Pandora 24/10/2019Sim, uma narrativa pode e deve ser boa por si só, mas às vezes você a compreende melhor se compreende melhor o seu autor.
Carson McCullers foi uma garota prodígio. Aos dez anos começou a aprender piano; aos 15, ganhou de seu pai uma máquina de escrever para estimulá-la na escrita. Aos 17 saiu de casa, em Columbus, na Geórgia, para estudar na prestigiada escola de música Juilliard em Nova York. Lá, após ser acometida por febre reumática, voltou a Columbus para se recuperar e desistiu de estudar música.
Aos 20 ela se casou com Reeves, um ex-soldado e aspirante a escritor e eles fizeram um pacto de se revezarem em empregos comuns para que ambos tivessem a chance de decolar como escritores.
Aos 23 anos McCullers escreveu aquela que seria considerada sua obra prima: “O coração é um caçador solitário”. Foi claramente uma defensora das minorias.
No ano seguinte, ela teve o primeiro de uma série de derrames que acabaram deixando-a, aos 31 anos, com paralisia no lado esquerdo do corpo; no mesmo ano do primeiro derrame se divorciou; teve alguns casos com homens e tentou de maneira desesperada e agressiva ter casos com mulheres, mas não foi correspondida.
Em 1945, aos 28 anos, reatou seu casamento com Reeves, que, depressivo, se matou oito anos depois.
Carson continuou escrevendo e abusando do álcool; teve textos adaptados para o teatro e o cinema, foi amiga de vários escritores e com a saúde cada vez mais debilitada, faleceu de hemorragia cerebral aos 50 anos.
Solidão, melancolia e fracasso são uma constante nos textos de Carson McCullers. Neste livro, além de “A balada do café triste”, que tem 89 páginas, há outros seis contos bem menores. Eu decidi ler os menores primeiro e foi a melhor coisa que eu fiz, porque nenhum deles me tocou especialmente, então não esperava muito do primeiro. Porém, “A balada do café triste” é uma das narrativas mais originais, tocantes e sensacionais que já li. Amélia Evans é um dos melhores personagens que já tive a chance de conhecer. Terminei o conto arrebatada!
Caio Fernando Abreu escreveu no prefácio: “Traduzir Carson McCullers foi, para mim, como um exercício de reconciliação com o humano torto e carente de cada um de nós. Acredito que lê-la também o será.”
“Acontece que, naquela cidade, as pessoas não estavam acostumadas a ficar juntas por puro prazer.”
Notas: As informações sobre a autora foram extraídas da Wikipédia e do The New Yorker.
A Balada do Café Triste teve o texto adaptado para o cinema em 1991 com direção de Simon Callow e Vanessa Redgrave e Keith Carradine no elenco.