Os Trabalhadores do Mar

Os Trabalhadores do Mar Victor Hugo




Resenhas - Os Trabalhadores do Mar


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Lethycia Dias 24/03/2020

Excesso de descrições
Na pequena ilha de Guernesey, no litoral noroeste da França, Mess Lethierry é o bem-sucedido dono do primeiro navio a vapor a navegar pela região, e ganha a vida com o transporte de passageiros e cargas entre Guernesy e a França continental. Os amores de sua vida são seu navio, a Durande, e sua sobrinha criada como filha, que se chama Déruchette.
Quando a Durande naufraga de forma suspeita em uma região perigosa e repleta de rochedos, Mess Lethierry oferece a sobrinha em casamento a quem for capaz de resgatar dos destroços a parte mecânica do navio. Gilliat, um homem pouco respeitado na ilha, porém apaixonado por Déruchette, se oferece para fazer o que todos consideram impossível.
Esse é o terceiro livro de Victor Hugo que eu leio, depois de "Os Miseráveis" e "O Corcunda de Notre Dame". Muitas pessoas falam sobre o estilo descritivo do autor e como ele torna certas passagens de seus livros cansativas. Embora eu goste desse estilo nos outros dois livros, preciso dizer que nesse, as descrições excessivas desviaram a minha atenção e me desmotivaram bastante.
Boa parte do livro é composta de descrições psicológicas sobre os personagens e descrições físicas sobre lugares, especialmente no início. Para ter uma ideia sobre como isso atrasa a história, o acontecimento que move a narrativa, isto é, o naufrágio da Durande, só é contado depois de 150 páginas de apresentação de personagens. Depois disso, a história passa a ter mais ação, e acompanhamos o trabalho de Gilliat na mais absoluta solidão, enfrentando chuvas constantes e fome, pela esperança de se casar com Déruchette.
De modo geral, é uma história boa, porém narrada de uma forma pouco envolve, cansativa e que já não se pratica mais na escrita. Essa edição recupera uma tradução feita por Machado de Assis em 1866 e atualizada de acordo com a ortografia atual, e praticamente não tem notas de rodapé ou materiais de apoio, o que faz muita falta. Eu não leria esse livro de novo, mas para quem quiser ler, recomendo que busque uma edição mais nova, com uma tradução atual e textos complementares.
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André 24/02/2020

Victor Hugo dizia que essa obra compõe "a terceira luta que pesa sobre a humanidade" - a natureza. A primeira - a religião, presente em "O Corcunda de Notre Dame" e a segunda - a sociedade, presente em "Os Miseráveis". O livro tem início com descrições do local e dos personagens isoladamente e a medida que se vai desenvolvendo a história a vida dos personagens vão se encontrando entre as relações humanas, relação criador-criação e humano-natureza, especificamente o mar que circunda a Ilha de Guersney, onde o autor passou parte de sua vida exilado. O personagem Gilliatt enfrenta os desafios do mar motivado por um propósito que assim como na sociedade e na religião, tornam cada etapa de perdas e ganhos uma contribuição para a evolução humana.
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Julia 10/02/2020

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"O homem é o paciente dos acontecimentos. A vida é um perpétuo sucesso, imposto ao homem. O homem não sabe de que lado virá a brusca descida do acaso. [...] Nada pode ser previsto. Vivemos de atropelo. A consciência é a linha reta, a vida é o turbilhão. O turbilhão atira à cabeça do homem caos negros e céus azuis. A sorte não tem a arte das transições. Às vezes a vida anda tão depressa que o homem mal distingue o intervalo de uma peripécia a outra e o laço de ontem a hoje." (p. 348)

Primeiro livro que li do Victor Hugo, e que automaticamente despertou meu interesse em ler outros. O livro não apenas apresenta uma história fantástica, mas também impressiona pela eficiência do autor para contar essa história. O livro se divide em seções relativamente curtas, que o autor vai costurando pouco a pouco para montar um quadro completo e bem amarrado. Desta forma, prende o leitor do início ao fim, instigado a prosseguir com a história, ao mesmo tempo em que mal percebe o quanto está avançando no livro. Contando com os capítulos curtos (em média 10 págs), a cada "só mais um pouquinho" quase não se dá conta de que o livro está chegando ao fim. Livro incrível, ganhou um espaço entre meus favoritos!
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Anienne 10/11/2019

Os Trabalhadores do Mar
Ao ler esse livro, corre-se o perigo de achá-lo monótono e até enfadonho.

