!
Afinal, "R" é um zumbi e como qualquer outro precisa se alimentar.
Mas, o grande diferencial é que "R" tem uma certa "consciência". Ele não fica se rastejando por todos os lados sem rumo. Ele quer ir além: quer saber quem ele foi, de onde veio, qual era a profissão dele enquanto era vivo; que realmente aconteceu ao mundo. Ele até conseguiria dar risada, se seus lábios não estivessem apodrecendo...
Nesta busca por sua identidade, já que ele não consegue se lembrar nem de seu nome inteiro, ele acaba conhecendo Julie - uma garota cheia de VIDA que mora com sua comunidade em um estádio. De repente, algo começa a mudar e a se transformar lentamente...
E foi exatamente neste ponto que o livro me cativou. Na verdade, essa é a grande sacada da trama!
O livro tem romance, drama, companheirismo, além, é claro, de cenas bizarras e umas "viagens" incompressíveis do autor estreante (leia abaixo o perfil dele e você vai entender como ele é bizarro!).
Nosso amigo-zumbi "R", por exemplo, só consegue falar no máximo, até quatro palavras seguidas, o resto sai como um grunhido engasgado (claro, não esperemos que zumbis tivessem uma dicção perfeita), e nem queira saber como os zumbis fazem sexo. Argh!
Uma das coisas mais bacanas é o fato do livro ser narrado pelo ponto de vista de um zumbi. Geralmente, vemos na mídia, zumbis que apenas vagam em busca de humanos. Eles são retratados como monstros temidos comedores de carne humana. O próprio filme "Eu sou a Lenda" que não me deixa mentir...e tantos outros!
Em "Sangue Quente" você vai estar na pele (ai, que nojo!) de um zumbi. Ou melhor, vai estar na mente pensante de um zumbi e vai descobrir com ele o quão doloroso é não sentir nada. Não ter nada. Nem sequer um passado ou tão pouco, uma vida!
Eu mais do que RECOMENDO essa leitura! Espero sinceramente que o escritor não pare por aí...
Certifique-se sempre de NÃO estar comendo nada durante a leitura do livro. Existem vários momentos de "Oun, que fofo", porém, o livro está recheado de cenas como "Ecat, que nojo, urgh!".
Mais em:
www.89fm.com.br/contracapa89