Gabriel Abib 30/12/2023
DJALI NÓS TE AMAMOS
Leitura interessante, tende a ser frustrante pois constantemente quebra o ritmo, e se você não leu nada do autor antes vai ficar bem incomodado com os capítulos descritivos/históricos falando de arquitetura ou passado, que não estão conectados com a grande trama.
É diferente do que eu lembrava dos filmes na infância, não fazia ideia do personagem do poeta, a figura central de boa parte da história, e que é relativamente carismático (pelo seu afeto a cabritinha, principalmente). Apesar de não ser extenso, é arrastado, sendo somente no final derradeiro com revolta+rei Luis XI+Desfecho que a narrativa cria corpo, acelerando até a conclusão. Várias vezes durante a história há pausas, acompanhando viúvas, irmão do antagonista e outros contratempos.
O final é visceral, uma verdadeira tragédia, cheio de mortes e um desfecho melancólico. Apesar de tudo, Victor Hugo é Victor Hugo, se deixa a desejar na condução e também na trama, acerta em cheio na descrição dos fenômenos da época, expondo a sociedade parisiense como ele é especialista. O tratamento aos pobres, a forma como os miseráveis são retratados, e a cereja do bolo, o sinismo do rei (grandissísimo canalha!), os julgamentos e inquisidores, as mulheres acusadas de feitiçaria e vulgaridade, o preconceito com a cultura nômade cigana, inclusive as condenações aos própios animais (eu ri quando chamaram a cabrita pra depor, achei fofo ela realizando seus truques achando que ia agradar, e me indignei quando vi sua pena, tal qual o poeta, ao compreender o que esperava Djali), a burguesia das famílias da época e dos oficiais militares, e a falência moral dentro da igreja, conflituosa e perversa, representada pelo personagem do Frollo.
Um clássico, muito longe de ser marcante como muitos outros (Os Miseráveis inclusive, que tem uma trama muito mais interessante e tão trágica e críticismo social quanto essa), mas um bom livro que vale a pena a sua leitura.
OBS: Não entendi as ilustrações dessa edição, diferente da bonita capa ao longo do livro só ocupam papel, e raramente complementam algo de forma valiosa ou são objetos imagéticos que dispensam o uso de discrição. Elementos pictóricos que sequer belos são, parecem ser só para encarecer o livro.