spoiler visualizarMaria7823 11/02/2024
O que lhe parecia medíocre
Em sua altivez, gerada pela imatura inadimição da realidade, Emma buscou com todas suas forças justificativas, que maculassem sua escolha tão débil quanto seu marido, o que é esse pobre miserável, se não um reflexo de si que a enoja, Emma busca uma liberdade tácita, mais real que essa vida que se recusa a protagonizar, por isso se deleita em culpas que se sobrecaem ao marido, à filha, à ela própria, que é a grande elaborado daquela humilhante vida que foi sua mais secreta busca. Em seu arroubos apaixonadas nada restou, a não ser uma alma devorada pela insaciável intolerância à sua vida, essa busca que a levava a mergulhar nas mais profundas águas da deslealdade e do desespero, era sempre uma volta aos mesmos e incompletos dias, voltava à sala de jantar e sentava-se a frente de Charles, tudo tão monótono quanto ela própria ao se entregar em uma nova paixão, Emma não abandonou só uma vida medíocre, abandou uma existência mediocremente delimitada por desejos indecifráveis e irreais. E em sua morte nada muda, a cada linha parecia uma volta ao início da narrativa, seu coração parou e nada participou da sua extaticidade, nada além daquele homem que ela provavelmente esperou se reerguer, e que não fez nada além de se afundar na mesma sepultura que ela quis possuir solitariamente, e a miséria de sua existência e de sua família antagonizou às realizações daquele farmacêutico que se realizava ao equiparar a cena desastrosa da família Bovary aos escárnios de sua vida, nem em sua atitude mais egoista Emma alcançou a finalidade de se realizar, seja pelo fascínio que sua morte causou ao Sr. Homais, seja pela dor que sua findada existência levou a Charles.