O livro divide-se em três partes: a primeira conta sobre o lugar, Guernesey, uma ilha do arquipélago anglo-normando da Mancha, além de descrever a vida de seus habitantes; a segunda parte vai trazer com mais detalhes o personagem principal Gilliat e seu feito heróico, esta foi a mais cansativa para mim e a terceira é um fechamento, na qual Victor Hugo traz uma certa dramaticidade, percebida também por mim, em "O corcunda de Notre Dame".

A história acontece na primeira metade do século XIX, o que é muito diferente da atualidade e como estou numa vibe muito interessante para ler sobre a vida e o viver de verdade, no duro (hehe), agradou-me bastante, pois é algo que está bem distante da minha própria realidade. Gosto de mergulhar nesses mundos opostos ao meu, talvez por buscar meu ponto de equilíbrio, meu fluir, equilibradamente, com a vida. Isso é uma questão bem pessoal, enfim...

O livro é leve e toda a história segue numa só melodia. E até o final, que tem esse tom mais dramático, consegue ser delicado e tranquilo.

"Na viagem da vida, a ideia é o itinerário." (Os trabalhadores do mar, Victor Hugo).
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Le 25/09/2019

Os trabalhadores do mar Victor Hugo
Eu sou suspeito para falar de Victor Hugo já que em Os miseráveis me apaixonei perdidamente pela narrativa do autor. Nesta obra, Victor nos leva a uma viagem pelos mares da França, mais uma vez, não se tem um tema definido, há aventura, romance e uma pitada de horror, com o 'polvre' ou como conhecemos na cultura pop, o 'kraken', que desespera todos os navegantes em alto mar. Uma coisa que me incomodou foi o jargão maritímo usado no texto, tem muitas palavras usadas em embarcações, e quem não conhece nada, como eu, acaba se perdendo aqui e ali, mas nada que tire meu apreço para mais essa excelente obra do autor.
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Jorge.Lira 24/08/2019

O livro é bom, mas necessita de uma nova tradução com linguagem atualizada.
O livro é muito cansativo pelo uso de metáforas e delongas em demasia na descrição de pequenos e grandes detalhes, além de ser usado muitos termos técnicos sobre navios, mares e navegação. Além da linguagem rebuscada, acredito que a tradução de Machado de Assis com linguagem de épocas passadas contribui para tornar muitos trechos longos e enfadonhos, apesar de que no todo ser um bom livro. Devo dizer que uma nova tradução adaptada à linguagem atual seria muito bem vinda.
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Natália | @tracandolivros 20/04/2019

Decepção define o que eu senti lendo ele depois de ler Miseráveis
Há muitos anos, uma mulher desconhecida e uma criança, que ninguém sabia se era seu filho ou não, chegaram em Guernsey. Esta mulher sempre foi isolada, e taxada como bruxa. O menino cresceu, e com o tempo passado a mulher morreu, deixando tudo o que tinha para ele. Este homem era Gilliat.

Gilliat cresceu sendo tão julgado quanto sua mãe. Também imaginavam que ele era um feiticeiro, pois ele conseguiu pescar peixe em época e em lugares onde outros pescadores não conseguiam, entre outros motivos. E na parte de sua vida contada no livro, é o momento em que ele se apaixona por uma moça que não está ao seu alcance. Assim sendo, ele faria qualquer coisa para poder tê-la como sua esposa, e esta oportunidade enfim aparece.

A escrita do Victor Hugo é excepcional, porém à mim ela não agrada. Muitos são extremamente apaixonados pela riqueza de detalhes, e devaneios que ele percorre, contudo, eu não gosto. E nesse livro eu senti muito isso, algo que em Miseráveis também existia, mas não em tanto grau. O protagonista mal aparece até metade do livro, o início todo gira em torno de outros.

Após este ponto da escrita, digo que outro ponto que não me agradou de forma alguma foi o final. Ao terminar eu falei “Sério que li tudo isso apenas para terminar assim?”. Fiquei completamente incrédula com o fim.

Entretanto, não estou dizendo que este seja um livro ruim, ele contém pontos de críticas à sociedade bem relevantes. Eu li este livro em grupo, e devo dizer que dos dez que estão lendo, apenas eu e mais um não gostamos do livro em si. Então não levem que só porque o livro não funciona comigo ele não irá funcionar com você. Se você já leu algo do Victor Hugo e ama a escrita dele, ou já leu outro autor que fica tendo seus devaneios e não se importa com isso, com certeza irá adorar este livro. E mesmo o final eu vi muitas pessoas que amaram.

