Cristiane.Krumenauer 05/09/2019
A São Paulo do Alyrio Cobra - leitura maravilhosa!
Ambientado em São Paulo, a ficção policial da autora nos apresenta seu detetive Alyrio Cobra, contratado para desvendar o mistério em torno do homicídio de Rita. À medida que a investigação avança, a aproximação da verdade só vem a trazer mais mortes. O detetive se vê juntando peças soltas de um quebra-cabeça que, a princípio, parece sem sentido, mas sua determinação para resolver o caso é inabalável.
A descrição do protagonista é tão sutil quanto a de Philip Marlowe, de Raymond Chandler. Fisicamente, não sabemos como é Alyrio Cobra, a não ser por algumas indicações no diálogo com outros personagens ou numa discreta mirada dele no espelho. Aliás, essa inexpressividade física apenas acentua suas qualidades morais e emocionais. Com um backstory problemático (filho gerado a partir da traição da mãe + abandono da esposa e dos filhos), Alyrio encontra na agência Cobra o passatempo ideal para lidar com as próprias frustrações. Dedicado, dedutivo, intuitivo, nem por isso deixa de lado seu lado boêmio, dos cigarros, uísques, cervejas, vinho, ou o que estiver por perto, remetendo o leitor ao universo noir, cheio de cenários obscuros.
Além de um ótimo entretenimento, o leitor vai mergulhar numa São Paulo do século XIX, com os alunos da Escola de Direito - entre eles, Álvares de Azevedo (nosso poeta sublime e, sim, um exímio transtornado) e a influência dos poetas românticos nos jovens daquele tempo. No livro da autora, o Romantismo e sua tendência à melancolia, tristeza, orgias e mortes ressurge com força total, envolvendo os personagens numa atmosfera funesta e mórbida.
E a solução do caso, bem, será necessário que Alyrio Cobra se desdobre na decodificação das evidências para chegar à verdade.
Ótima leitura a todos.