CinMeireles 31/03/2024
Em O Corcunda de Notre Dame, o personagem principal é a própria cidade de Paris: com o título original, muito mais apropriado, de Notre Dame de Paris, 1482, a obra é uma ode à arquitetura da Paris medieval, além de um manifesto de Victor Hugo sobre a importância da preservação dos edifícios históricos e uma crítica ao estilo arquitetônico moderno.
Diversos personagens giram ao redor da cidade e da catedral, com suas histórias se cruzando e se misturando ao local, cada um deles servindo como estudo dos habitantes da Paris de 1482 - e, consequentemente, da Paris de todas as épocas. Com uma narrativa bem-humorada e sarcástica, Victor Hugo faz um estudo profundo das nobrezas e vícios da natureza humana.
Entre os personagens de Victor Hugo, não há bons e maus, culpados e inocentes: todos os personagens são profundamente humanos, com todas as nuances que isso implica. As vítimas de um momento se tornam os algozes de outro, e se, em outras obras, a pureza e a inocência são virtudes, aqui elas são o instrumento da ruína. Não há perdão para aqueles que não são capazes de entender o mundo e se adaptar a ele.
As descrições arquitetônicas são riquíssimas e, mesmo para aqueles que não gostam de obras descritivas, é impossível não admirar a forma como o autor constrói a cidade em suas páginas. Igualmente deslumbrante são as profundas reflexões sobre a importância da arquitetura como forma de preservação não só da história, como do próprio pensamento social de uma época, canalizado e tornado sólido pelo artista - o arquiteto - que a projetou.
O Corcunda de Notre Dame é uma obra ao mesmo tempo densa e leve, profunda e deliciosa de se ler. Seus personagens são capazes de provocar fortes emoções no leitor, que ora os ama, ora os odeia; e é impossível finalizar a leitura sem ser impactado pela escrita de Victor Hugo.
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