Minha conclusão é basicamente, se achas que vai gostar, só leia. Mas se és como eu, e não gosta de tanta enrolação, passe longe.

site: https://www.instagram.com/p/BdSeRqjAJZv/
Thaianne 01/07/2019minha estante
Nem cheguei ao final, e o título da sua resenha já me contempla hahaha... Eu até gostei da maior parte dos devaneios dele em "Os Miseráveis" (talvez porque no final eu sentia uma conexão, mínima que fosse, com o resto da trama), mas aqui estou me sentindo arrastando como um barco à deriva com vento contrário kk


Natália | @tracandolivros 01/07/2019minha estante
Exatamente, mas isso é porque tu ainda não chegou no final então, porque o final da ainda mais essa sensação te ter se perdido tudo, eu fiquei muito triste e decepcionada com esse livro.


EstantedaLili 30/10/2020minha estante
Sou como você é confesso que após um tempo passei a pular as descrições excessivas. Mas é uma boa história afinal.




Rafaela 19/03/2019

"Mas são exatamente os livros que a gente não lê os que mais condenam." (p.31)

"O sono está em contato com o possível, que também chamamos de inverossímil. O mundo noturno é um mundo. A noite é um universo. [...] então, naquela cabeça adormecida, menos inerte do que se crê, abrem-se outros olhos, aparece o desconhecido. As coisas sombrias do mundo ignorado tornam-se vizinhas do homem, ou porque haja verdadeira comunicação, ou porque as distâncias do abismo tenham crescimento visionário; [...] todo esse mistério que chamamos de sonho, e que não é mais que uma aproximação de uma realidade invisível. O sonho é o aquário da noite." (p.42 - 43)

"Quando os olhos se enchem de um excesso de beleza e de luz, fechá-los é voluptuosidade." (p.44)

"O corpo humanos é talvez uma simples aparência, escondendo a nossa realidade, e condensando-se sobra a nossa luz ou sobre a nossa sombra. A realidade é a alma." (p.57)

"São singulares as solidões da água. É o tumulto e o silêncio." (p.141)

"Apresentava uma harmonia e um contraste, isto é, tinha uma alma que parecia feita para a paixão e um corpo que parecia feito para o amor." (p.178-179)

"O vento é cheio desse mistério. Do mesmo modo o mar. Também ele é complicado, debaixo das suas vagas de água, que se veem, há outras vagas de forças, que se não veem. Compõe-se de tudo. De todas as misturas, a do oceano é a mais invisível e mais profunda." (p.199)

"Nada se compara à timidez da ignorância, a não ser a sua temeridade. Quando a ignorância começa a ousar é que tem uma bússola consigo. Essa bússola é a intuição da verdade, mais clara às vezes num espírito simples que num espírito complicado." (p.230)

"Se não há nada que brilhe debaixo da pálpebra, é que nada há que pense o cérebro, é que nada há que ame no coração." (p.236)

"Os teimosos são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza." (p.236)

"O homem, diante da noite, reconhece-se incompleto. Vê a obscuridade e sente a enfermidade. O céu negro é o homem cego. Entretanto, com a noite, o homem abate-se, [...], para um buraco, ou procura asas. Quase sempre quer fugir a essa presença informe do desconhecido." (p.237)

"A noite [...] é o estado próprio, normal da criação especial de que fazemos parte. O dia, breve na duração como no espaço, é apenas uma proximidade de estrela." (p.238)

"Essa luz é um foco, esse foco é uma estrela, essa estrela é um sol, esse sol é um universo, esse universo é nada. Todo universo é zero diante do infinito." (p.238)

"Uma eternidade possível sentir na prodigiosa vaga desse silêncio universal a obstinação insubmersível do eu! Contemplar os astros e dizer: 'Sou uma alma como vós!' Contemplar a obscuridade e dizer: 'Sou um abismo como tu!'." (p.241)
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Phillipe 03/03/2019

Os trabalhadores do mar
Um dos melhores épicos, sem dúvida merece estar em sua estante, mexe com suas emoções, tem personagens ótimos e linda história
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monique.gerke 21/06/2018

Se não fosse o personagem Gilliat...eu teria me afogado nessa leitura!
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Daniel Fessler 24/01/2018

O sonho é o aquário da noite
Meu livro favorito em todos os tempos. Não há uma linha sobrando, faltando ou fora de lugar. Victor Hugo domina as palavras de uma maneira que nunca vi igual. Creio que a tradução de Machado de Assis, outro gigante, só torna a experiência ainda mais impressionante.
O livro tem passagens que me comovem só de lembrá-las e que jamais sairão da minha memória, não apenas por seu significado, mas pela maneira como o autor as escreveu. A cena final do livro está gravada na minha mente de maneira quase cinematográfica.

