Descontrolados 22/01/2014
Um incêndio sempre deixa um rastro de cinzas
“O fim da guerra do Mundo Emerso está muito próximo. E alianças inesperadas podem fazer toda a diferença. Dubhe e Lonerin tiveram sucesso na busca pelo mago Senar, mas, de volta das Terras Desconhecidas, os jovens são novamente enviados em perigosas missões. Em Um novo reino, terceiro volume da série As guerras do Mundo Emerso, Licia Troisi separa seus heróis em missões distintas. Dubhe e Lonerin partem em caminhos diferentes em novas aventuras em busca de uma solução para o fim do conflito.”
“A morte é convidativa para um espírito cansado, e as lisonjas que mostra fascinam. Senar sabia que era justamente esta a última prova que o jovem mago tinha que enfrentar. Superar aquela tentação, voltar a vestir o peso da carne e aceitar o sofrimento dele decorrente.” – Pág.411
Eu terminei de ler esse livro e sabia que precisava resenha-lo. Na verdade nem tinha terminado e sabia que era demasiadamente digno de uma resenha. Ai agora cá estou eu, sem ter ideia de como começar a falar sobre ele.
Eu vou começar dizendo o quanto eu tiro o chapéu para essa autora que fez o que todo fã amaria que mais autores fizessem: criar um mundo e explorá-lo várias vezes, sem nos deixar de fato “órfãos” daquela história que amamos. Para os fãs das Crônicas do Mundo Emerso: nós vemos Senar, Ido e até um pouquinho de Nihal nesse livro.
Agora vamos ao livro em sí…gente que livro incrível. Nele viajamos com três grupos distintos: Dubhe e Theana que vão atrás de Dohor, o Rei, para mata-lo e assim libertar Dubhe de sua terrível maldição; Lonerin e Senar, que vão atrás do Talismã do Poder que vai ajuda-los a deter a volta de Aster para o Mundo Emerso. E Ido e San, que apenas viajam para longe para que San esteja a salvo da guilda e possa aprender a controlar seus poderes.
“Os heróis envelhecem e perdem as esperanças, as florestas secam e tudo, mais ou mais tarde, desaparece.” – Pág.322
O interessante foi a divisão que foi feita dessas três frentes. Todos sabemos que o livro é protagonizado por Dubhe e isso não deixa de ser verdadeiro nesse último volume. Com sua técnica perfeita de intercalar capítulos, Licia conseguiu dosar perfeitamente a quantidade de Dubhe que queríamos ler, com a quantidade de Lonerin, Ido e todos os outros. Claro que com capítulos sempre se encerrando de forma dramática para dar aquela ansiedade e aquele gostinho de quero mais.
O livro é basicamente impossível de largar depois dos capítulos iniciais. Pra mim, muito disso foi por causa da aparição como personagem importante do Príncipe Learco, que mostrou possuir uma profundidade e um caráter sem tamanho. Licia facilmente poderia se render ao estilo Stephanie Meier e reescrever a história toda pelos olhos dele sem perder prestígio e criando um livro magnífico.
Outra coisa que prende muito ao livro: uma reviravolta na vida romântica de Dubhe, que todos sabemos pelo primeiro e segundo volumes estar muito caidinha. Era óbvio que o caso que ela teve em As Duas Assassinas não teria rendimento devido a uma incompatibilidade de gênios. Apesar de eu ter sido divertido acompanhar o desenrolar de tudo, o desfecho que tivemos era quase que inevitável, principalmente por causa daqueles sentimentos que ela ainda superara.
“Não pode pedir que passe por cima daquelas lembranças. Um incêndio sempre deixa um rastro de cinzas.” -Pág.358
No geral, todos os personagens evoluem muito nesse último livro. Além de um desfecho, ele dá um amadurecimento para a história ao longo dos capítulos. Para mim isso foi sensacional, porque eu mesma amadureci muito entre o segundo volume e esse. Theana finalmente sai da sua zona de conforto em busca de aventuras. Lonerin tem grandes ensinamentos em seus tempos com o mestre Senar. Dubhe…bom, ela basicamente se reinventa durante esse cenário da batalha final se aproximando. San cresce muito, mas continua sendo um pouquinho chatinho. Até mesmo Ido e Senar aprendem e amadurecem muito.
É um livro triste por certos motivos, mas que tem duas lições muito importantes: a primeira delas é o perdão. O perdão aos inimigos, aos amigos que cometem erros e principalmente, o perdão a sí mesmo. E a segunda delas: o amor é capaz de mudar todos, para melhor ou para pior.
No quesito ação o livro também não deixa a desejar. A batalha final é bem trabalhada e destrinchada durante vários capítulos. Nada daquilo de uma batalha de um capítulo e todos felizes. Negativo, acompanhamos todos os personagens garantindo seu punhado de vingança contra a guilda e o desenrolar é bastante gradual. Exatamente como o drama que vem se desenrolando gradativamente ao longo do livro para atingir seu ápice no final, temos pequenas lutas para nos manter no clima e o ápice na cerimonia da guilda. Temos muito sangue, muitas mortes (algumas melhores que outras) e muito da Dubhe sendo a assassina incrível que ela é.
“A necessidade de certezas leva os homens a gestos extremos, e quando encontram alguma coisa na qual crer não deixam nem mesmo a morte contradizê-los.” – Pág.383
Acho que não tenho mais o que dizer que não possa ser resumido na palavra: sensacional. Eu vou levar essa história comigo por ainda muitos anos da minha vida, mas esse livro em especial vai ser o que vai ficar guardado com mais intensidade. E eu acredito que muitos dos leitores de Guerras do Mundo Emerso pensam a mesma coisa. É um daqueles livros que não são apenas mais um na estante, mas um daqueles que ocupa espaço no coração e até mesmo muda um pouco sua forma de ver o mundo. E devo acrescentar que a capa é simplesmente linda. Vivo repetindo que se tivesse coragem eu tatuaria ela.
Fecharei essa resenha com um trecho do livro:
“Renegou-me por muito tempo, espremendo-me entre coração e diafragma. Tive de respirar o ar mefítico dos lugares onde me baniu, mas nunca deixei de estar presente. Eu era o seu prazer quando matou Gornar, era a sua loucura quando se vingou. E agora estou de volta, e não poderá mais prender-me. Sou a sua essência mais profunda, o verdadeiro rosto das coisas, despido das desculpas com que se adorna ao se movimentar entre os seres humanos. Nada mais sobra, agora, só eu. A sua alma negra, a verdadeira Dubhe.” – Pág.372
Por Elisa Maghelly
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