Zana 12/03/2014
Não leia! ; )
As poesias de Leminski são leves, simples, plásticas, diferentes, divertidas, irônicas e fazem sorrir. Esses são só alguns aspectos, porque são muitos os adjetivos que poderiam ser aplicados a elas, mas paradoxalmente ainda faltam termos que as expliquem. Por isso fico com a definição, para mim perfeita, dos organizadores do livro, Fred Góes e Álvaro Marins:
“Samurai e malandro, Leminski ganha à aposta do poema, ora por um golpe de lâmina, ora por um jogo de cintura. Tão rápido que nos pega de surpresa; quando menos se espera, o poema já está ali. E então o golpe ou a ginga que o produziu parece tão simples que é quase um desaforo”.
De personalidade marcante, polêmico, provocador e por vezes irascível, este era Leminski. Um poeta simplesmente genial, que gerava na crítica reiteradas reações desfavoráveis. Ciente de sua natureza implicante, Leminski, redarguia a isso da melhor forma que sabia fazer:
“O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique”.
(Paulo Leminski)
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“Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?”
(Razão de ser, Paulo Leminski.)
Confesso que não li o livro, tão-somente devorei-o em um lento engarrafamento a caminho de casa. Assim, reabilitando-me por não ter saboreado as divinas poesias de Leminski com o devido vagar que elas merecem me obriguei (ou devo dizer presenteei?:) ) a prazerosamente ler tudo novamente. Recomendo que não leia, somente releia quantas vezes puder!
“O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz”.
(O que quer dizer, Paulo Leminski).