Paro por aqui. Sinceramente, não vale a pena fazer uma sinopse da trama: isso já foi feito em diversas resenhas, de maneira muito mais competente do que eu seria capaz. Minha resenha, na verdade, é quase um agradecimento público ao maior dos escritores franceses, por ter, sem nenhum exagero, causado um impacto definitivo na minha vida.
schmidt 26/02/2018minha estante
"Os Trabalhadores do Mar" tambem é meu livro preferido, voce disse tudo no seu 1o paragrafo. Parabens pelo poder de sintese.


Daniel Fessler 28/02/2018minha estante
Agradeço pelas palavras, Schmidt. Um abraço.




....8 22/02/2017

A primeira vez que li o romance achei sublime e fiquei impactado com o enfoque altruísta, tornando Gilliatt um de meus personagens favoritos. Me identificava com a disposição desapegada e isso fortalecia o que já existia, pensava e me dispunha em relação a abnegação. Penso que o enfoque do romance é esse, de valorização humanista, se importando com o próximo e rompendo com egoísmos. Victor Hugo estava em exílio e o contexto de época talvez explique essa percepção.
Interessante que o altruísmo está presente também em outras obras. Não sei o espaço e nem as circunstâncias entre uma e outra, mas trazem percepção de mundo diferenciada nos protagonistas (diz aí se Gilliatt não tem algo de Jean Valjean, e vice-versa, o mesmo em relação à Quasímodo).

Na leitura atual, mais de dez anos após a primeira, a visão foi diferenciada. Existe o altruísmo, mas existe também um lado nada nobre ou atrativo que até então fugira de minha percepção. O romance mostra conformismo, desistência e entrega à derrota que, no caso de Gilliatt, culmina no suicídio. Uma autodepreciação que joga por terra sua luta e vitalidade tão extraordinariamente descritas. O trabalhador venceu o mar em diferentes tribulações, mas deixou-se naufragar no mar da desilusão. Parece até uma frase poética, mas é horrível, em atitude e consequências.

Para essa resenha não parecer tão idiota no meu jeito, às vezes, passional de me envolver com a leitura, vou registrar que o romance começa a embalar mesmo a partir da segunda parte, quando a vitalidade, a luta, o ideal, a esperança e a determinação tomam conta de Gilliatt. O texto torna-se mais objetivo e interessante, quando até então se desenrolava de maneira dissertativa enfadonha.
O duelo com o polvo é espetacular, afinal, não é só um molusco, é um "pieuvre", que na descrição do autor tem ares lendários, aterrorizantes dos sete mares, como um kraken. O bicho aos poucos vai dando seus ares, fosforescendo na água, cercando nas entrelinhas, até o embate. Achei sensacional.

Reiterando, o caminhar da história a seu desfecho fez com que, agora, tivesse outra percepção do protagonista. Eita! E pensar que ele me veio à mente em certos momentos, como uma inspiração, e que por abnegação fui capaz até de mudar de congregação por conta de sentimentos... Ah, o altruísmo é capaz de fortalecer, mas não destruir a pessoa. O egoísmo que foi renunciado acabou imperando na decisão final.
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Lucas 29/07/2016

