Cristiane.Cardoso 31/12/2021
Lorena de família rica e tradicional, que apesar de ainda manter a pose e alguns valores, vive um decaimento moral. O pai morreu internado em sanatório, a mãe vive com um amante mais novo que gasta todo seu dinheiro e não a respeita, o irmão Rômulo foi assassinado pelo outro irmão Remo, que hoje é diplomata (história que depois é apresentada pela mãe dela com outra versão, diz que ele morreu ainda bebê, de um sopro no coração - não se sabe qual a real). Estudante de Direito, delicada e detalhista, gosta de Música clássica, ler autores renomados e se relaciona com um homem casado (também há dúvida quanto a esse relacionamento, pois durante a história ela vive uma constante espera por uma ligação dele, que nunca acontece - amor platônico?). Apesar de ser julgada por Lia, como alienada, está ciente da situação vivida na época e teme pela militância da amiga. Era o apoio financeiro, tanto dela, quanto de Ana Clara, quem as duas sempre procurava quando precisava de um aconchego.
Lia, codinome Rosa, envolvida na luta contra o regime ditatorial; tinha um namorado que também era militante e estava preso.Baiana, inteligente, gosta de ler jornais, e usar frases em latim. Cursava Ciências Sociais e pretendia ser escritora. Trancou a matrícula e rasgou o romance que estava escrevendo.
Enquanto Ana Clara, cursa Psicologia, é modelo, muito vaidosa, a mais bonita das três e também a mais frágil, fazia análise, mas abandonou. Sempre motivo de preocupação das amigas, que vivem esperando por um milagre em sua vida e fazem de tudo para ajudá-la. Lorena até planeja pagar uma cirugia para que ela possa se apresentar como virgem (situação muito valorizada na época). Namora um traficante, mas está noiva de um homem rico, do qual não gosta - trata-o como escamoso. Inveja a vida da amiga Lorena, por ter uma vida estruturada, que ela nunca teve. Sua infância cercada de homens violentos, com ela e com a mãe, que ficava com vários homens. Dar a entender que foi violentada por seu dentista, talvez por isso seja tão fria na cama, como ela mesma assume. É preconceituosa, odeia negros.
Três jovens, estudantes e amigas, vivendo em um pensionato religioso. Com personalidades e realidades sociais bem diferentes, mas que tem as vidas entrelaçadas, compartilham vivências e problemas num contexto dos mais conturbados do Brasil, a Ditadura Militar.
É uma trama bem complexa. Tive um pouco de dificuldade pra entender a história no início devido a variação que ocorre com o foco narrativo que vai se alternando entre a fala das protagonistas (primeira pessoa) e a do narrador (terceira pessoa) e o tempo, que apesar de ser narrado no presente, muitas vezes se remota ao passado através da memória das personagens. Mas, no desenrolar da história vamos conhecendo melhor cada uma delas através das suas memórias que são frequentemente evocadas e à medida que fui conseguindo identificar o estilo de cada uma, (fala, pensamentos, a Lorena mais culta, a Lia revolucionária e Ana Clara misteriosa, confusa e problemática) essa dificuldade vai sendo superada e a leitura começou a fluir. Fui me envolvendo tanto com as meninas a ponto de desejar que o desenrolar do último capítulo fosse sonho ou imaginação de Lorena e Lia, mas não, o trágico fim de Ana Clara foi real, acabando com a fantasia dos romances com finais felizes e nos trazendo de volta à realidade. Senti falta de uma continuidade da história. Lia conseguiu viajar, viver com Max? Lorena realmente tinha um caso com o Dr. Marcus Nemesius? Mas, por fim, gostei muito de acompanhar a vida dessas jovens e sim, recomendo essa obra!