Pandora 21/07/2020Para ficar no coração?A praça do Diamante? é narrado por Natàlia, uma jovem simples e um tanto ingênua que vive com o pai e a madrasta em Barcelona. Ela é balconista em uma loja de doces e está noiva de Pere, um rapaz honesto e trabalhador, mas meio sem graça. Um dia, numa festa na praça, ela conhece Quimet, que é extrovertido, impetuoso e mandão; na hora a apelida de Colometa (Pombinha) e afirma sem mais delongas que dentro de um ano ela será sua esposa e sua rainha.
A vida pós casamento tem lá suas dificuldades, com as extravagâncias de Quimet - que decide criar um pombal - e a falta de dinheiro, que a obriga a procurar um emprego de meio período e deixar os filhos sozinhos em casa. Mas não é nada comparado ao que acontece quando eclode a Guerra Civil.
Eu adorei esta narrativa: é fluida e interessante, tem uma protagonista cativante e nos coloca no triste panorama da guerra pelos olhos de uma mulher, que se não lutou nas trincheiras, lutou dia após dia pela sobrevivência dos filhos e de si mesma.
Dá vontade de citar umas passagens e momentos marcantes, mas na verdade eu gostaria que as pessoas chegassem a esta leitura como eu cheguei: sem nada saber, envolvida desde a primeira página, devorando os capítulos e me sentindo íntima da Colometa.
Sem medo de ser brega: um livro para ficar no coração.
SOBRE A AUTORA:
Mercè Rodoreda foi uma das mais importantes escritoras catalãs. Ela escreveu poesia, teatro, conto e romance. Nascida em Barcelona em 1908, filha de um contador e de uma dona de casa que adoravam literatura e teatro, Mercè tinha um sentimento especial de devoção pelo avô materno, Pere Gurguí. Ele era um admirador de Jacint Verdaguer, um dos mais importantes poetas da língua catalã e incutiu em Mercè não só o amor pela cultura e língua catalãs, como a paixão pelas flores.
Rodoreda casou-se com um tio, o que exigiu autorização papal, mas o matrimônio foi para ela uma frustração e eles se separaram após 11 anos. Pouco antes da derrota dos republicanos na Guerra Civil e da instauração do regime fascista de Franco, ela foi instruída por sua mãe a sair da Espanha, em virtude de suas publicações em catalão e em revistas de esquerda. Foi para a França e deixou seu único filho Jordi com a mãe, pois não pensava que fosse ficar tanto tempo longe de casa, mas seu exílio durou mais de 30 anos.
Na França refugiou-se num castelo que abrigava escritores e partilhou a casa com vários deles, envolvendo-se amorosamente com Armand Obiols, com quem ficou até a morte dele. Com a 2ª Guerra o grupo se dissipou, mas Mercè e Armand decidiram ficar na França. Após muitas dificuldades nos tempos de guerra, trabalhos insalubres e problemas de saúde, Mercè começou a pintar. E em 1954, em razão do trabalho de Obiols, mudaram-se para a Suíça.
Mercè continuou produzindo, publicando e recebendo prêmios. Este ?La plaça del Diamant?, originalmente nomeado ?Colometa? (Pombinha) foi escrito em 1959 e foi totalmente reformulado antes de ser lançado em 1962.
Já de volta à Espanha, em seus últimos anos de vida, a autora pôde acompanhar duas adaptações de seus livros: ?Aloma? virou série de televisão em 1978 e ?A praça do Diamante? foi adaptado para o cinema em 1982.
Mercè Rodoreda morreu em 1983, de câncer no fígado.
Os escritos da autora são marcados pela simbologia poética; elementos como flores, espelhos, pombos e tudo que fez parte de seu universo particular são recorrentes em seus escritos. O pombal azul de ?A praça do Diamante? existiu em sua casa de infância.
Nota: as informações sobre a autora foram obtidas na Revista da TAG e na Wikipédia.