Como uma onda no mar...
Um romance de exílio possui uma particularidade que o separa dos demais: exalta-se em seu contexto narrativo o sentimento, normalmente dramático e incerto, carregado pelo autor nesta situação. Há na narrativa traços que evidenciam a saudade de casa, a solidão reprimida e a observação e contemplação do asilo do refugiado. É especialmente este último traço que sustenta toda a narração de Os Trabalhadores do Mar, lançado em 1866 por Victor Hugo.
A obra entra nesta categoria de romance, pois foi elaborada durante o exílio de Hugo na ilha de Guernesey (ou Guernsey, de acordo com as referências mais atuais), situada em um arquipélago no Canal da Mancha. Contrário ao governo de Napoleão III e favorável a ideias democráticas, Victor Hugo iniciou seu exílio em 1855 e lá ficou por 15 anos. Neste período, concluiu a construção de sua obra-prima, Os Miseráveis (1862) e 4 anos depois lançou Os Trabalhadores do Mar, como uma homenagem a seus anfitriões, como bem é retratado antes do início da história.
A edição da Cosac Naify, lançada em 2013, é impecável em termos estéticos e literários. Uma caixa rígida azul reveste o livro e há um excelente texto introdutório da Profª Barbara Freitag Rouanet, além de um outro texto do autor após o fim da narrativa. Antes da história iniciar, a edição trás um texto do próprio Victor Hugo, descrevendo praticamente tudo o que cerca a ilha de Guernesey, desde os abalos cataclismos que a fizeram surgir até a população daqueles dias, que estava ficando cada vez mais britânica e menos normanda (a região é controlada pela coroa britânica desde o século XIII. Atualmente, a influência inglesa é muito mais forte que a francesa, apesar de o arquipélago situar-se a menos de 50 km do litoral da França). Este texto (longo, de quase 100 páginas) descreve também a presença das outras ilhas do arquipélago, como Serk e Jersey. Se o leitor já leu Os Miseráveis sabe que Hugo é extremamente minucioso e detalhista em suas análises e descrições: tudo, sob a influência de sua pena, adquire um caráter filosófico. Quando o futuro leitor descobre que o livro foi escrito por Victor Hugo nestas condições (em uma ilha isolada não muito conhecida pelo povo não-europeu, tendo a infinidade do mar como pano de fundo e situando a história 40 anos antes, na década de 1820), já é possível antever o quanto a narrativa é minuciosa. Esta “minuciosidade” cansa em alguns momentos, especialmente no primeiro terço da história. A narrativa é lenta, arrastada, com poucos diálogos e muitas descrições.
Contudo, a história vai se desenrolando e, após este primeiro terço, fica bem mais interessante, voltando a um certo “marasmo” no terço seguinte. De certo modo, a narrativa é como ondas no mar: ora mais agitada, ora mais calma, mas sem perder o fascínio. Em resumo, Os Trabalhadores do Mar conta a história de Gilliatt, marinheiro misterioso que se apaixona por Déruchette. A moça é “filha” de Lethierry, armador e comerciante, proprietário de uma inovação na época, um barco a vapor. Este barco corre perigo (por motivos que não podem ser citados aqui) e Gilliatt se propõe a salvá-lo. No quarto final da primeira parte (o livro tem três partes), há uma grande reviravolta, que contribui decisivamente para a redução do caráter monótono da narrativa. A editora manteve a tradução de Machado de Assis, lançada no Brasil quase que imediatamente após o lançamento na França. Esta tradução, no entanto, não é nem um pouco “rudimentar” em relação aos padrões atuais do português; a linguagem é idêntica a de outros clássicos estrangeiros.
Paciência é, sem dúvidas, o atributo mais marcante que o leitor deve ter ao se aventurar nesta obra. O enredo é uma ótima mistura de romance, aventura e drama, permeado com infinitas digressões, muitas delas com grande carga filosófica. Quem gosta ou conhece a escrita de Hugo é ciente de que a polidez e o detalhamento de suas descrições trazem verdadeiros ensinamentos a quem passa os olhos por suas linhas. Ele era um autor de pensamentos, não de frases; seus ensinamentos eternos, sutilmente colocados na narrativa e em suas reflexões, eram compostos por parágrafos, e não por simples enunciados de algumas palavras. Esta característica, por sinal, é a maior nuance de suas exaustivas descrições: a qualquer momento, o leitor é abatido por uma reflexão com substância e sentido eternos.
Assim, Os Trabalhadores do Mar é um belo romance, nos padrões “hugoanos”. Quem nunca teve contato com o texto e estilo narrativo do escritor/poeta/dramaturgo/político Victor Hugo vai, certamente, se assustar com a minúcia em alguns momentos. Mas a leitura da obra é recomendada, sobretudo em função do desfecho, alvo de algumas críticas, mas, inegavelmente surpreendente, e dos ensinamentos expostos nas reflexões e da história contada, que é repleta de drama, idas e vindas. A chave é paciência: a narrativa pode cansar, mas ensina muita coisa, tocando na alma em vários momentos.
arielma 28/11/2017minha estante
Ótima análise!




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