otxjunior 10/01/2015Filha é Filha, Agatha ChristieTerceiro livro que leio da série de não romances policiais que a Dama do Crime escreveu sob o pseudônimo de Mary Westmacott. Não sei se foi uma escolha apropriada para o início do ano pois, por experiência, sei que Agatha Christie não alivia no pessimismo nessas novelas. Mas embora esta divida muitas similaridades com Ausência na Primavera, por exemplo, a conclusão é um pouco mais esperançosa. A premissa de Ausência, inclusive, está também aqui na forma de uma teoria de uma das personagens mais interessantes do livro, Dame Laura Whitstable, quem, suponho, seja o recipiente das ideias da própria autora.
Numa estrutura devidamente compatível com uma montagem de peça teatral de três atos, Filha é Filha basicamente apresenta um conflito entre uma mãe e sua filha única quando aquela decide casar-se novamente e esta não suporta a ideia e tenta, no auge do egoísmo de seus 19 anos, dar fim aos planos de felicidade da mãe. Ressentimento, ciúme, imaturidade e inveja corroem essa relação fazendo com que cada uma procure alívio em diferentes direções a um ponto em que ambas questionem a possibilidade de retorno a um estado onde havia sincero amor fraternal mútuo.
Esses livros, dentro da bibliografia da autora, são sempre uma curiosidade, ao mostrar um lado diferente do talento de Agatha Christie. Suas observações afiadas sobre as pessoas, as ambições que os movem, as relações e conflitos convidam à reflexão, mesmo que não muito profunda. Pois o ritmo é quase como nas suas mais famosas histórias de detetive: um verdadeiro page-turner!