Gabriel Oliveira 18/06/2022Bom.Certa vez Assis Brasil participou de uma live comemorativa de um curso de escrita do qual ele era/é professor. Lá, eu participei e fiz uma pergunta que ele me respondeu; perguntava eu se Os Sofrimentos do Jovem Werther era um romance ou uma novela. A resposta me supreendeu, pois ele afirmou categoricamente que erau uma novela, coisa que eu nunca suspeitava. Lembro até hoje que uma coisa que me espantou foi a seguinte: como é que, e por quê colocamos um distanciamento tão grande entre nós e os escritores que existem por aí, mesmo os nacionais? Eles também são gente como nós, e não estão tão distantes como pensamos.
Já havia lido o incrível "Escrever ficção" do mesmo autor, obra que foi um divisor de águas na minha jornada como escritor. Então quis ir mais fundo na obra ficcional dele e arrisquei conhecer essa obra aqui, outra novela, que está entre as mais conhecidas. Uma curiosidade é que esta obra é citada com destaque no artigo da Wikipédia que trata de novelas literárias; a obra do gaúcho está, veja você, do lado de nada mais nada menos que A Metamorfose, de Kafka (!).
O enredo é simples; temos aqui um triângulo amoroso no clássico esquema 2-homens-1 -mulher, lugar já bastante visitado para quem conhece a obra mais madura do outro Assis, o Machado de.
O vocabulário da novela às vezes (raramente) mais atrapalha do que ajuda, mas de certa forma contribui para dar um tom antigo que a história precisa, afinal se passa em meados do século XVII. Um ponto relevante é que o autor entrega em sua obra um tom assumidamente passadista, o que não o impede de incluir cenas eróticas no começo (por sinal, são bem carregadas se você for me perguntar.) Essas duas coisas parecem ser incoerentes, já que obras antigas normalmente não tinham esse tipo de coisa. Porém não estamos diante de um autor que apenas imita obras antigas, emprestando um verniz desbotado à sua escrita; estamos, sim, diante de um escritor que sabe articular bem elementos aparentemente contraditórios e construir uma boa história.