Bruna Fernández 17/05/2012Resenha para o site www.LivrosEmSerie.com.br“- Quem, caralho, precisa de uma infecção para exterminar a espécie humana? Nós sozinhos nos bastamos, obrigado!”
Os dias escuros é o segundo livro da trilogia Apocalipse Z, do autor espanhol Manel Loureiro. Seu primeiro livro foi uma grande surpresa pra mim, pois, como mencionei na resenha, nunca tinha lido nada sobre o tema zumbis/mortos-vivos e adorei a narrativa. Esse segundo livro já começou ganhando muitos pontos positivos comigo: o autor faz uma recapitulação de tudo o que ocorreu no primeiro livro logo no começo. Como fazia mais de um ano que eu tinha lido a primeira parte, foi ótimo para reativar minha memória e poder seguir a nova leitura sem ficar em dúvida sobre a história ou os personagens. Achei isso incrível e deveria ser um exemplo a ser seguido por muitos autores de série.
Neste segundo livro da série, o grupo de sobreviventes que acompanhamos no primeiro livro – o advogado protagonista da série e seu gato Lúculo, o ucraniano Viktor Pritchenko, a jovem Lúcia e a freira Irmã Cecília – conseguem chegar às ilhas Canárias, um dos últimos lugares do mundo que está livre dos não mortos. Acho muito curioso o fato de que o nome do protagonista não é mencionado em nenhum dos dois livros, em momento algum; e eu só me lembro desse “detalhe” quando vou começar a escrever a resenha – sem antes ficar um bom tempo tentando me recordar do nome dele e revirar o livro procurando o nome dele, é claro.
Porém, ao chegarem à ilha os sobreviventes não encontram exatamente o que esperavam: a zona em que eles chegam está livre de não mortos, mas não deixa de ser caótica. O estado está em guerra civil, sem comida suficiente para alimentar os sobreviventes, sem remédios suficientes para tratar dos doentes, – afinal, não é porque um apocalipse zumbi aconteceu que as pessoas não tem mais gripes, câncer, derrames e etc. Gostei muito da forma como o autor retratou o estado em que as pessoas que sobreviveram se encontram, a imagem que a narrativa passa chega a ser angustiante de tão realista. Nesse livro, descobrimos também o que aconteceu com o resto do mundo. Em uma conversa do protagonista com uma das chefes da ilha, o leitor é informado de como a devastação aconteceu, como ela começou e por que não conseguiram conter essa contaminação a tempo, trazendo muitas respostas logo de cara.
Devido a essa escassez de remédios, o protagonista e Prit são “convocados” a se unir a uma força tarefa em uma missão praticamente suicida – acompanhar um grupo de soldados até Madri para saquear um dos principais hospitais da cidade em busca de toneladas de medicamentos para os sobreviventes. Com apenas pouco tempo de descanso, depois de quase um ano fugindo e enfrentando os não mortos, ambos se encontram de volta ao inferno do qual escaparam por pouco, deixando Lúcia e Irmã Cecília, para trás. Mas não são só os homens que vão passar por momentos de terror. Com a irmã Cecília em coma, e a partida de seus outros companheiros, Lúcia se encontra “sozinha” na ilha e vai ter de enfrentar muitas barras, tão assustadoras quanto uma horda de não mortos.
Como se não bastasse ter que lutar contra esses seres que praticamente dizimaram a raça humana da face do planeta, a guerra civil explode e os homens começam a atacar uns aos outros. É desesperador ver que, mesmo em tempos de dificuldade o ser humano ainda consegue agir de maneira mesquinha, dissimulada e egoísta, buscando o poder a qualquer custo; e não é difícil de imaginar que isso realmente aconteceria se essa devastação fosse verdade – o homem é o seu próprio pior inimigo. Com um enredo cada vez mais assombroso e delineado, Manel nos apresenta uma obra a altura de seu primeiro livro. Empolgada para saber qual será o desfecho dessa trilogia em “A ira dos justos”, lançado pela Planeta no final do ano passado.